Uma nova emissão de títulos testa a confiança na economia brasileira
O secretário do Tesouro Nacional vê um momento positivo para a emissão de papeis no exterior É o segundo teste depois do rebaixamento da dívida do país
Num momento em que o futebol coloca os temas econômicos em segundo plano, o Governo faz os últimos arremates para a emissão de papeis que devem testar a confiança do investidor no Brasil. A fim de captar mais recursos, o Tesouro Nacional já está trabalhando numa nova emissão de títulos no mercado internacional, provavelmente em dólar. “Estamos avaliando mais de uma alternativa de prazo (vencimento)”, afirma ao EL PAÍS o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, sem especificar datas.
Na esteira das ofertas recentes bem-sucedidas, o país tenta também reforçar que, apesar de um maior pessimismo em relação à sua economia, que culminou no rebaixamento da sua nota de crédito pela agência de classificação de risco Standard & Poor´s em março deste ano, se mantém como um grande polo de atração de recursos dos investidores estrangeiros.
Apenas três dias após o anúncio da S&P, por exemplo, o país conseguiu captar 1 bilhão de euros em títulos com uma baixa taxa de retorno, de 2,961%, ou de ganho para os investidores. Quanto menor for essa taxa, maior é a confiança na economia. A emissão de bônus é uma forma de captar recursos assumindo um compromisso de devolução dos valores com juros.
Augustin defende que o sucesso das últimas emissões é mais uma prova de que o Brasil tem fundamentos sólidos, capazes de resistir às turbulências internacionais recentes e à politização interna crescente antes das eleições presidenciais de outubro próximo, que já respingaram, inclusive, na torcida contra e a favor da Copa do Mundo.
“A nossa avaliação é de que existe uma confiança grande do mercado internacional no Brasil”, completa o secretário do Tesouro há mais tempo no cargo, desde 2007.
“O momento é positivo e a nossa visão é de tranquilidade. Nós vencemos as grandes dificuldades que tínhamos, principalmente no caso da energia, o que foi muito difícil, porque tivemos secas muito significativas. E conseguimos, com os investimentos que o Brasil fez no último período, com as térmicas ligadas, ter um bom desempenho e impedir que os problemas de energia pudessem ser um lapso importante para o crescimento do país”, continuou.
Augustin afirmou ainda que um quadro internacional menos dinâmico do que se esperava é fonte de preocupação para os próximos meses. O otimismo do início do ano em relação à economia dos países historicamente centrais, como os Estados Unidos e os europeus, não se confirmou até agora, avalia o secretário do Tesouro.
“Havia a visão de que esses países seriam os motores, e de que os emergentes não teriam o mesmo dinamismo. Não foi o que ocorreu”, diz. “Isso preocupa porque pode significar para muitos países que têm economias abertas, que têm uma pauta de exportação relevante, alguma dificuldade.”
As declarações de Augustin foram feitas na última sexta-feira, em Porto Alegre, após a sua participação no fórum Desenvolvimento, Inovação e Integração Regional, promovido pelo EL PAÍS. Na ocasião, o secretário do Tesouro integrou a mesa redonda As Chaves para o Progresso Econômico do Brasil, junto com o executivo espanhol Francisco Luzón, ex-vice-presidente do Santander para a América Latina, e o vice-diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), André Moreira Cunha.
Em um dos pontos do debate, Augustin afirmou que os investimentos estão ocorrendo e que o legado atual será o de políticas que levem a um crescimento maior no médio e no longo prazos. Destacou, nesse sentido, as concessões de infraestrutura em petróleo e gás, energia, ferrovias, metrôs, portos, rodovias e aeroportos. “É normal que um programa ousado de infraestrutura leve algum tempo. Essa crítica de que está tudo atrasado é, na verdade, incorreta. Principalmente porque não está atrasado um ou dois anos, e sim dezenas de anos.”
O PIB brasileiro no primeiro trimestre do ano, divulgado na semana passada, apresentou alta de 0,2%, refletindo o ciclo de alta dos juros no país e apresentando recuo do investimento, além de baixa ou expansão menor em praticamente todos os componentes da demanda em comparação com os três meses anteriores.
Mesmo assim, o secretário acredita que o mercado interno tem, sim, confiança no país. “Isso não foi alterado por uma conjuntura normal de maior tensão, em função da proximidade das eleições e de uma politização maior. Não achamos que isso chegue a afetar nem mesmo o comportamento empresarial”, afirma.
Com relação ao superávit primário, que é a economia que o Brasil faz para pagar os juros de sua dívida, Augustin reforçou a expectativa de cumprimento da meta no ano. “Há meses de receita mais forte e meses de receita menos expressiva. Abril sempre é um mês mais forte, e assim foi”, avalia. A meta para este ano é de 1,9% do Produto Interno Brasileiro (PIB).
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