Collor é acusado por delator da Lava Jato de ter recebido 3 milhões de reais
Dinheiro seria propina paga por um contrato entre uma rede de postos e a BR Distribuidora

A caixa de Pandora do caso Petrobras, de onde sairão os nomes dos envolvidos na corrupção da estatal, deve permanecer fechada até a próxima sexta-feira, quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentará uma denúncia formal. Mas, nomes importantes da política brasileira já começam a vazar dela com mais força. Desta vez, o ex-presidente Fernando Collor de Mello, atual senador pelo PTB de Alagoas, aparece como o receptor de 3 milhões de reais, que seriam oriundos de propina paga por um contrato com a BR Distribuidora, uma subsidiária da petroleira. É a terceira vez que o nome do senador aparece na investigação, mas é a primeira em que há detalhes de como teria sido a participação dele no esquema.
Segundo o jornal Folha de S.Paulo desta terça-feira, o ex-presidente foi apontado pelo doleiro Alberto Youssef, em um depoimento dado entre outubro e novembro do ano passado à força-tarefa da Operação Lava Jato, como o destinatário do dinheiro. O valor teria sido pago, segundo o doleiro, em 2012, em troca de um contrato de 300 milhões de reais feito entre uma rede de postos de combustíveis e a BR Distribuidora. A versão de Youssef foi repetida neste mês, em depoimento à Procuradoria-Geral da República.
O dinheiro teria sido entregue ao operador do esquema, o empresário Pedro Paulo Leoni Ramos, amigo pessoal de Collor e ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos durante o Governo do ex-presidente (1990 e 1992). Ramos também é investigado pela Operação Lava Jato por um repasse de 4,3 milhões de reais feito por uma de suas empresas para a MO Consultoria, de Youssef. Quando era ministro do Governo Collor, ele foi acusado de envolvimento em um esquema da Petrobras, mas nada foi comprovado na época.
Segundo o doleiro Youssef no depoimento citado pelo jornal, todos sabiam que Ramos era um emissário do senador e que a propina em troca do contrato, paga em três parcelas de um milhão em dinheiro vivo, seria entregue a Collor. Youssef, no entanto, não explicou de que forma isso teria sido feito, nem especificou nomes de diretores da BR Distribuidora supostamente envolvidos no esquema. Collor é o líder do PTB no Senado. O partido manteve entre 2009 e 2013 dois diretores na BR Distribuidora – José Zonis, na área de Operações e Logística, e Luiz Claudio Caseira Sanches, na Diretoria de Rede de Postos de Serviço. Fontes do jornal afirmam que Zonis foi indicado diretamente pelo ex-presidente.
Em um segundo depoimento dado na Procuradoria-Geral da República neste mês, Youssef afirmou ainda que mandou entregar mais 50.000 reais em dinheiro no apartamento do senador. A entrega teria sido feita por Rafael Ângulo Lopes, emissário do doleiro, que também se beneficia do acordo de delação premiada.
A Polícia Federal já havia encontrado no escritório de Youssef oito comprovantes de depósitos para Collor, que totalizavam 50.000 reais, fato divulgado pela imprensa no início do ano. O senador negou qualquer participação no esquema. Em nota, Collor afirmou nesta terça-feira que "rechaça o teor da matéria" e que as "informações padecem de absoluta falta de veracidade e credibilidade, ainda mais quando recolhidas e vazadas de depoimentos tomados em circunstâncias que beiram a tortura de um notório contraventor da lei, agravados por suas condições físicas e psicológicas." Ele também reiterou que não conhece Youssef e que não manteve qualquer tipo de relação com ele. O PTB também divulgou uma nota de apoio a Collor
Ramos também já havia sido citado pelas investigações da Polícia Federal como participante de uma reunião entre Youssef, o ex-deputado André Vargas, que foi expulso do PT, e o ex-deputado federal Cândido Vaccarezza, também do PT.
Nesta terça-feira, o jornal O Estado de S. Paulo divulgou em sua página na internet uma gravação telefônica feita pela Polícia Federal em que Vaccarezza aparece se colocando à disposição da família de um dos empreiteiros presos por suposto envolvimento no esquema, o executivo José Aldemário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, da construtora OAS, preso em 14 de novembro. Na chamada, ele diz à mulher do empresário que é amigo dele e que ela poderia ligar quando quisesse. “No que precisar, estou à disposição”, disse. Vaccarezza tem negado qualquer envolvimento no esquema. Nesta manhã, o EL PAÍS tentou contato com ele, mas ele não atendeu o telefone.
Denúncias
Em dezembro do ano passado, veiculou-se a informação de que 28 políticos brasileiros teriam participação no esquema criminoso da Petrobras, que desviou entre 10 bilhões e 20 bilhões de reais. As lideranças dos principais partidos acreditavam que pelos menos cem ocupantes de cargos públicos seriam afetados pela investigação. Além de Collor, o nome do atual presidente da Câmara e desafeto da presidenta Dilma Rousseff, Eduardo Cunha (PMDB), também já havia sido levantado ao longo das apurações. Ele também nega qualquer participação e disse ser vítima de uma armação.
A atual denúncia contra Collor é uma das peças que deverão ser usadas por Janot em sua acusação formal. Tudo, entretanto, ainda é mantido em segredo de Justiça. As informações que estão sendo divulgadas desde o ano passado são frutos de vazamentos à imprensa. Mais afetado até o momento pelas informações, o PT, que teve até o nome do tesoureiro envolvido, pediu para o ministro da Justiça que investigue a divulgação extraoficial dos dados que, segundo eles, é um “vazamento seletivo”. Por conta disso, a popularidade da presidenta despencou na última pesquisa.
Janot solicitará ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o nome de todos os acusados políticos seja divulgado de maneira oficial. O PT comemora essa decisão, pois acredita que, a partir do momento em que os nomes começam a ser citados, tira-se o foco da imagem do partido e do Governo. “Estamos ansiosos pela denúncia”, afirmou em uma entrevista ao EL PAÍS o secretário nacional de comunicação do partido, José Américo.
Cerveró é acusado de comprar apartamento para encobrir fraude
Nestor Cerveró, um dos ex-diretores da Petrobras presos suspeito de participar do esquema de corrupção na estatal, foi denunciado pela segunda vez desde o início da operação Lava Jato.
Nesta segunda-feira, o Ministério Público Federal o acusou de fraudar a compra de um apartamento de luxo no Rio de Janeiro para lavar parte dos 40 milhões de reais que teria recebido como propina.
Na mesma denúncia, os procuradores acusam o suposto lobista do PMDB Fernando Soares e Oscar Algorta, dirigente da filia da offshore Jolmey no Uruguai, de auxiliarem Cerveró no crime. Soares teria intermediado a compra e Algorta seria o laranja do ex-diretor na offshore.
No pedido, o Ministério Público solicitou que o trio devolva o valor do apartamento e pague uma multa 7,5 milhões de reais pela infração. O juiz do caso, Sérgio Moro, ainda não se manifestou oficialmente sobre o assunto.
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