_
_
_
_
_

Um time de Guarulhos desafia o campeão mundial

Os jovens da favela Anita Garibaldi querem jogar uma partida de futebol contra o vencedor da Copa

O time Anita Garibaldi durante um jogo em Guarulhos.
O time Anita Garibaldi durante um jogo em Guarulhos.TECHO

Domingo é a final da Copa do Mundo e muitas pessoas estão ansiosas para saber o resultado. Mas um time da periferia de Guarulhos, na Grande São Paulo, com certeza está ainda mais ansioso. “Estou louco para que chegue domingo e a gente descubra quem é o campeão”, conta Fabio Bertoldo, de 24 anos.

Ele é um dos jogadores a desafiar o campeão do mundo para um duelo de futebol. O time Anita Garibaldi, da periferia de Guarulhos, propôs um desafio aos seus próprios jogadores e aos vencedores da Copa do Mundo. Eles querem enfrentar o time campeão no campo da favela, para trazer visibilidade para a comunidade em que moram e para todas as pessoas que vivem em situações semelhantes.

A campanha tem o apoio da ONG TETO, que criou o slogan “Trabalhando juntos não há desafios impossíveis”. Com a Copa do Mundo, os problemas sociais ficaram de fora da mídia.

Segundo a ONG, o Mundial afeta diretamente os vizinhos da periferia, porque, como diz Reinaldo, um dos moradores da região, “tira a atenção das autoridades públicas em relação aos problemas internos, os nossos problemas”. A ideia é tornar a realidade das favelas o centro das atenções, aproveitando que o mundo está com os olhos voltados para o Brasil.

A divulgação acontece por meio das redes sociais, de um vídeo no YouTube e de um site, que conta com quase 19.000 pessoas apoiando. O diretor da TETO do Cone Sul e Brasil, Agustín Algorta, acredita que, diante dos desafios que enfrentam diariamente para superar a situação em que se encontram, “jogar contra o campeão mundial é só uma prova da força que a organização pode alcançar, não importa o que se proponha a fazer”.

Eles enfrentam dificuldade até para treinar. Sem equipamento, jogando na terra, os jovens continuam se esforçando e defendendo o time, seja no campeonato feito localmente com outras equipes, seja para desafiar o campeão mundial. Fabio, de 24 anos, conta que, depois do desafio, eles passaram a correr atrás de equipamento com os amigos e tudo o que precisassem para treinar, com a intenção de ser páreo para o vencedor.

Elvis Vieira conta que, com o desafio, os treinos são mais constantes do que antes. “Por questão de trabalho e deslocamento do time, só treinávamos aos sábados e domingos”, explica. “A comunidade sempre nos apoiou, e agora mais ainda”, conta.

A aposta de Fabio é na Argentina como campeã. “Queria muito jogar contra eles, é um time que admiro muito”. “O desafio é legal para trazer visibilidade para a nossa comunidade. Quando perguntaram se queríamos participar, aceitamos na hora”, diz Fabio. Ele sabe que é uma grande responsabilidade que carregam, mas não vê a hora de tudo dar certo e os jogadores de fora virem até o campo deles. “Nosso campo é de terra, mas o time se esforça muito”.

Já Elvis quer jogar contra a Alemanha: “Foi a seleção que jogou melhor na Copa e ainda ajudou o Brasil. Eles fizeram o próprio centro de treinamento”, explica.

O time, um dos que existem nas mais de 6.300 favelas do Brasil, nasceu em 2003, quando foi fundado para ajudar a comunidade através do esporte. Hoje, a favela Anita Garibaldi conta com uma academia de futebol com 150 crianças que aprendem valores como respeito e trabalho em equipe nos campos. Um dos requisitos para participar da academia é tirar boas notas na escola. Elvis explica que os pais acompanham os filhos aos treinos e jogos, de forma a participar mais ativamente do projeto.

A favela, próxima ao aeroporto internacional de Guarulhos, começou a ser construida há 13 anos quando os moradores se organizaram e ocuparam o terreno. Hoje vivem lá cerca de 4.000 famílias.

Tudo nesse lugar é construído pela comunidade e as ruas possuem nome de revolucionários latino-americanos.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_