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Opositor russo Alexei Navalny é detido ao aterrissar em Moscou

O ativista havia retornado neste domingo da Alemanha, onde se recuperava de um envenenamento atribuído por ele ao presidente Putin

María R. Sahuquillo
O opositor russo Alexei Navalny, ao chegar a um aeroporto de Moscou.
O opositor russo Alexei Navalny, ao chegar a um aeroporto de Moscou.KIRILL KUDRYAVTSEV (AFP)
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This handout picture posted on September 23, 2020 on the Instagram account of @navalny shows Russian opposition leader Alexei Navalny sitting on a bench in Berlin. - Russian opposition leader Alexei Navalny, who the West believes was poisoned with a Soviet-era nerve agent, has been discharged from hospital after a month, his doctors in Berlin said on September 23, 2020. (Photo by Handout / Instagram account @navalny / AFP) / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / Instagram account @navalny / handout" - NO MARKETING - NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS
- ALTERNATIVE CROP -
Navalny: “Não tenho nenhuma dúvida de que Putin mandou me envenenar”
Belarusian opposition leader Svetlana Tikhanovskaya is welcomed by supporters, during a rally, by the Brandenburg Gate in Berlin, Monday, Oct. 5, 2020. Tikhanovskaya fled from Belarus following the disputed Aug. 9, presidential election, that forced her into exile. (Kay Nietfeld/dpa via AP)
Berlim vira ‘ímã’ para dissidentes pós-soviéticos
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2020 HOST PHOTO AGENCY / HANDOUT
  (Foto de ARCHIVO)
24/06/2020
França e Alemanha propõem sanções contra a Rússia pelo envenenamento de Navalni

As ameaças foram cumpridas. Logo após ele colocar o pé na Rússia, neste domingo, o opositor Alexei Navalny foi detido pelas autoridades no aeroporto onde aterrissou. O ativista e blogueiro anticorrupção, que regressou da Alemanha, onde se recuperava do grave ataque com uma neurotoxina de uso militar sofrido no verão passado na Sibéria, é acusado de violar os termos de uma polêmica sentença anterior que lhe impôs uma condenação e liberdade condicional. O Serviço Penitenciário Federal, que informa que ele permanecerá sob custódia até que haja uma decisão judicial, acusa-o de não comparecer aos controles periódicos e pede a substituição da pena suspensa por uma real.

O líder opositor enfrenta também as recentes acusações de fraude em grande escala, com as quais ele diz que o Kremlin tenta silenciá-lo. O voo em que Navalny regressava, e que deveria pousar no aeroporto de Vnukovo, em Moscou —onde dezenas de partidários o esperavam, apesar do frio extremo e das restrições, e 53 foram presos—, foi desviado no último momento para outro aeródromo, ao norte da capital.

“Este é meu melhor dia dos últimos cinco meses, esta é minha casa, não tenho medo, sei que tenho razão, e todos os processos penais contra mim são fabricados”, disse o opositor aos passageiros e jornalistas que voaram com ele e com sua esposa, Yulia, logo após pisar em Moscou. A polícia o levou assim que ele atravessou o controle de passageiros.

Era ordem de prisão ou o exílio. E, desde que recuperou a consciência, Navalny, um dos críticos mais visíveis contra o presidente russo, Vladimir Putin, a quem acusa diretamente do envenenamento que quase lhe custou a vida, sempre afirmou que sua intenção era voltar. “Estão fazendo todo o possível para me assustar, mas não importa. A Rússia é o meu país, Moscou é a minha cidade. Sinto saudade”, escreveu, dias atrás, nas redes sociais.

O gesto marca mais um degrau na crescente escalada de repressão do Kremlin contra opositores, meios de comunicação e organizações civis. E ocorre apenas alguns dias antes da posse de Joe Biden como presidente dos Estados Unidos, o que poderia desencadear um conflito imediato com a nova Administração democrata. Mas o Kremlin tampouco cedeu ante a possibilidade de novas tensões com o Ocidente. A União Europeia sancionou em outubro altos funcionários do círculo íntimo de Putin pelo envenenamento de Navalny. Bruxelas afirma que o ataque com uma substância como o Novichok não seria possível sem o conhecimento do Governo, ainda mais considerando que agentes da inteligência russa seguiam o opositor.

