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O que está acontecendo entre Palestina e Israel? Os principais elementos para entender o conflito

Atual escalada entre o Exército israelense e o Hamas na Faixa de Gaza atinge um nível de violência nunca visto desde 2014

Bombardeios sobre a Faixa de Gaza na noite deste sábado, 16 de maio.
Bombardeios sobre a Faixa de Gaza na noite deste sábado, 16 de maio.MOHAMMED ABED (AFP)

O Exército israelense e as milícias palestinas do Hamas e da Jihad Islâmica se enfrentam desde a última segunda-feira, 10 de maio, em uma disputa aberta, com poucos indícios de trégua, que supera os cem mortos, a imensa maioria na Faixa de Gaza. As tentativas de mediação internacional, especialmente das Nações Unidas, Egito e Qatar, até agora fracassaram. As hostilidades atingiram um nível de violência nunca visto desde o conflito de 2014.

Estes são os principais elementos que resumem a última escalada bélica no Oriente Médio:

Mais informações
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Israel lança ofensiva terrestre e aérea em grande escala contra Gaza
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Galeria de fotos | O bombardeio do edifício de veículos internacionais em Gaza, em imagens

O que a deflagrou? O nível de violência desencadeada entre as Forças Armadas israelenses e as milícias palestinas foi sendo forjado a fogo lento durante o mês do Ramadã. Já na noite de 22 a 23 de abril, mais de cem palestinos ficaram feridos em confrontos com a polícia, dos quais cerca de vinte tiveram de ser hospitalizados. Os manifestantes protestavam contra uma marcha de centenas de ultradireitistas israelenses que se dirigiram para a Cidade Velha de Jerusalém em plena festividade sagrada dos muçulmanos ao grito de “morte aos árabes!”. O mal-estar da população árabe foi crescendo diante das restrições por causa da pandemia esgrimidas pela polícia para impedir as tradicionais concentrações de palestinos no Ramadã na porta de Damasco da Cidade Velha.

Em torno da mesma entrada, jovens palestinos começaram a acossar rapazes judeus ultraortodoxos que se dirigiam para rezar no Muro das Lamentações. O confronto atingiu seu auge na segunda-feira, dia 10, quando mais de 300 palestinos ficaram feridos em confrontos com a polícia depois da oração na mesquita de Al Aqsa, o terceiro lugar sagrado do Islã. Depois disso, milícias palestinas começaram a lançar foguetes em Jerusalém e no centro de Israel.

O que os locais sagrados têm a ver com os enfrentamentos? Como todos os anos, não sem tensão, milhares de israelenses se preparavam para percorrer a Cidade Velha de Jerusalém até o Muro das Lamentações, ao pé da Esplanada das Mesquitas –chamada pelos judeus de Monte do Templo–, na celebração do Dia de Jerusalém . Essas visitas são tradicionais na comemoração da tomada da parte oriental da cidade pelo Exército israelense durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Diante da presença de dezenas de palestinos posicionados na mesquita de Al Aqsa e em previsão de um conflito aberto, a polícia proibiu primeiro as visitas de grupos judeus ao recinto religioso. O desfile nacionalista, horas depois, foi finalmente desviado para a Porta de Jaffa, passando pelos bairros cristão e armênio, em direção ao Muro das Lamentações. Mas a tensão já era grande e o braço armado do Hamas disparou uma salva de foguetes em direção a Jerusalém. O Exército israelense interceptou um dos projéteis com o escudo de defesa contra mísseis Domo de Ferro, fazendo com que explosões fossem ouvidas em torno da Cidade Santa pela primeira vez desde 2014.

Os despejos no bairro de Sheikh Jarrah. A ameaça de despejo que pesa sobre dezenas de famílias palestinas de Jerusalém que vivem no bairro de Sheikh Jarrah (ao norte da Cidade Velha) há sete décadas foi outro motivo de confronto entre manifestantes e policiais nas últimas semanas. Grupos de colonos ligados à extrema direita israelense brandem títulos de propriedade relativos às casas, que afirmam ter adquirido de proprietários judeus antes da criação do Estado de Israel, em 1948. O Tribunal Supremo adiou no domingo a publicação da sentença final.

