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Os curdos iraquianos agradecem a intervenção dos EUA

Diante da superioridade militar do Estado Islâmico, os peshmergas pediram a ajuda de Washington e outros países

Peshmergas em Makhmur, na província de Nínive.
Peshmergas em Makhmur, na província de Nínive.STRINGER/IRAQUE

O Governo Regional do Curdistão (KGR) recebeu com alegria o bombardeio dos aviões norte-americanos contra um posto da milícia jihadista sunita Estado Islâmico (EI) no norte do Iraque. “Agradecemos ao [presidente dos Estados Unidos] Barack Obama”, disse à BBC Khalid Jamal Alber, um oficial do KGR.

No começo da tarde, dois caças norte-americanos bombardearam uma peça de artilharia móvel do EI nas proximidades de Erbil, a capital da região curda do Iraque, segundo confirmou o Pentágono. Os bombardeios foram “pequenos” e “muito específicos”, e as forças de segurança da região curda, conhecidos como peshmerga, esperam que os aviões dos Estados Unidos voltem a atacar, segundo um correspondente na região da Rudaw, uma agência de notícias curda iraquiana.

Os peshmerga, considerados mais seguros e confiáveis que o Exército iraquiano, tinham conseguido defender a região curda do avanço dos jihadistas, que em junho tomaram Mosul e ocuparam parte do noroeste do Iraque. Entretanto, nos últimos dias os peshmerga abandonaram vários lugares e pediram apoio militar para os Estados Unidos e outros países ocidentais, diante da superioridade do armamento do EI.

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Nas últimas horas, Obama anunciou a autorização de uma intervenção militar limitada no Iraque, que ocorreria somente com fins humanitários ou para proteger interesses norte-americanos na região, como é o caso de Erbil, onde os Estados Unidos têm um consulado e assessores militares.

Outros cidadãos iraquianos se mostraram mais céticos diante dessa nova intervenção dos Estados Unidos, que retirou suas tropas do Iraque em 2011. “Não fez nada durante três anos mas agora acontece algo com os curdos e os cristãos e [Obama] começa a falar de terrorismo”, disse para a agência France Presse Rashaad Khodhr Abbas, um funcionário já aposentado. “Aonde estava Obama todo esse tempo?”, se pergunta Abbas.

Apesar de até agora o Exército do Governo central não estar colaborando com os curdos, há dois dias a aviação iraquiana atacou posições do EI em Mosul e matou 60 militantes jihadistas, segundo anunciou uma televisão estatal iraquiana. De acordo com essa versão, os aviões iraquianos bombardearam o edifício de uma prisão que o EI utilizava como tribunal religioso, e da qual puderam escapar por volta de 300 pessoas, ainda que toda essa informação não pôde ser confirmada de maneira independente.

Além disso, ontem meios de comunicação turcos asseguraram que caças F-16 deste país também começaram a sobrevoar o espaço aéreo do norte do Iraque, ainda que pela noite o Exército turco tenha negado essa informação.

Crise humanitária

O EI, que já estava presente na guerra da Síria, na qual controlava parte do território, tomou Mosul e ocupou outros povoados e cidades no noroeste do Iraque durante a primeira metade de junho, em uma rápida ofensiva na qual o Exército iraquiano opôs pouca resistência.

Desde então, os jihadistas pareciam querer evitar o enfrentamento com os peshmerga, mas nos últimos dias estes também se retiraram de vários locais no norte, e o EI aproveitou para ocupar cidades cristãs e yazidis. Mais de 200.000 pessoas, a maioria de cristãos, fugiram diante do avanço dos radicais. Dessas, por volta de 40.000 membros da minoria yazidi, que segue uma religião zoroastrista, se encontram presos sem comida nem água nas montanhas de Sinjar.

Os yazidis fugiram apressadamente para o monte no último fim de semana antes da chegada dos jihadistas em suas cidades, que os consideram “adoradores do diabo” e que em outros lugares chegaram a decapitar e até crucificar pessoas de outras religiões.

Dezenas de pessoas, sobretudo crianças e idosos, morreram esses dias de sede e por conta do calor, segundo diversas fontes. As Nações Unidas alertaram sobre a crise humanitária e aviões iraquianos, turcos e norte-americanos estão tentando levar água e provisões para esses desabrigados.

Após o bombardeio de hoje por parte dos Estados Unidos, a ONU disse que vai tentar abrir um “corredor humanitário” para que os desabrigados pela violência na região possam “escapar das áreas ameaçadas”, segundo um comunicado de Nickolay Mladenov, oficial máximo das Nações Unidas no Iraque.

Ontem, diversos meios de comunicação confirmaram também que o EI havia tomado a represa de Mosul, de grande valor estratégico pois abastece de água e energia esta cidade e Bagdá, as duas principais do país.

O EI, antes conhecido como o Estado Islâmico do Iraque e Levante, surgiu do ramo iraquiano da Al Qaeda, ainda que esta organização tenha se desentendido com eles. Nos últimos meses já tinha conseguido controlar várias cidades no leste da Síria, e após a tomada de Mosul declarou seu próprio Califado nas regiões sob seu controle no Iraque e na Síria.

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