Por que nos comovemos com a Germanwings e esquecemos o Quênia
Facilidade de acesso à informação e proximidade são fatores cruciais na cobertura jornalística
Depois que a milícia islâmica somali Al Shabab assassinou 147 pessoas na Universidade de Garissa (Quênia), muitos se perguntaram no Twitter por que um ataque dessa magnitude não chamou tanto a atenção da imprensa como, por exemplo, o atentado do Charlie Hebdo ou a queda proposital do avião da Germanwings, na qual 150 pessoas morreram.
A nuestro mundo no parece afectarle la muerte de 147 estudiantes. Total, era en Kenia #MundosDeTercera pic.twitter.com/Pqy6JOxdOj
— EQUO (@Equo) April 4, 2015
48 horas después ya nadie habla de los 150 estudiantes asesinados en Kenia.
— Miguel Morenatti (@MiguelMorenatti) April 4, 2015
-Lo importante es la segunda caja negra! pic.twitter.com/RsqNjU229e
Insisto. Sé que Kenia queda lejos, y Garissa no es París. Pero un ataque yihadista así, con 147 universitarios muertos, es un ataque a todos
— Xavier Aldekoa (@xavieraldekoa) April 2, 2015
O jornalista Miguel Ángel Bastenier, do EL PAÍS, nos dá, também no Twitter, uma chave para entender esse fenômeno.
La información se guía por redes de poder. Por eso, 150 muertos en Kenia importan menos en Europa que 13 en París. La moral le es ajena.
— M. A. Bastenier (@MABastenier) April 4, 2015
A seção Verne conversou justamente com Bastenier em janeiro, quando, depois do atentado ao semanário Charlie Hebdo, muitos criticaram a menor atenção da imprensa à ofensiva do Boko Haram no nordeste da Nigéria. “Toda a informação é local”, explicou-nos Bastenier, “e se ecoamos notícias internacionais é pela proximidade e a vinculação que temos com esses países, além da qualidade da informação que possamos obter".
Neste artigo recordávamos a “hierarquia da morte”, um termo usado pelos meios de comunicação anglo-saxões para descrever como e por que damos mais cobertura a algumas vítimas em detrimento de outras, especialmente no noticiário internacional. Vários fatores influem nessa hierarquia, e podemos dividi-los em dois grupos: a proximidade e a qualidade da notícia.
1. A proximidade. Interessa-nos mais o que ocorre no nosso país e em países próximos, e também se houver alguma vítima do nosso país. Por exemplo, Jacoba Urist, na The Atlantic, recordava como o The New York Times publicou mais de 2.500 obituários para os mortos nos atentados de 11 de setembro de 2001, de forma análoga à que fez o EL PAÍS quando dos ataques de 11 de março de 2004 em Madri.
Essa proximidade provoca uma maior empatia da parte de jornalistas e leitores, mas também pode favorecer a confrontação, como observa a jornalista Leila Nachawati, cofundadora do site Syria Untold: “Há um posicionamento do ‘nós contra eles”, comentou.
2. A qualidade da notícia. São muitos os meios de comunicação – inclusive agências de notícias – que mantêm correspondentes ou enviados especiais em países da Europa e Américas, mas contam com menos recursos em lugares como o Quênia, a Nigéria ou a Síria, que frequentemente são mais perigosos.
Bastenier observava que um veículo com vocação global tem a obrigação de obter e publicar a melhor informação que puder, como de fato se faz no caso do Quênia, mas em muitas ocasiões esses veículos só têm acesso, no máximo, a despachos de agências. A proximidade e a facilidade de acesso à informação fazem com que se fale mais sobre o atentado na França ou sobre a queda do Airbus da Germanwings do que sobre muitos outros conflitos e incidentes.
Essa informação pior não só representa uma cobertura mais tímida de um fato como também pode levar a uma “desumanização do conflito”, ficando assim ainda mais difícil se solidarizar com as vítimas, como descreveu Nachawati.
Além disso, é preciso levar em conta que se dedica menos atenção a conflitos já em andamento, pois eles são (tragicamente) previsíveis. Como Nachawati também argumentou, vemos esses países como se estivessem em um conflito permanente, "visão que se perpetua e na qual não há intenção de aprofundar” para além dos interesses geoestratégicos dos países ocidentais: não importa tanto o que ocorre na Nigéria ou no Quênia, e sim como isso afeta os Estados Unidos ou a Rússia, por exemplo. Como recordava Owen Jones no The Guardian, nós nos esquecemos das guerras complexas em países sem peso estratégico.
Para superar tais dificuldades, Nachawati apontava a necessidade de “se aproximar da opinião pública” e fornecer informações sobre ONGs e campanhas civis. A forma de fazer isso é criando “redes de confiança, o que agora é mais fácil que há alguns anos”.
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