“Veta, Dilma” versus “fora Dilma” dão tom do Dia do Trabalho em São Paulo
Força Sindical pede impeachment enquanto CUT quer bloqueio da lei da terceirização
A presidenta Dilma Rousseff esteve no centro da pauta de reivindicações durante as comemorações do Dia do Trabalho em São Paulo. No centro da cidade, no Vale do Anhangabaú, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) - maior central sindical do país e ligada ao PT - liderou um ato pedindo que a presidenta vetasse a PL 4330, conhecida como lei da terceirização, que regulamenta e amplia a possibilidade de terceirizar as contratações de postos relacionados à atividade-fim no mercado de trabalho brasileiro. Enquanto isso, no Campo de Bagatelle, na zona norte, estimulados pelos políticos de oposição, trabalhadores ligados à Força Sindical - segunda maior central sindical do Brasil e que faz forte oposição ao Governo - gritavam pelo 'fora Dilma', pedindo o impeachment de Dilma Rousseff.
"Veta, Dilma", disse o presidente estadual do PT, Emídio de Souza em seu discurso. O ex-presidente Lula, ovacionado pelas 50.000 pessoas que estavam ali, segundo a CUT, iniciou seu discurso argumentando contra a lei da terceirização também. Usando como base dados do Dieese, falou sobre a alta rotatividade, a carga maior de trabalho e os salários mais baixos dos trabalhadores que já são terceirizados, comparados aos registrados. Fora do palco, no chão do Vale do Anhangabaú, poucos sabiam exatamente do que se trata a PL 4330, mas todos se diziam contra. Os argumentos foram de que a nova lei iria demitir e cortar os direitos dos trabalhadores.
Enquanto o tema terceirização dominou a manifestação no centro da capital paulista, na zona norte, o assunto era quase praticamente um tabu. Esse Projeto de Lei foi ignorado pelos políticos convidados pelo ato organizado pela Força Sindical, que em seus discursos preferiram atacar as medidas de ajuste fiscal adotados pelo Governo Dilma. Mesmo fora do palco, pouco se falou sobre isso – o deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (do partido Solidariedade), demonstrou irritação ao ser questionado sobre o PL. “Hoje não é dia de falar sobre terceirização”, disse o parlamentar, ao ser questionado por jornalistas.
Apesar de reproduzirem o coro do "fora Dilma" puxado por sindicalistas e políticos ao microfone, a pauta política parecia bem distante das pessoas que compareceram à festa da Força (cerca de 500.000, segundo estimativa dos organizadores). No local ocorreram shows de artistas, entre eles Leonardo, Zezé di Camargo & Luciano e Latino, além do sorteio de prêmios. Ao contrário do que se via no ato organizado pela CUT, não havia cartazes contra o PL 4330. “Acho que a maioria das pessoas não entendeu muito o que é essa lei da terceirização. O que sei é que vai ser bom para os terceirizados e que não atinge os CLTs”, disse Fábio (que não quis ter o sobrenome revelado), 36 anos, funcionário contratado pelo regime CLT em uma empresa de vestuário. Outras pessoas ouvidas pela reportagem na zona norte também admitiram saber pouco sobre a terceirização, embora alguns sindicatos ligados à própria Força sejam contrários ao projeto. Tanto entre os sindicalistas, quanto entre parte dos sindicalizados, o foco era temas como desemprego preocupação com as medidas provisórias (MPs) 664 e 665 (leia abaixo).
Aos jornalistas, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos principais promotores do projeto, atacou a CUT por se posicionar contrária à terceirização. “A CUT usou o PT para fazer um debate equivocado, já que o projeto da terceirização não causa qualquer prejuízo ao trabalhador. Pelo contrário, reconhece direitos. E a CUT politizou esse processo”, disse. Ele ainda cobrou “cautela” de Rousseff, que se posicionou contra o coração do projeto, que é a possibilidade de terceirização das atividades . “A presidente da República tem que ter cautela. Ela não é sustentada somente pelo PT, mas por outros partidos. [...] O Governo tem que ter a posição da maioria de sua base. É muito importante que a pauta do PT não seja a pauta do Governo”, alfinetou ele, que disse ainda que, mesmo que ela vete, quem terá a palavra final é o Congresso. Por sua vez, o senador e líder do PSDB Aécio Neves (MG), disse que o partido pretende “propor um limite para que as empresas possam terceirizar alguma das suas atividades”, ao ser questionado.
