Acusado de receber 200 milhões de dólares em 10 anos, PT nega propina
Nova fase da Operação Lava Jato tem mais prisões e cumpre 62 mandados judiciais Tesoureiro João Vaccari diz que respondeu à PF "com transparência, lisura e tranquilidade" Partido promete processar acusadores “pelas mentiras proferidas"
Enquanto a Petrobras busca um novo presidente e uma nova diretoria, a Polícia Federal lançou na madrugada de quinta-feira a nona fase da Operação Lava Jato, que desmantelou uma gigantesca rede de corrupção no coração da estatal. As medidas foram deflagradas a partir de depoimento de um dos delatores do caso, o ex-gerente-executivo de Serviços da Petrobras Pedro Barusco, segundo quem o PT teria recebido até 200 milhões de dólares (540 milhões de reais) em propinas entre 2003 e 2013.
Duzentos policiais federais e 25 agentes fiscais cumpriram 62 mandados judiciais nesta quinta-feira: uma prisão preventiva, três temporárias, busca e apreensão (com batidas policiais) e 18 mandados de condução coercitiva (transferência obrigatória dos acusados a uma delegacia para prestar depoimento) nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Santa Catarina. Um dos mandados de condução coercitiva foi expedido para interrogar o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT), João Vaccari Neto, suspeito há meses de participar do esquema revelado em março de 2014.
O tesoureiro do PT foi conduzido nesta manhã à Superintendência da Polícia Federal em São Paulo para esclarecer a acusação de que atuava na cobrança de propina e de doações legais para o partido. Em nota divulgada no site do PT, Vaccari disse que todas as questões dos delegados foram respondidos. "Todas as perguntas feitas pelo delegado foram esclarecidas. Respondi a tudo com transparência, lisura e total tranquilidade”, declarou.
Em depoimento de delação premiada firmado com o MPF em novembro do ano passado, Barusco informou que Vaccari recebeu propina em nome do partido em 90 contratos da Petrobras. Em nota oficial, o PT destacou que recebe apenas doações legais e que todas elas são declaradas à Justiça Eleitoral. O partido também prometeu processar seus acusadores “pelas mentiras proferidas contra o PT”.
O advogado de Vaccari, Luiz Flávio D’Urso, também contestou as acusações de Barusco por meio de nota, garantindo que sua condução para prestar depoimento “entendeu-se desnecessária”, pois “bastaria intimá-lo” para que comparecesse ao juízo. A mensagem diz ainda que Vaccari “há muito ansiava pela oportunidade de prestar os esclarecimentos que nesta data foram apresentados à Polícia Federal, para, de forma cabal, demonstrar as inúmeras impropriedades publicadas pela imprensa nos últimos meses, envolvendo seu nome”.
Ex-gerente da Petrobras confessou ter recebido na década de 1990 subornos de quase de 275 milhões de reais
Delação premiada
Barusco também confessou, em novembro, ter recebido na década de 1990 subornos de quase 100 milhões de dólares (cerca de 275 milhões de reais), que devolverá à Justiça. Seus depoimentos revelaram nomes de novos operadores que faziam com que os pagamentos ilegais chegassem a funcionários da Petrobras. Os implicados podem ter que responder por crimes de fraude, corrupção ativa, lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Nessa nova fase são investigadas 26 novas empresas, a maioria de “fachada” (segundo informações da polícia). A operação foi batizada de My Way, em alusão à canção popularizada por Frank Sinatra, que é o termo utilizado pelo próprio Barusco para se referir a outro protagonista desta trama: seu antigo chefe, o ex-diretor de Serviços da estatal, Renato Duque, que está preso dede dezembro. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, Duque não está, no entanto, entre os interrogados; o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, pediu na semana passada a revogação de seu habeas corpus diante do risco de fuga.
Em relatórios internos da Petrobras, Barusco e Duque são responsabilizados por diversas irregularidades em obras, como o aumento excessivo dos custos da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, cujo pressuposto se multiplicou por oito e nutriu numerosas contas privadas ilegalmente. Pouco se sabe até agora sobre os interrogatórios e sobre o futuro das pessoas procuradas, embora tenha sido revelado que o tesoureiro do PT teria se recusado a abrir a porta de sua casa em São Paulo e a polícia teve que pular o muro da residência.
Até o momento continuam presos 11 dos 21 empresários detidos em 14 de novembro, outra data-chave do caso. A polícia afirma que algumas das maiores construtoras do país haviam formado um ‘clube’ que aparentemente dividia os contratos da petroleira (pelo valor de 22 milhões de dólares) e também fazia acordos para subornos. São acompanhados agora pelo ex-diretor internacional da Petrobras, Néstor Cerveró, detido em 13 de janeiro.
A Justiça já processou 39 pessoas por lavagem de dinheiro, corrupção e formação de associação criminosa. Dos contratos milionários se desviava sistematicamente uma porcentagem mínima de 3% para empresários e políticos, através de uma rede de empresas de fachada. Pelo menos sete partidos (entre eles PT, PMDB e PP) estão afetados pelas investigações. A polícia calcula que a quantidade total desviada entre 2004 e 2012 alcança 4 bilhões de dólares (quase 11 bilhões de reais): o maior escândalo de corrupção da democracia brasileira.
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