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“O Brasil é um país invejável, mas não podemos ser estupidamente otimistas”

Em seminário do EL PAÍS, o executivo Francisco Luzón critica a política econômica brasileira Para o espanhol, ela é baseada no consumo e precisa ser corrigida

Francisco Luzón, no evento do EL PAÍS em Porto Alegre.
Francisco Luzón, no evento do EL PAÍS em Porto Alegre.Jefferson Bernardes (Agência Preview.com)

Executivo que apostou as suas fichas no Brasil à frente da divisão latino-americana do Banco Santander no início da década passada, o espanhol Francisco Luzón foi contundente nesta sexta-feira ao analisar a atual situação da economia do país. Segundo ele, o momento é complicado e o rumo da política brasileira para o setor, baseada no consumo, precisa ser corrigido para que se restaure a credibilidade por parte dos investidores internacionais. "O Brasil é um país invejável, mas não podemos ser estupidamente otimistas", declarou.

Durante a sua participação no Fórum Desenvolvimento, Inovação e Integração Regional, promovido pelo EL PAÍS em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul (região Sul brasileira), o executivo destacou que o momento é de olhar para o futuro, após um trabalho excelente do governo federal nas bases da política econômica até três anos atrás. "Mas atualmente há investimento de menos, incertezas demais e crescimento baixo", completou.

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O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no primeiro trimestre do ano, divulgado na semana passada, apresentou alta de 0,2%, refletindo o ciclo de alta dos juros no país e apresentando recuo do investimento, além de baixa ou expansão menor em praticamente todos os componentes da demanda em comparação com os três meses anteriores.

Como vice-presidente do Santander para a América Latina, Luzón foi um dos artífices da aquisição do banco brasileiro Banespa pelo Santander em 2000, por 7 bilhões de dólares e um ágio de 280% sobre o preço mínimo, desbancando na disputa o Unibanco e o Bradesco. Atualmente é membro do conselho de administração da LATAM Airlines, empresa líder do setor na região e criada na fusão entre a brasileira TAM Linhas Aéreas e a chilena LAN Airlines.

"O Brasil tem um futuro invejável, mas precisa focar no investimento, e não mais no consumo", acrescentou o executivo, ressaltando que, pensando em um prazo mais longo, a competitividade do país precisa ser melhorada, por meio de reformas estruturais que sejam fundamentais para se reduzir o "custo Brasil", como são conhecidas as séries de entraves financeiros, estruturais e burocráticos que encarecem e dificultam o investimento no país.

Luzón participou da mesa redonda As chaves para o progresso econômico do Brasil, ao lado do secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, e do vice-diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), André Moreira Cunha.

Em sua participação, o acadêmico da UFRGS também optou por destacar os "desafios importantes" que o país precisa superar nos próximos anos, como o desenvolvimento de um tecido industrial e empresarial para crescer e se desenvolver internacionalmente. Para a conquista dos avanços, pede também um investimento público mais "robusto".

"O período recente fortalece aspectos que na história do Brasil foram ficando para trás. Há algumas décadas, o país produzia mais manufaturas que todos os Tigres Asiáticos. Atualmente perdemos terreno e recuamos para 1,6% do total mundial", avaliou.

Desenvolvimento e inovação

E foi justamente as questões a serem enfrentadas pela indústria na nova economia que foram tema da mesa redonda anterior em Porto Alegre, que contou com Marc Weiss, da organização Global Urban Development (GUD), Márcio Fortes de Almeida, diretor de Relações Internacionais da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN) e Ivan de Pellegrin, presidente da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI).

Os avanços tecnológicos que vêm pressionando a indústria e a necessidade de se crescer de forma sustentável também na inovação assumiram protagonismo. Weiss destacou o exemplo da Califórnia e o desenvolvimento das novas tecnologias, que proporcionou um crescimento da chamada nova economia sobre a velha, baseada em modelos mais tradicionais. "A impressão em 3D e 4D são exemplos de um novo tipo de manufaturas, um passo adiante. Coisas como essa e a biotecnologia podem representar uma reindustrialização", disse.

Já Márcio Fortes, que integrou os ministérios do Desenvolvimento e das Cidades, destacou os avanços dos 10 anos de Lei de Inovação Tecnológica brasileira e o avanço sustentável do país no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), o maior ranking de avaliação de desempenho escolar do mundo. "Estamos correndo, mas precisando correr mais", definiu.

O desempenho considerado baixo dos estudantes brasileiros em Exatas, que, segundo ele, tem um maior peso no desenvolvimento da inovação, é um dos desafios a serem melhorados. O PISA é aplicado a alunos de na faixa dos 15 anos em um universo representativo de 65 países.

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