No palco, o presidente da Câmara ignorou o assunto, mas anunciou que apresentará um projeto, em regime de urgência, para corrigir o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) pelo índice da poupança. Se aprovado, o projeto terá um forte impacto nas contas públicas – o que desafia o Governo, que tem anunciado uma série de medidas de contenção de gastos. “O projeto que vai tramitar em regime de urgência, sendo apresentado semana que vem, vai ter o trancamento de pauta do ajuste fiscal. O critério é muito cauteloso, não está se mexendo em nada até o fim de 2015”, disse o peemedebista.
Enquanto Aécio Neves foi bastante aplaudido ao criticar a gestão atual – que classificou como a “mais corrupta da história”-, as palavras de Cunha pareciam não surtir efeito no público, que reagiu sem entusiasmo: nem palmas, nem aplausos para o presidente da Câmara.
"Fora Dilma"
A ausência da presidenta Dilma nos eventos organizados pelas centrais sindicais não passou desapercebido na zona norte. O presidente da Força Sindical, Miguel Torres, disse ao público que a mandatária não compareceu à festa, mas “mandou um presente”: no palco, ele abriu uma caixa com embalagem de presente da qual tirou cartazes com frases como “ajuste fiscal” e “desemprego”. Já o deputado Paulinho da Força, cujo partido (o Solidariedade) colocou um exército de pessoas uniformizadas no evento para recolher assinaturas pelo impeachment da presidenta, puxou um coro de “fora Dilma” (que foi seguido), a quem ele chamou ainda de “desgraçada”: “Vai para o inferno, Dilma!”, disse o deputado federal, aplaudido.
Ao microfone, Aécio disse que Dilma não teve coragem de encarar a população e que, por isso, optou por fazer pronunciamentos divididos em vídeos. A frase também foi repetida aos jornalistas. “Este primeiro de maio vai ficar lembrado como o dia da vergonha. O dia em que a presidente da República se acovardou e não teve a coragem de dizer aos trabalhadores brasileiros porque eles é quem vão pagar o preço mais duro deste ajuste”, afirmou o líder tucano.
A presidenta foi representada na zona norte pelo ministro do Trabalho e Emprego, Manoel Dias (PDT), que aos trabalhadores que acompanhavam a festa rebateu timidamente as críticas, disse que o Governo não aprovará projetos que causem a “precarização dos trabalhadores” – apesar do clima anti-Dilma, sua fala foi aplaudida. Ao chegar ao evento, ele negou que a ausência presidencial a opção por não fazer um pronunciamento em rádio e TV tenha relação com um eventual medo dos panelaço. “Quem sofreu, quem foi torturada, quem enfrentou a ditadura como ela, vai ter medo de panelaço?”, disse.
No ato da CUT, lideranças também cobraram uma posição da presidenta. "A presidenta tem que ir à TV e falar para 100 milhões de brasileiros", disse o presidente do PCdoB, Renato Rabelo. "A senhora tem que falar com o nosso povo", afirmou.
Onde os opostos se encontram: críticas ao ajuste fiscal federal
As duas manifestações que ocorreram em São Paulo para celebrar o Dia do Trabalho marcharam em direções opostas. Tradicionalmente, um ato foi liderado pela oposição, e outro, por simpatizantes e líderes do governo petista.
Mas em um ponto os opostos se convergem: tanto no Anhangabaú quanto no Campo de Bagatelle ambos eram contra as Medidas Provisórias 664 e 665. Ambas fazem parte do pacote de ajuste fiscal proposto pelo governo Dilma para tentar restabelecer o equilíbrio econômico.
A MP 664 trata do auxílio doença e pensão por morte. O texto modifica as regras para receber esses direitos, estabelecendo uma carência de 24 meses de contribuição e exigência de, no mínimo, dois anos de casamento para ter acesso ao benefício.
Já a MP 665 modifica as regras de acesso ao abono salarial e ao seguro-desemprego. A nova norma aumenta de seis para 12 meses o período de trabalho para recorrer ao benefício pela primeira vez (a proposta inicial falava em 18 meses de carência).
"Hoje estão aqui dois homens que podem barrar essas MPs", disse Paulinho da Força, se referindo a Aécio Neves e a ele mesmo durante ato neste dia 1.
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