Eleito nos EUA, Biden terá o desafio de controlar a pandemia e recuperar a economia
Democrata assumirá um país devastado pelo novo coronavírus, mergulhado na recessão econômica
O democrata Joe Biden, declarado vencedor nas eleições norte-americanas neste sábado segundo as projeções da imprensa norte-americana, assumirá em janeiro as rédeas de um Estados Unidos devastado pela pandemia, mergulhado na recessão econômica e com numerosos desafios urgentes. Estas serão algumas das principais prioridades que o esperam em sua mesa do Salão Oval da Casa Branca.
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A pandemia. Biden terá uma enorme influência na resposta à pandemia do coronavírus, que já ceifou cerca de 230.000 vidas no país. Há dois pontos fundamentais no papel o futuro mandatário na luta contra a crise sanitária. O primeiro será sua atitude em relação a ela, as recomendações que a Casa Branca fizer à população e o próprio exemplo que o presidente oferecer em questões como o uso de máscaras. O segundo será a relação que for estabelecida entre a pandemia e a economia. Até agora, Trump vinha agindo como se ambas pudessem ser separadas, pressionando pelo fim das restrições embora os contágios não cedam. Biden, por sua vez, afirma que não haverá normalidade econômica enquanto a pandemia não for controlada. A chegada do frio, com o aumento de casos em todo o país, sugere que a situação da crise sanitária pode continuar grave em janeiro, quando a próxima Administração tomar posse. A aprovação e a distribuição de uma vacina (quando esta chegar) e a gestão de seus efeitos, o controle da imunização e a progressiva volta à normalidade serão também responsabilidade do próximo Governo —e sua prioridade número um.
A crise econômica. Um segundo pacote de ajuda é necessário com urgência para uma economia que, após um ciclo de crescimento ininterrupto de 11 anos, enfrenta recessão devido à paralisação causada pelo coronavírus. O primeiro resgate —uma injeção sem precedentes de dinheiro público aprovada na primavera— já foi gasto em boa medida, e a negociação de um novo plano de estímulo está travado no Congresso, pois ambos os partidos não chegam a um acordo. Caberá ao novo Legislativo que sairá das urnas ―a disputa do Senado ainda depende da Geórgia― viabilizar o acordo. As características e as prioridades do resgate dependerão agora em grande parte de Biden.
A saúde. Cerca de 28 milhões de pessoas não têm acesso a um seguro médico no país que mais gasta com saúde (17,7% do PIB). Entre os que têm, a maioria recebe o seguro através de seu trabalho, e a pandemia destruiu 22 milhões de empregos —dos quais até agora apenas metade foi recuperada. Apenas sete dias após as eleições, a reforma da saúde de Barack Obama será submetida ao veredito da Suprema Corte, com uma sólida maioria conservadora reforçada pela nomeação in extremis da juíza Amy Coney Barrett. Na mesa de Biden, portanto, estará a definição da saúde pública num país sacudido pela pandemia. Os republicanos, que transformaram a derrubada do Obamacare numa obsessão, não apresentaram o plano para substituí-lo. Biden propõe ampliar os critérios para entrar na assistência gratuita, um passo menos que um sistema público e universal de saúde proposto pela ala esquerda de seu partido.
A mudança climática. Os devastadores incêndios da Califórnia, segundo os especialistas, são mais um claro sinal da urgência de agir contra a crise climática —que será sem dúvida um dos principais desafios do próximo Governo. A resposta dependerá de Biden. A necessidade de vencer em Estados mineiros e petroleiros levou o democrata a moderar seu discurso, afastando-se do Green New Deal, o ambicioso plano de descarbonização promovido pela ala esquerda dos democratas e defendido por uma geração de jovens muito mobilizados (Trump havia transformado o plano em sinônimo de socialismo radical).
O racismo. Um verão de mobilizações sociais sem precedentes colocou em destaque a profundidade da injustiça social sistêmica na sociedade norte-americana. O desproporcional impacto da pandemia e suas devastadoras consequências econômicas entre a população negra e latina deram ainda mais ênfase a um problema que a próxima Administração não poderá ignorar.
As tensões com a China. Dentro das diversas frentes abertas que o próximo Governo encontrará em matéria de política exterior, tudo indica que, seja quem for o ganhador, a chinesa será prioritária. Se em algo concordam republicanos e democratas é em defender uma atitude decidida ante a ameaça, comercial e tecnológica, representada pelo gigante asiático para o futuro dos EUA. Depois de uma atitude de inevitabilidade que pareceu guiar a presidência de Obama, esses quatro anos de Trump serviram para oficializar o que constitui uma segunda Guerra Fria. Selada em janeiro passado a primeira fase de um acordo com a China, com toda a pompa das grandes ocasiões, a guerra comercial continua aberta. Trump recrudesceu o tom nos últimos meses, prometendo represálias contra Pequim pelo que considera uma gestão opaca e hostil da crise do que denomina “o vírus chinês”.
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