Grande partido opositor argentino se une à direita para as eleições
UCR concordou em apoiar prefeito conservador da capital na disputa pela Casa Rosada


O partido mais antigo da Argentina, o Unión Cívica Radical (UCR), membro da Internacional Socialista desde 1996, finalmente arrancou as pétalas da margarida que vinha regando há meses. Renunciou a seus aliados do Partido Socialista argentino, e também a uma possível aliança com o peronista dissidente Sergio Massa, e decidiu apoiar o prefeito conservador Mauricio Macri nas eleições presidenciais na Argentina que serão realizadas no dia 25 de outubro.
Os radicais têm o que nenhum candidato de oposição possui: 335 prefeitos espalhados pela imensa geografia do oitavo maior país do mundo. Ou seja, centenas de militantes em cada cantinho, uma estrutura que vai muito além da cidade e da província de Buenos Aires, além do Twitter e do Facebook, algo que só se consegue com os 124 anos de história do UCR. Mas falta algo essencial: um líder, um candidato com opções reais de vencer as eleições de 25 de outubro.
Nos últimos meses, o UCR foi se debilitando com suas perguntas existenciais: O que fazer diante das eleições presidenciais? Continuar na quase extinta aliança de centro-esquerda Frente Ampla-UNEM fundada em abril de 2014 por dois radicais e três dirigentes da oposição? Uma coalizão que nasceu ferida, desde o princípio, pela dúvida. Alguns dirigentes radicais, como Julio Cobos, defendiam aliar-se ao deputado kirchnerista Sergio Massa, do Frente Renovador. E outros, como Ernesto Sanz, se pronunciavam a favor do conservador Mauricio Macri, líder do PRO (Propuesta Republicana).
Macri e Massa são, junto com o governador peronista de Buenos Aires, Daniel Scioli, os favoritos, em todas as enquetes, para vencer as eleições presidenciais de outubro. Mas, enquanto Scioli pode contar com a estrutura e o dinheiro do peronista Partido Justicialista em sua corrida rumo à Casa Rosada, Macri e Massa não têm força logística fora da capital e da província de Buenos Aires. Seus partidos, sem eles, seriam siglas vazias. Basta dizer que o Frente Renovador (FR), de Massa, foi fundado em junho de 2013 e o PRO, de Macri, em 2005. A maioria dos argentinos nem sequer sabe que PRO é a abreviatura de Propuesta Republicana. Massa e Macri precisavam se aliar aos radicais.
Entre os peronistas circula a brincadeira de que os radicais são capazes de debater toda uma noite sobre como se deve limpar uma cidade e, na manhã seguinte, acreditar que já a limparam. Para honrar a piada, os radicais esperaram que faltassem apenas cinco meses para as eleições primárias obrigatórias de agosto para decidir a quem iam se aliar.
A UCR realizou, no sábado, em Gualeyguachú, uma convenção nacional com 330 delegados para decidir quem iam apoiar. Às 5 da manhã desse mesmo dia, venceu a proposta de Ernesto Sanz frente à de Julio Cobos por 186 votos contra 130, uma abstenção e 13 ausências. Os radicais disputarão, assim, as primárias de agosto junto com o PRO de Mauricio Macri e a Coalizão Cívica de Elisa Carrió, com plenos conhecimentos de que Macri ganhará essas primárias. E se Macri vencer as eleições presidenciais, os radicais poderão escolher a vice-presidência e ocupar alguns ministérios do Governo.
Ernesto Sanz ressaltou, em seu discurso perante os delegados, que não podiam se unir a Sergio Massa, porque “a saída do kirchnerismo não pode ser liderada por alguém que vem do kirchnerismo”. E afirmou que a coalizão com Macri conseguiria votos suficientes para a realização de um segundo turno nas eleições presidenciais, o que ocorreria em novembro.
O radicalismo ficou sem os dirigentes carismáticos que o presidente Raúl Alfonsín (1983-1989) esgotou em seu mandato. Mas, apesar disso, soube manter sua estrutura de partido. No entanto, o acordo estabelecido no domingo não acaba com as divisões dentro do UCR. O deputado Ricardo Alfonsín, filho do ex-presidente, que tinha se posicionado contra a aliança com Macri, declarou: “Com este acordo, não seremos a coluna vertebral de uma coalizão (…) Não podemos ocultar que o povo não está esperando o resultado desta convenção para ver qual radical vai ser presidente, estão esperando para ver se Massa ou Macri vão ser presidentes".