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Coluna
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Trump e Modi praticam diplomacia gratificante para os populistas

Por trás do folclore e da adulação estão os movimentos tectônicos da geopolítica que aproximam Washington de Nova Déli e os distanciam de Islamabad

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, ao lado do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no estádio de Ahmedabad, em 24 de fevereiro.
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, ao lado do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no estádio de Ahmedabad, em 24 de fevereiro.MONEY SHARMA (AFP)
Lluís Bassets

A pouca importância dos fatos para Donald Trump pode ser uma vantagem. Isso lhe permitiu, por exemplo, elogiar a liberdade religiosa na Índia enquanto ocorriam os confrontos mais graves entre hindus e muçulmanos nos últimos 30 anos no país. São muitas as afinidades entre Trump e Narendra Modi. Algumas pertencem ao espírito do tempo e por isso são compartilhadas por líderes políticos tão distantes e diferentes como Jair Bolsonaro e Vladimir Putin, Viktor Orbán e Boris Johnson, Marine Le Pen e Benjamin Netanyahu, Matteo Salvini e Recep Tayyip Erdogan. São nacionalistas e populistas, impulsionados pela defesa da comunidade considerada majoritária em seus respectivos países contra outras comunidades distintas, por religião, idioma, origem étnica, ou contra imigrantes e estrangeiros.

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Há outras afinidades inscritas nos interesses de cada país e até na geopolítica de uma ordem internacional em transformação. A Índia e os EUA, apesar de todos os pesares, são as duas democracias mais populosas do planeta. Se tudo se resumir ao exercício do direito de voto, somente com o sufrágio de indianos e norte-americanos um quinto da humanidade vota. Elas também sofrem os males que afligem todas as democracias, dos quais Modi e Trump são ao mesmo tempo causa e efeito.

Ambos questionam os fundamentos constitucionais de seus respectivos países em pontos sensíveis como o pluralismo e a tolerância religiosa ou a concentração de poderes presidenciais. E fazem isso atiçando as piores paixões, tão frutíferas nas redes sociais, onde encontramos uma afinidade no uso que fazem: Modi, 53 milhões de seguidores no Twitter, Trump 73 milhões. Ambos adotaram legislação fortemente criticada por suas respectivas oposições e pelos defensores dos direitos humanos. Nos Estados Unidos, as vítimas são imigrantes hispânicos e os afro-americanos, e na Índia, os muçulmanos, transformados em estrangeiros ou cidadãos de segunda classe.

Para aproximar dois países de tais dimensões as simpatias mútuas não bastam, nem os talentos chauvinistas e autoritários que os assemelham. Existem laços objetivos para além de Trump e Modi. Já se estreitaram com George W. Bush e Barack Obama e continuarão se estreitando sem Trump e sem Modi. O mais importante é o que busca frear ou ao menos contrabalançar a China, a superpotência que aspira a transformar sua centralidade territorial na Ásia em hegemonia absoluta em todo o entorno marítimo e até mesmo oceânico do Pacífico.

Trump e Modi praticam uma diplomacia gratificante para as lideranças populistas. Trump recebeu seu colega indiano em um estádio de Houston diante de 50.000 pessoas, em setembro, com a saudação Howdy Modi, e este lhe devolveu o cumprimento em outro estádio, em Ahmedabad, seu feudo eleitoral, com outra saudação, Namaste Trump. Mas por trás do folclore e da adulação estão os movimentos tectônicos da geopolítica, que aproximam Washington de Nova Déli e os afastam de Islamabad.

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