O furacão da Odebrecht: revés no mercado e bilhete comprometedor
Polícia intercepta recado em que presidente da empresa, detido, pede destruição de e-mail
Quatro graúdos executivos atrás das grades. Um réu confesso detido na operação Lava Jato admitindo que propinas foram pagas para esse grupo empresarial. A credibilidade junto ao mercado financeiro diminuída pelo rebaixamento de sua nota por uma das principais agências de análise de risco. O furacão no qual a Odebrecht se meteu ainda pode aumentar, depois que seu presidente encarcerado pediu por meio de um bilhete para seus advogados destruírem e-mails. A polícia suspeita que esses arquivos estariam relacionados a um dos contratos com a Petrobras que está sob investigação. O recado estava em uma anotação que Marcelo fez e deixou com um carcereiro da Polícia Federal pedindo que o papel fosse entregue para seus advogados.
As anotações de Marcelo Odebrecht, o presidente preso, eram claras: “destruir e-mails sondas”. O número um da maior empreiteira brasileira é investigado exatamente porque uma troca de e-mails entre ele e uma segunda pessoa, diz o Ministério Público, que ele sabia que a empresa botava sobrepreços de 25.000 dólares por dia em contratos com a Petrobras envolvendo sondas para a exploração de petróleo.
Os advogados de Odebrecht, porém foram céleres em dizer que destruir, ao contrário do que afirma qualquer dicionário da língua portuguesa, significa “desconstruir, rebater, infirmar”. E que houve uma interpretação equivocada sobre o conteúdo do bilhete, que seria usado para embasar a defesa do empreiteiro. A destruição seria no sentido jurídico, como uma resposta à tese dos investigadores, sustentam os defensores.
O furacão que atinge a Odebrecht era previsível. Quando, há sete meses, mais de uma dezena de empreiteiras foram flagradas no esquema de cartel que pilhou ao menos 6 bilhões de reais da Petrobras boa parte da classe política e de policiais já imaginava que a Odebrecht seria citada. Até os próprios executivos da empreiteira se preparavam para este momento em que a “joia da coroa” seria pega, afinal, não haveria cartel sem a maior de todas. O mesmo valia para a Andrade Gutierrez, a segunda maior empreiteira nacional.
O que Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo (este presidente da Andrade Gutierrez) não esperavam é que fossem eles os presos e que passassem mais do que alguns poucos dias detidos. Nas palavras de procuradores, ambas empresas moviam um engenhoso esquema de pagamento de propinas por meio de bancos estrangeiros e empresas offshore. O que ambos negam.
Nesta quarta-feira, Azevedo teve seu pedido de liberdade negado pelo Tribunal Regional Federal. E a Odebrecht viu sua situação se complicar com o bilhete entregue aos seus defensores e flagrado pela Polícia Federal na carceragem de sua superintendência em Curitiba. Em nota, a Odebrecht informou “lamenta que se tenha criar um incidente processual sobre uma expressão tirada obviamente do contexto”.
Para piorar a situação das empreiteira, o homem-bomba da Petrobras, o ex-diretor de abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, declarou na terça-feira à Justiça que a Odebrecht, por meio da petroquímica Braskem, pagou propinas no valor anual de 5 milhões de dólares para ter contratos com a Petrobras. A Braskem tem como principais sócias a Odebrecht e a Petrobras. O negócio teria sido intermediado pelo ex-deputado federal José Janene, do Partido Progressista. O prazo dos pagamentos ilegais não foi delimitado. As empresas envolvidas negam as irregularidades. Investigado pelo esquema, Costa tem um acordo de delação premiada e é uma das principais fontes dos investigadores.
Economia
Nesta semana, em parte como reflexo das más notícias criminais, a agência de avaliação de risco Standard & Poors anunciou que rebaixou os ratings de crédito corporativo na escala internacional da Odebrecht. A empresa caiu de BBB para BBB-. Isso quer dizer que ela se aproxima do risco especulativo e, se reduzir mais ainda nos próximos meses, passará a ser considerada uma empresa insegura para se investir. As instituições financeiras também podem começar a fechar suas linhas de crédito para ela.
A Odebrecht possui cerca de 70% de seus negócios fora do país. Atua em 21 países e tem 170.000 funcionários espalhados pelo mundo. No ano passado, segundo sua assessoria, registrou uma receita bruta de 107,7 bilhões de reais.
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