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Princesa japonesa Mako recusa dote equivalente a 7,2 milhões de reais e abre mão de casamento tradicional

Sobrinha do imperador Naruhito, que há três anos adia seu enlace, vai se mudar para Nova York depois de se casar, onde o noivo, um plebeu não aceito por certos setores tradicionalistas, quer exercer a advocacia

A princesa japonesa Mako e o noivo, Kei Komuro, em Tóquio, em setembro de 2017
A princesa japonesa Mako e o noivo, Kei Komuro, em Tóquio, em setembro de 2017Shizuo Kambayashi (AP)
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A longa espera da princesa japonesa Mako para se casar com seu noivo, Kei Komuro, parece estar chegando ao fim, embora não da maneira mais —por assim dizer— ortodoxa. A sobrinha do imperador Naruhito se casará no fim deste ano, três mais tarde do que no planejado, sem a parafernália que cerca os casamentos imperiais e, o mais provável, renunciando ao dote de 152,5 milhões de ienes (cerca de 7,2 milhões de reais) que corresponde às mulheres da família real japonesa quando se casam com um súdito que, na gíria de seu grupo altamente distinto, se rotula como plebeu.

Depois de adiado várias vezes, fontes próximas à realeza anunciaram na quarta-feira que o casamento finalmente acontecerá, mas não terá nenhuma cerimônia ou ritual tradicional, de acordo com o jornal japonês Asahi Shimbun. Mako, que completará 30 anos em outubro, realizará seu casamento em solo nacional e, depois de renunciar ao seu status real, se mudará para Nova York, onde o noivo reside desde 2018.

Se for cumprido esse roteiro, que até certo ponto emula a telenovela de Harry e Meghan, Mako de Akishino se tornaria a primeira princesa dos tempos modernos a não se casar pelo rito xintoísta, liturgia que inclui uma cerimônia de compromisso formal em que as famílias trocam presentes, conhecida como Nosai no Gi, além de um encontro oficial com o imperador e a imperatriz para demonstrar-lhes eterna gratidão, denominado Choken no Gi.

A lei da casa imperial japonesa estabelece que as mulheres que se casam com os chamados plebeus têm garantido um dote, custeado com o dinheiro dos contribuintes, com o objetivo de “manter a dignidade de uma pessoa que foi membro da família imperial”. O montante é determinado pelo Conselho Econômico da Casa Imperial, que inclui, entre outros membros de alta linhagem, o próprio primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga. Por causa dos contínuos obstáculos para levar seu prolongado romance ao nível seguinte e da rejeição que seu namoro com Komuro gerou entre certo segmento da população que ainda simpatiza com esta ordem dinástica, Mako tornou público seu desejo de não receber a nada módica soma de 152,5 milhões de ienes que lhe corresponde, um pedido sem precedentes que o próprio Governo está analisando.

A história de amor de Mako e Komuro ocupou as manchetes dentro e fora do país do sol nascente desde que o casal anunciou seu noivado, em 2017. A opinião pública japonesa não viu com bons olhos a notícia de que a filha mais velha do futuro herdeiro do trono, o príncipe Fumihito, tinha escolhido por esposo um homem sem sangue azul, pois isso implicaria que Mako perderia seus privilégios reais.

A princesa conheceu aquele que seria seu noivo em 2012, quando ambos estudavam na Universidade Cristã Internacional de Tóquio. Depois de continuarem seus cursos universitários separadamente (ela, em Edimburgo; ele, na Califórnia), Komuro pediu Mako em casamento em 2013, quatro anos antes de ambos tornarem isso público. Inicialmente, o grande dia estava previsto para novembro de 2018, mas, em fevereiro do mesmo ano, a casa imperial informou seu adiamento até 2020, oferecendo argumentos pouco convincentes.

Foi a imprensa sensacionalista, tão atenta aos assuntos mais relevantes que dizem respeito a uma sociedade, que se ocupou de revelar que o principal motivo eram os problemas financeiros da família do noivo. A mãe de Komuro, Kayo, devia o equivalente a cerca de 185.000 reais ao ex-marido, quantia com a qual financiou os estudos do filho e que ela afirma ter sido um presente, enquanto seu ex insiste que foi um empréstimo. A reação no palácio foi mais do que contundente: não haveria casamento até que o litígio fosse esclarecido.

Komuro mudou-se para os Estados Unidos naquele mesmo ano para estudar Direito na Universidade Fordham, em Nova York, avivando as críticas de muitos, que interpretaram o gesto como uma fuga. O próprio Komuro fez várias declarações para reafirmar ao povo japonês que seus sentimentos pela princesa estavam intactos e que os planos de casamento continuavam de pé. Depois de se formar em maio, o futuro marido fez em julho o exame oficial para poder exercer a advocacia em território norte-americano, do qual saberá os resultados em dezembro.

Os imperadores Naruhito e Masako com o príncipe Akishino e as princesas Kiko e Mako nas comemorações do Ano Novo no Palácio Imperial em Tóquio, Japão, em 2 de janeiro de 2020.
Os imperadores Naruhito e Masako com o príncipe Akishino e as princesas Kiko e Mako nas comemorações do Ano Novo no Palácio Imperial em Tóquio, Japão, em 2 de janeiro de 2020.KIM KYUNG-HOON (Reuters)

Apesar de o príncipe Fumihito ter aproveitado a comemoração de seu 55º aniversário para abençoar publicamente a polêmica união, a família real vazou a preocupação com o fato de que parte dos cidadãos se opõe categoricamente ao casamento. “Aprovo que se casem. A Constituição estabelece que o casamento deve se basear exclusivamente no consentimento mútuo de ambas as partes. Se é o que eles realmente querem, então é algo que devo respeitar como pai”, disse o irmão mais novo do atual imperador naquela ocasião festiva.

A novela criada em torno do casamento também deu asas ao debate sobre o futuro da família real japonesa. A lei da casa imperial estabelece que apenas os descendentes do sexo masculino da linhagem paterna podem ascender ao Trono do Crisântemo. Além disso, na lei em vigor (que data de 1947) prevalece uma enorme distinção entre os sexos: as mulheres perdem seu status real ao se casarem com um plebeu, mas o inverso não acontece.

Esse procedimento antiquado ameaça o futuro da linhagem, que no momento tem apenas três homens na linha de sucessão e o terceiro, Masahito —irmão mais novo do imperador emérito Akihito— já é um octogenário. Dos 18 membros da atual família imperial, incluindo Akihito, de 87 anos, e a ex-imperatriz Michiko, de 86, que já não desempenham funções oficiais, 13 são mulheres. Seis delas, incluindo a princesa Mako, não são casadas. O futuro parece então depender de um jovenzinho de 14 primaveras, o príncipe Hisahito, irmão de Mako, que é o segundo na linha de sucessão do trono imperial do Japão.

A dinastia Yamato, que tradicionalmente se orgulha de ser a casa real mais antiga do planeta, com mais de 2.600 anos de história, e de descender da deusa do sol Amaterasu, deposita no momento suas esperanças de perpetuar os atuais privilégios em um adolescente, o único herdeiro de sua geração. Enquanto isso, tudo indica que Mako e Komuro verão o desfecho a milhas náuticas de distância, vivendo uma nova vida no estilo nova-iorquino.

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