Quem se enfrenta atualmente? As chamadas Forças de Defesa de Israel, as Forças Armadas, comandam as represálias ao lançamento de foguetes desde a Faixa de Gaza. O Exército israelense reforçou com batalhões de infantaria e carros de combate as áreas de fronteira com o enclave palestino. Mais de 3.000 reservistas foram mobilizados pelo comando da Divisão Sul. A aviação realizou meio milhar de operações contra as milícias palestinas posicionadas em Gaza. De acordo com as últimas informações militares, dos 1.600 mísseis lançados da Faixa até quinta-feira —400 caíram em Gaza—, 90% foram interceptados pelo sistema de defesa Domo de Ferro.

A ofensiva israelense aponta para dois grupos armados palestinos, as Brigadas Ezzedin al Qassam, braço militar do partido-milícia Hamas, que governa de fato na Faixa de Gaza, e as Brigadas Al Quds, da Jihad Islâmica, ambos considerados grupos terroristas pelo Estado judeu. Desde segunda-feira, durante os primeiros quatro dias de ofensiva, 1.600 foguetes foram lançados da Faixa em direção ao centro e ao sul de Israel. O porta-voz do braço armado do Hamas, Abu Obaida, disse: “Atingir Tel Aviv, Jerusalém, Dimona —onde existe uma usina nuclear israelense—, Ashdod e Beersheba é mais fácil do que beber um gole d’água”.

Que danos o atual conflito causou? Mais de 140 pessoas perderam a vida durante os primeiros cinco dias de hostilidades entre o Exército israelense e as milícias palestinas. A maioria das vítimas fatais foi registrada no território gazense. Lá, 140 palestinos, entre civis e milicianos, morreram nos bombardeios israelenses, dos quais pelo menos 39 são menores e 21 mulheres. Nove civis morreram em Israel, entre eles duas crianças, e um soldado.

Além disso, na Operação Guardião das Muralhas, o Exército matou pelo menos 16 comandantes das milícias palestinas e destruiu vários imóveis onde, segundo informações do Shin Bet (serviço de inteligência interno israelense), havia escritórios dos dois grupos islamistas da Faixa de Gaza.

Existem perspectivas de trégua? O Hamas vinculou qualquer cessação das hostilidades à retirada das forças israelenses da Esplanada das Mesquitas, enquanto Israel condiciona a trégua a garantir a segurança de sua população, o que passaria por encerrar a Operação Guardião das Muralhas. Nenhuma das tentativas de mediação, nem do Egito, Qatar ou das Nações Unidas, prosperou até o momento. As reticências da Administração norte-americana de Joe Biden impediram até agora a adoção de uma resolução no Conselho de Segurança da ONU.

Quais cenários são possíveis nos próximos dias? Na madrugada desta sexta-feira o Exército israelense intensificou suas operações contra as infraestruturas das milícias do Hamas e da Jihad Islâmica com fogo de artilharia desde a fronteira com a Faixa de Gaza e o bombardeio de seus aviões. Mais de 550 disparos de artilharia se juntaram aos ataques de 160 aviões de combate com 450 mísseis contra mais de 150 posições das milícias gazenses. O principal objetivo do ataque coordenado foi a destruição de grande parte da rede interna de túneis, composta por quilômetros de passagens, pela qual os combatentes do Hamas se deslocam até as rampas de lançamento de foguetes e os postos de ataque nas proximidades da linha divisória com Israel, conforme informado por um porta-voz militar na primeira hora de sexta-feira. Até o momento, os soldados israelenses não entraram no território da Faixa.

A forte ofensiva israelense em Gaza desencadeou manifestações ao longo de Israel em cidades onde coexistem cidadãos árabes e judeus. Mais de 700 manifestantes foram presos desde 10 de maio. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que não há maior risco para o país do que os distúrbios em suas cidades devido aos protestos da população árabe.

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