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Um ano da morte de George Floyd é marcado por reforma policial encalhada e aumento da violência

Pedidos de corte de fundos e poderes da polícia após a brutal prisão de Minneapolis se chocam contra o aumento dos tiroteios nas cidades

Memorial a George Floyd no local em que ocorreu a brutal prisão que causou sua morte, em 25 de maio de 2020, em Minneapolis.
Memorial a George Floyd no local em que ocorreu a brutal prisão que causou sua morte, em 25 de maio de 2020, em Minneapolis.NICHOLAS PFOSI (Reuters)
Amanda Mars
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Biden impulsiona sua agenda contra o racismo sistêmico nos Estados Unidos

No dia em que iria morrer, 25 de maio de 2020, George Floyd foi comprar tabaco em uma loja que frequentava em Minneapolis, na esquina da rua 38 e avenida Chicago. Acordou como um homem completamente anônimo, um homem negro de 46 anos e vida atribulada, cheia de altos e baixos, de quedas e ressurreições, problemas com drogas, certo tempo na prisão, vontade de seguir em frente, de lutar. Mas esse 25 de maio, o último de sua vida, fazia parte de tempos nefastos. Perdeu o emprego pela pandemia. Voltou a usar drogas. Um empregado chamou a polícia porque ele pagou com uma nota falsa de 20 dólares.

De noite, a agonia e morte de Floyd sob o joelho de um policial branco, uma ação de mais de nove minutos gravada em vídeo, já havia percorrido todos os Estados Unidos. Os protestos começaram em todo o país e, em poucos dias, ultrapassaram fronteiras. Em poucas semanas já era evidente que acabava de começar a maior mobilização contra o racismo desde a morte de Martin Luther King, meio século atrás. Os departamentos de polícia começaram a mudar regulamentos, as empresas revisaram suas normas, o Pentágono tomou medidas contra as homenagens aos símbolos da América escravista em suas instalações.

Nesta terça se completa um ano da brutal prisão e morte de Floyd pelas mãos do agente Derek Chauvin, o caso que provocou uma catarse nacional e assentou a base para impulsionar mudanças profundas na polícia e na Justiça. No histórico julgamento de abril, Chauvin foi condenado pelas três acusações de homicídio doloso em segundo grau pelas quais foi processado, uma decisão dura e incomum para policiais em serviço, muito protegidos pela lei, no que ficou claro que era um ponto de inflexão. Floyd agora é nome de uma lei de reforma policial que deve ser discutida no Congresso. E na Casa Branca há um presidente, Joe Biden, que fala sem rodeios do “racismo sistêmico” nos Estados Unidos.

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Mas a violência nas ruas não parou de crescer nas grandes cidades no 2020 da pandemia e os pedidos para cortar fundos e poderes aos departamentos das polícias, uma reivindicação dos setores mais radicais do Partido Democrata e do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), deu de cara com essa realidade. Em Minneapolis, onde tudo começou, um terço dos agentes (200 policiais) pediu demissão e tentou deixar o emprego desde o ocorrido.

O chefe do departamento, o afro-americano Medaria Arredondo, denunciou um corte de 8 milhões de dólares (43 milhões de reais) no orçamento aprovado em dezembro, dentro da política para investir em serviços e alternativas à força policial. “Não podemos fazer isso sozinhos”, queixou-se nesta semana em entrevista coletiva. Em Los Angeles, onde os políticos locais concordaram em reduzir em 8% o orçamento após o caso Floyd, acaba de receber sinal verde a contratação de outros 250 agentes para responder ao aumento da violência, já que o número de assassinatos aumentou em 36% em um ano. Nova York teve por volta de 500 homicídios em 2020, o maior número em 10 anos.

A pressão sobre a Justiça também cresceu. Apenas uma semana antes do começo do julgamento contra Chauvin, um jovem negro chamado Daunte Wright morreu quando tentava escapar de uma prisão por tráfico em Brooklin Center, periferia de Minneapolis, porque, segundo disse o chefe de polícia, a agente branca que tentava prendê-lo confundiu a pistola paralisante com a real. O promotor que assumiu o caso, Peter Orput, acaba de abandoná-lo. Orput processou a policial, Kim Potter, por homicídio doloso em segundo grau e os protestos dos ativistas, que pediam a acusação de assassinato, chegaram às portas de sua casa. O promotor geral de Minnesota, Keith Ellison, anunciou na sexta-feira que seu gabinete pegaria o caso e revisaria as acusações.

Nesta terça-feira são esperadas manifestações na rua em memória de Floyd. Biden, que receberá sua família na Casa Branca, pediu ao Congresso que acelere a reforma policial. A nova lei inclui a criação de um registro de condutas policiais inapropriadas e a proibição de algumas técnicas de imobilização como a que matou Floyd. Foi aprovada na Câmara de Representantes (deputados), de maioria democrata, mas precisa do apoio dos republicanos no Senado. As principais causas pelas que um homem negro tem mais probabilidades do que um branco de morrer em uma detenção policial, de exclusão e a desigualdade, continuam vigentes.

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