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Novo Governo de Israel lança primeiro ataque a Gaza desde o início do cessar-fogo

Aviação bombardeia posições do Hamas em represália pelo uso de balões incendiários vindos do território palestino

Detonação de mísseis israelenses na Faixa de Gaza, nesta madrugada. Em vídeo, as imagens dos últimos dias em Gaza.
Detonação de mísseis israelenses na Faixa de Gaza, nesta madrugada. Em vídeo, as imagens dos últimos dias em Gaza.MAHMUD HAMS (AFP)
Juan Carlos Sanz
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Israel's designated new prime minister, Naftali Bennett speaks during a Knesset session in Jerusalem Sunday, June 13, 2021. Bennett is expected later Sunday to be sworn in as the country's new prime minister, ending Prime Minister Benjamin Netanyahu's 12-year rule. (AP Photo/Ariel Schalit)
Israel enterra era de Netanyahu com um novo Governo de ampla coalizão
De izquierda a derecha, el primer ministro Naftali Bennett; el presidente Reuven Rivlin, y el ministro de Exteriores, Yair Lapid, el lunes en Jerusalén
Naftali Bennett, a incógnita de um reunificador de origem extremista em Israel

A aviação israelense atacou na madrugada desta quarta-feira posições do Hamas na Faixa de Gaza pela primeira vez desde a declaração do cessar-fogo de 21 de maio, que pôs fim a uma escalada bélica de 11 dias. O bombardeio, que causou danos materiais em bases da milícia palestina na capital do enclave e em Khan Yunis (sul), foi uma represália pelo uso de aproximadamente 20 balões incendiários que foram soltos na Faixa de Gaza e queimaram lavouras dos arredores, já em território israelense. Foi a primeira ação armada ordenada pelo novo Governo israelense, que tomou posse no domingo após desalojar o conservador Benjamin Netanyahu, que passou 12 anos como primeiro-ministro.

As Forças Armadas advertiram em nota que “Israel está preparado para qualquer cenário, incluído a retomada das hostilidades”. A escalada do mês passado resultou na morte de mais de 240 palestinos, entre eles 67 menores, e 13 israelenses, sendo um militar. Um porta-voz do Hamas anunciou que “a resistência islâmica continuaria defendendo os direitos palestinos e seus lugares sagrados (em Jerusalém)”.

Na terça-feira, Jerusalém Oriental reviveu cenas de tensão como as que antecederam há um mês a maior onda de hostilidades nos últimos sete anos entre Israel e as milícias de Gaza. Quase 5.000 extremistas judeus marcharam perante o recinto amuralhado da Cidade Velha gritando reivindicações nacionalistas, em um desfile interpretado como um desafio ao governo de coalizão ampla constituído no domingo. A mobilização de mais de 2.000 policiais impediu confrontos com centenas de contramanifestantes palestinos que se reuniram naquela parte de Jerusalém. Os agentes vigiaram para que a passeata seguisse o trajeto previsto, desviado de seu tradicional percurso por um bairro majoritariamente árabe.

Milhares de jovens, em sua grande maioria colonos ultradireitistas e religiosos, pulavam sincopadamente sob inúmeras bandeiras israelenses em frente à emblemática Porta de Damasco, embora sem atravessá-la, como nas edições anteriores do desfile, o que é visto como uma provocação por se tratar do principal acesso ao bairro muçulmano do centro histórico. O desfile é parte da celebração do Dia de Jerusalém, alusivo à conquista da parte oriental da cidade por tropas israelenses em 1967. A comemoração oficial foi suspensa em 10 de maio por causa do lançamento de foguetes de Gaza contra a província de Jerusalém, uma ação que desencadeou 11 dias de hostilidades entre o Exército israelense e os braços armados do Hamas e da Jihad Islâmica.

A nova onda de violência em Gaza representa o primeiro desafio bélico para o novo Governo israelense dirigido pelo ultranacionalista Naftali Bennett, horas depois de precisar lidar com a delicada questão da manifestação da ultradireita e de grupos radicais judeus em Jerusalém, onde se ouviram gritos de “morte aos árabes!”.

O ministro dos Relações Exteriores, Yair Lapid, sócio-chave no novo Governo, condenou “o uso da bandeira de Israel por elementos extremistas em meio ao ódio e o racismo”. “Isso não é próprio de judeus nem de israelenses, isso não é o que a bandeira simboliza”, clamou pelo Twitter. “Essa gente (os manifestantes) é uma desgraça para Israel.”

A marcha das bandeiras pela Cidade Velha de Jerusalém foi inicialmente reprogramada para quinta-feira passada, mas o então chefe de Governo Netanyahu decidiu adiá-la, numa manobra política aparentemente destinada a torpedear os primeiros dias da gestão de Bennett e da sua heterogênea coalizão, da qual participam inclusive um partido pacifista e uma formação da minoria árabe israelense.

Un ultraortodoxo participante en la marcha nacionalista, el martes en Jerusalén.
Judeu ultraortodoxo participa na passeata nacionalista de terça-feira em Jerusalém. DPA vía Europa Press (Europa Press)

Na tarde de terça-feira, soldados a cavalo da tropa de choque expulsaram os manifestantes palestinos dos arredores da Porta de Damasco, levando 17 detidos e deixando outros 30 feridos entre os participantes de um protesto contra a presença de radicais judeus em Jerusalém Oriental. A marcha nacionalista israelense prosseguiu seu curso pelo exterior das muralhas até o bairro judaico, apenas margeando o bairro muçulmano, até terminar em uma grande concentração em frente à esplanada do Muro das Lamentações.

O enviado das Nações Unidas para o Oriente Médio, Tor Wennesland, advertiu que “a tensão está voltando a aumentar em Jerusalém em um momento politicamente muito sensível”. A constituição de um novo Governo em Israel ocorreu enquanto a ONU e o Egito ainda tentam consolidar o cessar-fogo que entrou em vigor em 21 de maio em Gaza. Wennesland pediu a ambos os lados que evitem ações que possam ser vistas como “provocações”.

No último mês islâmico do Ramadã, entre abril e maio, houve diversos confrontos em Jerusalém entre policiais e manifestantes palestinos na mesquita de Al Aqsa, terceiro lugar mais sagrado do islamismo, situada na Cidade Velha, e no vizinho bairro de Sheikh Jarrah, de onde uma organização de colonos ameaçava expulsar dezenas de famílias palestinas. Israel considera Jerusalém como sua capital única e indivisível, enquanto os palestinos aspiram a transformar a parte oriental da Cidade Santa em capital de seu futuro Estado.

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