_
_
_
_

Tribunal Penal Internacional investigará a Venezuela por crimes contra a humanidade

Promotoria de Haia examinará execuções extrajudiciais, prisões arbitrárias e torturas cometidas sob o Governo de Nicolás Maduro

Florantonia Singer
Nicolás Maduro presidente de Venezuela y Karim Khan de la corte penal internacional
Karim Khan e Nicolás Maduro assinam acordo de colaboração em Caracas, na quarta-feira.- (AFP)

Em suas últimas horas em Caracas, o promotor do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, decidiu abrir uma investigação por crimes contra a humanidade na Venezuela. O anúncio foi feito no Palácio de Miraflores, durante a assinatura de um memorando de entendimento com o presidente Nicolás Maduro, no qual este se compromete a cooperar com o processo. “O promotor decidiu passar para a fase seguinte, não compartilhamos a decisão, mas a respeitamos”, disse o líder chavista em uma cerimônia televisionada. A Venezuela é o primeiro país da América Latina a ser investigado pelo TPI.

O memorando explica que o exame preliminar do processo aberto em 2018 foi concluído e adverte que nesta fase “nenhum suspeito ou objetivo” foi identificado. Explica também que a investigação que começará agora tem por objeto “determinar a verdade e se existem ou não motivos para formular acusações contra alguma pessoa”.

O anúncio abre expectativas para centenas de vítimas de detenções arbitrárias, bem como para parentes de vítimas de execuções extrajudiciais e de presos políticos que denunciaram torturas nas prisões militares e dos serviços de inteligência venezuelanos. Os defensores dos direitos humanos qualificaram a decisão como um enorme progresso na busca por justiça. O Governo de Maduro tinha acabado de fazer uma série de reformas judiciais e começou a colocar em liberdade alguns presos com o objetivo de atrasar essa etapa, que atinge ainda mais sua imagem internacionalmente.

No memorando, a Promotoria Penal Internacional afirma que reconhecerá os esforços que o Estado fizer para melhorar o sistema judicial. Em dezembro, a antiga promotora Fatou Bensouda concluiu que havia evidências suficientes de que crimes haviam sido cometidos e que cabia à sua jurisdição investigá-los. A passagem para a fase de investigação era esperada desde o mês de junho, quando o promotor britânico assumiu seu posto. Khan atrasou sua decisão até esta visita a convite do Governo venezuelano.

Em sua primeira viagem à região, o promotor passou pela Colômbia, onde encerrou o processo que o país tinha aberto há 17 anos. Na semana passada, em uma entrevista ao EL PAÍS, disse que vinha à Venezuela para ouvir e entabular relações. “A Venezuela deveria se orgulhar de ter convidado o promotor do TPI. Não ajudo sem convite. Não vou visitá-los como um agente clandestino”.

Este cenário era um dos mais temidos pelo Governo, que procura derrubar os cercos diplomáticos que a comunidade internacional levantou ao rechaçar a deriva autoritária que a Venezuela atravessa há anos e que provocou uma crise humanitária dentro do país e outra migratória na região. Desde maio de 2019, quando a Alta Comissária para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, visitou o país, foi produzida uma série de relatórios nos quais se constatou a magnitude das violações e do desastre político, econômico e social venezuelano. O último deles, a segunda prévia da Missão Independente das Nações Unidas, indicou que o sistema judiciário é um braço da repressão contra a dissidência no país.

Com a extradição para os Estados Unidos do empresário colombiano Alex Saab, que o Governo transformou em um importante operador financeiro do entorno de Maduro, o chavismo está entalado em um novo beco. Depois desse golpe da justiça, decidiu se retirar das negociações que havia iniciado com a oposição no México como medida de protesto. Em algumas semanas disputará eleições locais e regionais nas quais a oposição participará e que contarão com observadores internacionais depois de 15 anos de veto, mas em um ambiente de muita desmobilização social. Agora, além disso, deve enfrentar o revés da investigação em Haia.

Apoie nosso jornalismo. Assine o EL PAÍS clicando aqui

Inscreva-se aqui para receber a newsletter diária do EL PAÍS Brasil: reportagens, análises, entrevistas exclusivas e as principais informações do dia no seu e-mail, de segunda a sexta. Inscreva-se também para receber nossa newsletter semanal aos sábados, com os destaques da cobertura na semana.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_