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Os gastos com funcionários reduzem a marcha da indústria

O câmbio e o preço da energia subsidiado atenuam os custos industriais, mas folha de pagamento pesa e supera gastos de produção

Linha de produção da Natura, no Estado de São Paulo.
Linha de produção da Natura, no Estado de São Paulo.CLAYTON DE SOUZA (AGE)

A produtividade baixa, aliada a investimentos aquém do esperado, têm resultado em um crescimento limitado da indústria, que em 2013 apresentou um avanço tímido de 1,2%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mesmo assim, os gastos com pessoal continuam aumentando, ainda que em ritmo menor. No ano passado, a folha de pagamento dos empregados superou, inclusive, despesas com energia e matéria-prima. De acordo com o indicador de custos industriais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), os gastos com produção foram um dos menores dos últimos três anos, situando-se em 6%. Já o gasto com pessoal representou 7,5%.

Para Wilson Amorim, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA), especializado em mercado de trabalho, a indústria se encontra em um momento híbrido, onde “busca o reequilíbrio diante de um quadro, onde os trabalhadores são protagonistas”, explica. Ainda que com uma expansão lenta do PIB, de 2,3% no ano passado, os empregados conseguiram acordos de reposição salarial com aumentos reais, ou seja, acima da inflação. Segundo José Silvestre, coordenador de relações sindicais do Departamento intersindical de estatística e estudos socioeconômicos (Dieese), 86,9% das negociações coletivas de trabalhadores terminaram em aumento real. Foram altas modestas, na casa de 0,01% a 2%, mas suficientes para repor as perdas com a inflação de 5,91% de 2013.

Os acordos que resultaram em alta dos salários não significam que a indústria esteja com quadros de funcionários inchados e provocando um peso insuportável, a ponto de planejar demissões. Nem mesmo que esteja retendo mão de obra qualificada para não passar pelo aperto de 2009, quando algumas empresas anteciparam cortes com medo da recessão que viria com a crise mundial, e depois não se confirmou. O custo dos salário continua dentro de uma equação típica do Brasil, que soma desemprego baixo, e salários valorizados. Desta forma, a indústria adotou uma lógica própria. “Há um mecanismo da rotatividade, onde se contrata apenas quando se demite, supondo uma redução dos salários nesta troca de trabalhadores”, o que poderia ser um problema apenas “se for continuado e não se façam investimentos”, opina Silvestre, do Dieese.

Por ora, a indústria brasileira tem conseguido compensar o impacto dos gastos com folha de pagamento com os benefícios do câmbio mais desvalorizado, que barateia a compra de insumos importados. A redução dos custos de energia, no ano passado, também foi importante. Ao mesmo tempo, a inflação de custos tem sido repassada aos preços. Segundo Renato da Fonseca, gerente executivo de pesquisa e competitividade da CNI, “no ano passado o mercado interno foi benéfico para os produtos brasileiros, que estavam acostumados com um processo de valorização do real entre 2004 e 2010 que tirou a competitividade das empresas em relação aos produtos importados”, explica. “A reversão desse processo trouxe um respiro”, completa.

No entanto, os fatores que deveriam levar aos ganhos de produtividade – inovação para produzir mais com o mesmo número de trabalhadores – continuam inertes. “A produtividade está relacionada a elementos que a indústria não controla, como os serviços de logística, transporte e bancos”, afirma Amorim, da FEA. Além desses elementos, a indústria brasileira não consegue acompanhar a tecnologia externa por “não investir em novos equipamentos e, assim, também perde competitividade”, complementa Amorim.

Segundo ele, a política industrial se estagnou nos anos 80. Enquanto os setores oligopolizados se defenderam melhor, as pequenas e médias empresas são reféns de uma competitividade mais limitada. O único que a indústria controla e poderia melhorar é sua tecnologia, mas mesmo com recursos subsidiados para compra de máquina, disponibilizado pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), isso não acontece. “O problema é que a indústria quer mais benefícios e tem medo de investir pelas incertezas. O dinheiro do empréstimo acaba sendo usado para outra coisa, mas não para melhorar a competitividade”, afirma Silvestre.

Outro fator que explica a falta de fôlego da indústria nacional é a baixa qualificação de funcionários, que implica em uma produtividade muito inferior às expectativas dos empresários. Em um recente estudo da CNI, comparando a competitividade do país, considerando salários e produtividade, o Brasil apenas está melhor que a Argentina, entre países como Canadá, África do Sul, Chile ou Colômbia, escolhidos por se situarem em um momento econômico similar ao do país. Parte dessa baixa produtividade, para Fonseca, se explica pela “grande oferta de mão de obra, mas de baixa qualidade de educação”, segundo confirma relatório do Programa Internacional de Avaliação de Alunos, o PISA, que coloca o Brasil em 38º lugar entre 44 países. “É difícil até mesmo contratar e qualificar, porque as pessoas têm uma base muito fraca em matemática e raciocínio lógico. A dificuldade de aprender se reflete em uma produtividade mais lenta”, acrescenta Fonseca, coincidindo com os resultados do PISA.

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