EUA se comprometem com a reconstrução de Gaza e reatam relação com os palestinos

Secretário de Estado Anthony Blinken anuncia a reabertura de um consulado para a população árabe em Jerusalém

El secretario de Estado de EE UU, Antony Blinken, y el presidente palestino, Mahmud Abbas, el martes en Ramala.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o presidente palestino, Mahmoud Abbas, nesta terça-feira em Ramallah.POOL (Reuters)
Juan Carlos Sanz
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Os Estados Unidos puseram fim às hesitações de Israel após o cessar-fogo com o Hamas, ao se comprometerem firmemente com a reconstrução da Faixa de Gaza como forma de dar credibilidade à suspensão das hostilidades anunciada nesta semana. No início de sua primeira viagem ao Oriente Médio desde que assumiu o cargo, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, anunciou nesta terça-feira que Washington fará uma contribuição de 75 milhões de dólares (400 milhões de reais) para a campanha internacional que se propõe a aliviar a situação humanitária em Gaza depois da maior escalada bélica dos últimos sete anos. Blinken também aproveitou a viagem para oficializar a retomada das relações com os palestinos e a reabertura de um consulado em Jerusalém.

“Vamos assegurar que o Hamas não se beneficiará das ajudas à reconstrução”, garantiu o chefe da diplomacia norte-americana ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, durante um comparecimento conjunto perante a imprensa em Jerusalém. Washington doará inicialmente 5,5 milhões de dólares em ações de auxílio urgente na Faixa de Gaza e outros 32 milhões como parte da sua contribuição à UNRWA, a agência da ONU para os refugiados palestinos.

Netanyahu agradeceu a Blinken pelo respaldo dos EUA ao direito de Israel à autodefesa, numa reação ao disparo de foguetes do Hamas de Gaza contra Jerusalém, no último dia 10, desencadeando um conflito que se prolongou por 11 jornadas. “Se o Hamas romper a calma [o cessar-fogo], nossa resposta será contundente”, advertiu o chefe do Governo israelense.

Coincidindo com a visita do secretário de Estado, Israel reabriu o principal acesso fronteiriço para permitir a entrada em grande escala de alimentos, remédios, mercadorias e combustível na Faixa de Gaza, depois de passar quatro dias limitando o acesso à “ajuda estritamente humanitária”. Também ampliou para seis milhas náuticas a zona de pesca autorizada nas águas do enclave palestino no Mediterrâneo.

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Os serviços de inteligência do Exército israelense consideram que parte dos materiais de construção que entram no enclave acaba nas mãos das milícias islamistas que os desviam para uso militar. É o caso do cimento utilizado na rede de túneis do Hamas ou dos tubos metálicos que acabam virando peças dos foguetes.

Justamente para evitar que o Hamas —que controla a Faixa de Gaza— se beneficie da ajuda para a reconstrução, Israel pediu a formação de um mecanismo internacional de supervisão. Depois da guerra de 2014, as doações à Faixa foram canalizadas através da Autoridade Palestina, que esta nas mãos da organização Fatah e exerce um controle parcial sobre a Cisjordânia, e das ONGs e associações da sociedade civil palestina.

Depois de se reunir com Netanyahu e outros altos funcionários de Israel, Blinken se deslocou a Ramallah (17 quilômetros ao norte de Jerusalém), sede administrativa da Autoridade Palestina, onde foi recebido pelo presidente Mahmoud Abbas. Trata-se da primeira visita de um alto funcionário do Governo dos EUA à Palestina em quatro anos, após a virtual ruptura de relações durante a presidência do republicano Donald Trump, por causa de sua política abertamente tendenciosa a favor de Israel. Além de anunciar em Ramallah as contribuições econômicas de seu país à reconstrução de Gaza, o secretário antecipou que o Governo de Joe Biden pretende reabrir o consulado-geral dos EUA em Jerusalém, que funcionava extraoficialmente como uma embaixada perante a Autoridade Palestina, até ser fechado por Trump três anos atrás. A mesma legação atendia os palestinos de Jerusalém.

Depois dos encontros com responsáveis israelenses e palestinos, Blinken pretende visitar nos dois próximos dias o Egito, que atuou como mediador entre as partes e fiscaliza o cumprimento do cessar-fogo, e a Jordânia, cujo rei ostenta o título de “custódio dos Santos Lugares de Jerusalém” —justamente o cenário, no mês de abril, de uma escalada de tensão entre judeus e palestinos que acabou levando à recente onda de hostilidades.

Vítimas da escalada bélica

Os bombardeios israelenses durante a escalada mataram mais de 250 palestinos, dos quais a ONU considera 129 como civis, incluindo 66 crianças e 38 mulheres. Em Israel morreram 13 pessoas por causa do impacto de foguetes disparados pelas milícias de Gaza, incluindo dois menores de idade, um soldado e três trabalhadores estrangeiros.

O Exército israelense alega que mais de 200 dos mortos em Gaza eram combatentes. De acordo com a ONU, pelo menos 20 pessoas perderam a vida no território por causa de disparos de foguetes defeituosos dos próprios palestinos. O Ministério de Obras Públicas da região avalia em pelo menos 250 milhões de dólares os danos causados pelos bombardeios israelenses em infraestruturas básicas, sendo mais de 100 milhões correspondentes a moradias danificadas ou deterioradas.

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