Governo Trump confiscou dados da Apple sobre congressistas democratas para investigar vazamentos

Departamento de Justiça solicitou os documentos mediante uma ordem secreta para averiguar a origem das informações sobre os contatos do presidente com a Rússia. Também espionou jornalistas

A democrata Nancy Pelosi, presidenta da Câmara de Representantes, e o deputado Adam Schiff, em outubro de 2019, em Washington.ERIC BARADAT (AFP)
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Durante a presidência de Donald Trump (2017-2021), o Departamento de Justiça dos Estados Unidos solicitou à Apple dados pessoais de dois deputados democratas do Comitê de Inteligência da Câmara de Representantes, assim como de seus assessores e familiares. O objetivo era investigar a origem dos vazamentos de informações à imprensa sobre os contatos do então presidente com o Kremlin, conforme noticiou o The New York Times nesta quinta-feira.

Um dos congressistas afetados pelos requerimentos de metadatos de suas comunicações foi Adam Schiff, sério rival de Trump, segundo o jornal nova-iorquino. Schiff na época era o líder democrata no comitê, que passou a presidir em janeiro de 2019. O legislador Eric Swalwell, que participou das primárias democratas à Casa Branca, confirmou à CNN que ele foi o segundo afetado. “Recebi uma notificação (...) da Apple de que meus registros haviam sido apreendidos. Isso é ruim”, disse.

Segundo o jornal, funcionários que trabalhavam para o secretário de Justiça Jeff Sessions solicitaram os documentos à Apple em fevereiro de 2018 através de uma ordem secreta, que foi renovada em três ocasiões até expirar já em 2021. Foi então que a companhia da maçã informou aos afetados que seus metadatos haviam sido solicitados pelo Departamento de Justiça.

Os funcionários do departamento obtiveram registros eletrônicos não só dos deputados, mas também de seus funcionários e familiares, incluído um menor, possivelmente porque os investigadores julgaram que os congressistas usavam os aparelhos de pessoas próximas ou mesmo dos filhos para ocultar contatos com jornalistas.

O objetivo do Governo Trump era investigar de onde saíam os abundantes vazamentos à imprensa sobre os contatos do entorno do então presidente com o Kremlin. Segundo o Times, o mecanismo usado não tem precedentes conhecidos. No marco dessa mesma investigação, o departamento então dirigido por Sessions também requereu informação de jornalistas para tentar identificar suas fontes, conforme publicaram recentemente a CNN, o The New York Times e o The Washington Post.

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Os dados e as outras informações obtidas afinal não vincularam os membros do Comitê de Inteligência aos vazamentos, segundo o Times. Schiff, que não confirmou que fosse um alvo da investigação, pediu que o inspetor-geral do Departamento de Justiça revise “este e outros casos”.

Em nota, o congressista afirmou que Trump “tentou usar o Departamento como um porrete contra seus oponentes políticos e integrantes dos meios de comunicação”. A presidenta da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, também pediu uma investigação e qualificou de “terrível” a revelação do The New York Times. “Estas ações parecem ser outro ataque atroz à nossa democracia por parte do ex-presidente”, disse ela em nota.

O Comitê de Inteligência da Câmara de Representantes, presidido por Schiff, foi um dos que lideraram as investigações sobre os supostos elos de Trump com o Kremlin, e depois sobre seus contatos com a Ucrânia, que derivaram no primeiro impeachment contra o então presidente.

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