Educação infantil, o profundo atraso da América Latina
A despesa pública anual por estudante em formação inicial ronda os 4.500 reais, um terço a menos que a média da OCDE
O investimento em educação é, sem dúvida, um dos mais rentáveis do mundo. No entanto, a despesa pública em educação infantil por estudante latino-americano é de apenas um terço do investimento feito nas nações desenvolvidas.
No México, a despesa anual em instituições públicas de educação infantil (desde os 3 anos) por estudante foi de 4.970 reais em 2010. Na Argentina foi de 5.441 reais e no Brasil de 4.733 reais, no mesmo ano. Se comparamos, a média da OCDE foi de 14.069 reais em 2010, segundo cálculos da própria organização.
Estas cifras e algumas evidências científicas desanimadoras levaram os especialistas a recomendar que mais recursos sejam dedicados aos primeiros anos de vida porque “as crianças não estão aprendendo muito, e isso ocorre porque entram na escola com atrasos muito grandes”, como é o caso do México, de acordo com Ciro Avitabile, especialista em educação do Banco Mundial.
Esses atrasos –afirma- são de tipo cognitivo, isto é, a capacidade de concentração ou de memorizar palavras por exemplo, e até não-cognitivos, como a capacidade de superar desafios ou ter autocontrole. Os estudos demonstram que até 80% da arquitetura cerebral se desenvolve durante os 1.000 primeiros dias de vida de um ser humano. E nesta etapa é mais fácil fechar as brechas que se evidenciam mais adiante -por exemplo, no colégio- entre crianças ricas e pobres, ou entre crianças da cidade e do campo.
Conscientes desta problemática, os governos da região estão realizando um árduo trabalho de formação infantil que começa praticamente desde antes do nascimento.
Enedelia Maya Castañeda e seus três filhos vivem isso na pele.
A jovem mãe do município de Agua Blanca, no centro do México, participa com entusiasmo das oficinas organizadas pelo Conselho Nacional de Fomento Educativo (CONAFE) sobre a importância de estimular e jogar com as crianças para que aprendam habilidades básicas nos primeiros anos de vida. Nas oficinas onde cantam, jogam ou aprendem números, cores e formas, e também se instrui os pais e mães, cerca de 460.000 crianças, entre elas as que vivem em comunidades rurais ou que estão marginalizadas, são atendidas. O Banco Mundial apoia há vários anos o trabalho do CONAFE.
Mais lucro que na bolsa
Não se trata unicamente do conhecidíssimo senso comum de que se educar é bom para o futuro, mas de que há números relevantes que confirmam que a educação nos primeiros anos de vida é fundamental.
Uma análise do programa Perry de Educação Pré-escolar para famílias com baixos recursos nos EUA encontrou, por exemplo, que investindo 100 dólares na educação de uma criança dentre 0 e 4 anos, o retorno médio oscila entre 7 e 10 dólares anuais (15 e 22 reais), considerando os melhores resultados trabalhistas e uma menor taxa de criminalidade. A mesma quantidade investida na bolsa de valores daria um retorno médio de 6,9 dólares anuais (15,50 reais).
Este raciocínio funciona também quando se compara a educação inicial, não com a bolsa, mas com o investimento em educação primária ou secundária, por exemplo. “De todos os investimentos que podem ser feitos em educação, a educação infantil tem o retorno mais alto”, explica Avitabile.
Os esforços nos primeiros anos de vida significam que estas pessoas terão melhores oportunidades de estudo, acesso a melhores empregos e muitos deles não cairão na violência ou no crime organizado. Trata-se, portanto, de um investimento rentável para as pessoas e para a sociedade.
Desde alguns anos este tema vem recebendo mais atenção. Há vários exemplos na região. Na Argentina: um programa do governo está focado na educação em comunidades rurais, incluindo a educação infantil. Com melhores equipes, infraestrutura e capacitação de docentes nas escolas, as crianças recebem também mais oportunidades.
Além disso, para que todas as mães e seus filhos recebam também o seguimento médico necessário, o programa NACER (Nascer) oferece serviço médico gratuito às crianças até os 6 anos e mães sem seguro. Na Jamaica, por outro lado, um “passaporte” para o desenvolvimento infantil permitirá continuar o desenvolvimento das crianças. Originalmente concebida somente para a saúde, a estratégia consiste em acompanhar o desenvolvimento da criança de sua primeira visita pré-natal até a educação pré-primária. O passaporte conta com contribuições médicas e educativas de profissionais.
No Chile, o sistema Crece Contigo monitora as crianças desde o crescimento pré-natal até que entrem na escola aos 5 anos de idade. No Equador existe o programa Creciendo con nuestras guaguas (Crescendo com nossas crianças) para ensinar aos pais a vigiar os progressos na saúde e nutrição até os cinco anos.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.