Com a popularidade em baixa e na mira do Ocidente, o Kremlin, que negou qualquer participação no envenenamento, tentou impedir uma recepção multitudinária a Navalny, que desembarcou na Rússia a bordo da companhia aérea de baixo custo Pobeda (Vitória, em russo). As autoridades se empenharam intensamente para evitar a recepção, e não apenas desviando o avião. O aeroporto previsto (Vnukovo) foi cercado, e a polícia proibiu a entrada ao lugar, justificando a medida como prevenção ao coronavírus. A imprensa também foi impedida de entrar. As autoridades advertiram que uma concentração seria considerada um “ato político” não autorizado e, portanto, ilegal.

Foram presos três dos colaboradores mais próximos de Navalny, entre eles a política opositora Lyubov Sobol, sua número dois, além de vários partidários e jornalistas. Em São Petersburgo, Moscou e outras cidades russas, a polícia deteve na manhã deste domingo diversos colaboradores do ativista que planejavam comparecer à sua chegada, cinco meses após Navalny ter tido que abandonar a Rússia para receber tratamento em Berlim.

O Kremlin e seu entorno não param de aumentar a pressão contra o destacado opositor, que se tornou muito conhecido por suas investigações sobre a corrupção das elites políticas e econômicas da Rússia. No final de dezembro, o Serviço Penitenciário Federal deu um ultimato a Navalny para que comparecesse em Moscou dentro de algumas horas; como ele não o fez, foi acusado de violar as condições de uma sentença de 2014 que determinava uma pena condicional de mais de três anos de prisão, em um polêmico processo considerado “arbitrário” pela Corte Europeia de Direitos Humanos.

As autoridades afirmam agora que são “obrigadas” a prender Navalny, já que ele não compareceu aos controles estipulados pela sentença já antes de ser levado, em coma, para a Alemanha a bordo de um avião de evacuação médica. O opositor, de 44 anos, pode pegar vários anos de prisão.

O Kremlin está agora numa encruzilhada. A detenção pode desencadear protestos que aumentariam ainda mais a tensão num ano chave, com importantes eleições legislativas no outono e com a população insatisfeita por causa da crise econômica e da pandemia; uma pena de prisão também prejudicaria as relações da Rússia com a Alemanha (até pouco tempo atrás, e sobretudo devido a Navalny, próximas) e a França. Mas não detê-lo, depois das reiteradas ameaças e de aumentar as expectativas dos mais conservadores sobre a ideia de pulso firme, pode ser considerado um sinal de fraqueza, segundo a analista Tatiana Stanovaya. “O que acontece com Navalny é como dois trens que avançam um contra o outro e estão destinados a bater”, diz a cientista política.

Putin, que evita mencionar o nome do opositor, chamando-o ultimamente de “o paciente de Berlim”, negou que seus serviços de inteligência tenham envenenado Navalny. Definiu-o como um colaborador da CIA e ironizou: se quisessem matá-lo, “teriam terminado o trabalho”.

A Rússia evitou abrir um processo judicial formal sobre o envenenamento do líder opositor, atacado com a mesma substância utilizada em 2018 contra o ex-espião russo Sergei Skripal e sua filha, Yulia, em solo britânico. Foi um ataque em que a inteligência do Reino Unido identificou membros da inteligência militar russa. No sábado, a Alemanha entregou às autoridades russas as transcrições das entrevistas que os promotores alemães realizaram com o opositor, com perguntas enviadas pelo escritório do procurador geral russo.

“O Governo alemão assume que o Executivo russo adotará, imediatamente, todas as medidas necessárias para esclarecer o crime contra o senhor Navalny”, afirmou o porta-voz do Ministério da Justiça da Alemanha, lembrando que Moscou tem agora todos os elementos necessários, incluindo as amostras de sangue e tecidos, para realizar uma investigação criminal.

Em dezembro, uma investigação jornalística liderada pelo site especializado Bellingcat identificou vários agentes da inteligência russa como os responsáveis pelo ataque contra Navalny na cidade siberiana de Tomsk. Segundo a investigação, baseada em registros de voos e telefonemas, o Serviço Federal de Segurança (FSB, sucessor da KGB) vinha seguindo o opositor durante anos e em pelo menos 40 voos.

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