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O longo caminho da transição nos Estados Unidos até a posse de Biden em 20 de janeiro

Uma comissão especial se encarrega de que tudo esteja preparado para a data estipulada na Constituição para o início do novo mandato presidencial

A Casa Branca vista através das cercas de segurança instaladas em Washington para proteger os edifícios oficiais, em 2 de novembro de 2020.
A Casa Branca vista através das cercas de segurança instaladas em Washington para proteger os edifícios oficiais, em 2 de novembro de 2020.ERIN SCOTT (Reuters)
Yolanda Monge

Contrariando o que se poderia imaginar, a transição de poder nos Estados Unidos entre o presidente que sai e o que vence as eleições não começa no dia seguinte ao anúncio do resultado. A troca de guarda na Casa Branca, a preparação para entregar o comando se assim decidirem as urnas, começa extraoficialmente já no primeiro semestre do ano eleitoral. É uma margem de tempo vital para que a nova Administração esteja preparada para o dia da posse, que a Constituição estabelece em 20 de janeiro, chova ou faça sol.

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Em meados de maio deste ano, a Administração de Donald Trump iniciou esse processo de transição para a hipótese de que o democrata Joe Biden desalojasse o mandatário republicano da Casa Branca. A Administração enviou um relatório a dois comitês do Congresso informando sobre as atividades nesse sentido, ao mesmo tempo em que anunciava, como de praxe, a criação de um Conselho de Transição que assessoria todos os departamentos e órgãos governamentais em sua preparação para uma eventual transmissão do poder.

Mary Gilbert, veterana dos Serviços Gerais da Administração, foi formalmente convocada em abril para voltar a coordenar essa transição, uma função que já exerceu na passagem do democrata Barack Obama para Donald Trump em 2016/17.

Um dos atos que mais atraem as câmeras é o dia em que o presidente em final de mandato cumprimenta o sucessor eleito na Casa Branca. Quando Obama se reuniu com Trump 48 horas depois das eleições vencidas pelo magnata nova-iorquino, estava cumprindo a promessa de assegurar uma transição de poder “simples e sem sobressaltos”, como havia feito George W. Bush com ele. Obama declarou na ocasião, nos jardins da Casa Branca: “A transmissão pacífica de poder é uma das características da nossa democracia”.

Neste ciclo eleitoral, porém, esta máxima foi posta em dúvida em várias ocasiões, dada a recusa de Trump em garantir que cederia o poder, como é costume quando se perde uma eleição. Por enquanto, a capital da nação passou esta última semana blindando-se de possíveis brigas ou episódios de violência nas ruas, como consequência do resultado das urnas. É uma imagem dura de contemplar para a democracia norte-americana. Em circunstâncias normais, como em muitos outros países, o candidato perdedor, assim que são conhecidos os resultados na noite eleitoral, faz um pronunciamento admitindo sua derrota. Neste ano, Trump ainda insiste em não aceitar o resultado. Em 2012, Mitt Romney levou algum tempo para aceitar que tinha perdido para Barack Obama. Foi preciso esperar até 1h45 na Costa Leste dos Estados Unidos (3h45 em Brasília) para que jogasse a toalha. Comentou-se na época que nem sequer tinha um discurso preparado para a derrota, só havia redigido o da vitória.

A jornada eleitoral de 2016 continua sendo uma noite dura de lembrar para os democratas. Após constatar que havia perdido, Hillary Clinton não compareceu perante os milhares de seguidores que a esperavam no centro de convenções de Nova York. Só no dia seguinte, ao lado do marido, o ex-presidente Bill Clinton, iria proferir o discurso mais amargo de sua carreira política.

Entre o instante do anúncio do resultado a posse do ganhador, em 20 de janeiro de 2021, a equipe de transição terá tempo para escolher as pessoas adequadas para ocuparem alguns dos cargos mais importantes da Administração, embora seus nomes ainda permaneçam em segredo por algum tempo.

Um aspecto muito importante é que a partir do momento em que há um novo presidente —mesmo que ele só assuma em janeiro—, este já tem o direito de ser informado pelos serviços de inteligência sobre operações secretas ou temas sigilosos envolvendo atividades e governantes estrangeiros.

Uma mudança presidencial

Poucos mandatários disseram até hoje que sentiam saudade de morar na Casa Branca. Afinal de contas, por mais que se esforcem, não deixa de ser uma residência sem personalidade própria, rodeada de agentes do serviço secreto, apesar de a Ala Leste (a residência da família presidencial) esteja separada da Ala Oeste. Ali se encontra o coração da Administração, com seus principais assessores, acompanhados de sub-assessores que por sua vez são auxiliados por outros assistentes. Do que sentem falta seus ex-ocupantes —assim admitiu Obama— é do avião presidencial, o Air Force One, que o presidente em fim de mandato pode continuar usando até entregar o cargo em 20 de janeiro. No caso de Trump, que tem jato próprio, talvez seja diferente.

A mudança dos inquilinos também tem suas peculiaridades. A Casa Branca é oficialmente entregue no próprio dia 20 de janeiro, mas o presidente que sai e sua família não têm a obrigação de dormir até a última noite no imóvel da avenida Pensilvânia, 1.600, já que pouco a pouco irão deixando espaço para que os novos inquilinos adaptem a residência oficial ao seu gosto. A família Obama decidiu permanecer em Washington em 2016, embora seu lar estivesse em Chicago, porque sua filha mais nova estudava na cidade e eles não quiseram interromper seus planos educacionais.

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