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Moscou ameaça bloquear o YouTube por fechar dois canais russos por desinformação sobre a covid-19

Kremlin acusa a plataforma de vídeos do Google de “censura” por cancelar duas contas em alemão da estatal RT

María R. Sahuquillo
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, em Moscou em 2019.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, em Moscou em 2019.EVGENIA NOVOZHENINA (Reuters)

Nova escalada do Kremlin contra os gigantes da internet. A Rússia ameaçou nesta quarta-feira o YouTube com um bloqueio e uma multa se não forem restaurados dois canais estatais em alemão que a plataforma de vídeos de propriedade da Alphabet, empresa controladora do Google, fechou um dia antes por violar sua política de informação sobre a covid-19. O Kremlin acusou o YouTube de censura e o Ministério de Relações Exteriores da Rússia, que descreveu a decisão da plataforma como uma “agressão sem precedentes contra a informação”, anunciou que pedirá medidas de retaliação contra a mídia alemã e o YouTube.

Na terça-feira, o YouTube removeu os canais DE e DFP, da russa RT. A empresa americana afirmou que o canal em alemão da RT tinha recebido uma advertência por divulgar conteúdo que violava sua política contra a desinformação sobre o coronavírus, o que acabou levando a um bloqueio de uma semana. “Durante a suspensão, a RT DE tentou contornar essa restrição utilizando outro canal do YouTube para subir seus vídeos: [DFP]”, assinalou o YouTube em uma nota, explicando que devido a isso cancelou os dois canais.

O Governo alemão se desvinculou da decisão do YouTube, que além dos dois canais russos em alemão fechou outros recentemente por desinformação sobre a pandemia. Em agosto, a plataforma impôs um bloqueio de uma semana à Sky News Australia, de Rupert Murdoch. Em seu blog, o YouTube afirmou nesta quarta-feira que eliminará qualquer conteúdo antivacinas.

A RT não tem licença para transmitir por sinal terrestre nem por satélite na Alemanha, cuja agência de inteligência considera o serviço em alemão do canal russo um braço de propaganda do Kremlin.

O órgão regulador das telecomunicações na Rússia, o Roskomnadzor, informou nesta quarta-feira que enviou uma notificação ao YouTube exigindo a restauração dos dois canais em alemão da RT “o mais rápido possível”. Caso contrário, prosseguiu o órgão, a plataforma pode ter de pagar uma multa equivalente a 82.000 reais e até mesmo ser bloqueada no território russo. O Kremlin afirma ter indícios de que o YouTube infringiu as leis russas. “Deveria haver tolerância zero com esse tipo de violações da lei”, disse nesta quarta-feira Dmitri Peskov, porta-voz do presidente russo, Vladimir Putin.

Enquanto isso, o Governo alemão advertiu contra as possíveis ações das autoridades russas contra os veículos de comunicação alemães na Rússia. “Quem pede essa represália não mostra ter boa relação com a liberdade de imprensa”, disse Steffen Seibert, porta-voz da chanceler Angela Merkel, insistindo que Berlim não teve nada a ver com a decisão do YouTube.

Não é o primeiro caso em que a Rússia é associada à divulgação de desinformação sobre a pandemia. No mês passado, o Facebook eliminou centenas de contas, acusando-as de fazer parte de uma campanha de informações falsas divulgadas principalmente na Rússia —e com origem nesse país— sobre as vacinas contra a covid-19.

A nova ameaça russa ao YouTube aumenta a tensão entre o Kremlin e os gigantes da internet. Moscou tenta obrigá-los a armazenar em território russo os dados de seus usuários na Rússia. Além disso, eles têm sido alvo de sucessivas multas por não apagar conteúdos que o Governo russo considera proibidos, como mensagens relacionadas com os protestos sociais ou as manifestações de apoio ao opositor encarcerado Alexei Navalni. Nesta quarta-feira, um tribunal russo voltou a multar o Google —que já acumula o equivalente a 2,9 milhões de reais em multas desde o início do ano—, medida que se soma a outras sanções contra Twitter, Facebook, Telegram e TikTok.

Além disso, neste mês, após pressão do Kremlin, a Apple e o Google bloquearam o aplicativo de “voto inteligente” de Alexei Navalni. O aplicativo, criado pela equipe do opositor —cujas organizações foram proibidas na Rússia e declaradas “extremistas”—, trazia informações sobre os candidatos com mais possibilidades de derrotar os do partido de Putin nas eleições parlamentares realizadas em 19 de setembro.

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