_
_
_
_

Em frase desastrosa, Fernández diz que “brasileiros vieram da selva” e argentinos, “dos barcos da Europa”

Presidente argentino distorce citação do escritor de Octavio Paz e recebe acusações de racismo por ignorar os povos originários do país. Bolsonaro publica foto com indígenas

Alberto Fernández presidente de Argentina
Pedro Sánchez (à esquerda) e Alberto Fernández na coletiva de imprensa nesta quarta-feira em Buenos Aires.JUAN MABROMATA (AFP)
Mais informações
Victor Sorrentino (Foto: Reprodução / Instagram)
O nefasto assédio recreativo do brasileiro no Egito
Miembros del equipo y del directivo de guionistas de Viacom.
Roteiristas negros para diversificar as histórias televisivas na América e no mundo
Colombia
Racismo e classismo, uma ferida que sangra nos protestos na Colômbia

O presidente argentino, Alberto Fernández, cometeu um erro lamentável nesta quarta-feira deturpar uma frase do escritor mexicano Octavio Paz. “Octavio Paz escreveu uma vez que os mexicanos vieram dos índios, os brasileiros vieram da selva, mas nós, os argentinos, chegamos em barcos. Eram barcos que vinham da Europa”, disse Fernández em entrevista coletiva com o presidente do Governo da Espanha (primeiro-ministro), Pedro Sánchez.

O que pretendia ser um elogio à Europa pela importância de sua imigração para a Argentina entre os séculos XIX e XX tornou-se um escândalo nos meios de comunicação e nas redes sociais, onde o mandatário foi acusado de racista sob a hashtag # VergüenzaNacional.

Na coletiva. realizada no Museu do Bicentenário de Buenos Aires, Fernández atribuiu ao Nobel de Literatura mexicano palavras de um cantor de rock argentino. Na verdade, Paz escreveu: “Os mexicanos descendem dos astecas, os peruanos dos incas e os argentinos dos barcos”. A frase citada pelo presidente argentino é uma estrofe da canção Llegamos de los barcos, do músico Lito Nebbia.

Entre 1881 e 1914, o momento da explosão migratória, a Argentina recebeu mais de quatro milhões de estrangeiros, entre eles dois milhões de italianos e 1,4 milhão de espanhóis. Além disso, antes da chegada dos primeiros europeus, no século XVI, o país já era habitado e ainda hoje, segundo dados do último censo, tem quase um milhão de indígenas.

Horas depois da coletiva, o mandatário argentino se desculpou no Twitter e destacou o orgulho que representa a diversidade argentina. “Não quis ofender ninguém, de qualquer maneira, quem se sentiu ofendido ou invisibilizado, desde já minhas desculpas”, tuitou.

Sem citar o nome de Fernández, o presidente Jair Bolsonaro publicou nas redes sociais uma foto de sua visita à Terra Indígena Balaio, em São Gabriel da Cachoeira (AM), no fim de maio: “SELVA!”, legendou mandatário brasileiro. A expressão também é um cumprimento entre militares do Exército.

As declarações de Fernández evidenciam a persistência entre a classe política de Buenos Aires do mito da Argentina como um país de origem europeia, sem raízes indígenas ou africanas. Em 2018, o antecessor de Fernández, Mauricio Macri, fez outra alusão polêmica durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. “Acredito que a associação entre o Mercosul e a União Europeia seja natural porque na América do Sul todos somos descendentes de europeus”, disse Macri na época, que também recebeu duras críticas.

Apoie a produção de notícias como esta. Assine o EL PAÍS por 30 dias por 1 US$

Clique aqui

Inscreva-se aqui para receber a newsletter diária do EL PAÍS Brasil: reportagens, análises, entrevistas exclusivas e as principais informações do dia no seu e-mail, de segunda a sexta. Inscreva-se também para receber nossa newsletter semanal aos sábados, com os destaques da cobertura na semana.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_