Novo massacre deixa Colômbia de luto e evidencia crise de segurança no país
Pelo menos seis pessoas foram assassinadas por um grupo armado ilegal no departamento de Cauca, na mais recente de uma série de chacinas
O Cauca, um dos departamentos mais golpeados pela violência que não dá trégua na Colômbia, sofreu um novo massacre. Pelo menos seis pessoas foram mortas a tiros na localidade de Munchique, município de Buenos Aires, por um grupo armado ilegal, que também lhes atirou uma granada, enquanto se encontravam em uma gallera – os locais onde acontecem rinhas de galos no interior do país –, confirmou a Defensoria do Povo neste domingo. As forças de segurança e as autoridades judiciais se deslocaram até Munchique para determinar o que aconteceu. O ataque deixou também um número indeterminado de feridos.
Em 26 de abril, outras três pessoas haviam sido vítimas de uma chacina em Munchique, e a Defensoria, encarregada de velar pelos direitos humanos, emitiu desde então dois alertas advertindo para o iminente perigo de violência na região. “Insistimos na urgente necessidade de erradicar os fatores de violência que afetam os direitos e põem em constante perigo a vida dos colombianos. Fazemos um apelo à pronta resposta aos alertas precoces que temos emitido, para que sejam evitados fatos como o que estamos lamentando”, declarou o defensor do Povo, Carlos Camargo, que acaba de assumir o cargo.
A recente onda de chacinas desperta fantasmas do passado na Colômbia. Em agosto, várias matanças deixaram pelo menos 45 mortos, obrigando o presidente Iván Duque a reagir a um problema pretendia minimizar. O próprio mandatário anunciou a criação de uma Unidade Especial contra Homicídios Coletivos, embora se desconheçam avanços concretos nessa frente. Duque voltou suas atenções para a crise do coronavírus e vem há um semestre apresentando um programa diário de televisão sobre a pandemia, enquanto seu Governo enfrentou uma onda de críticas por insistir nesse termo, “homicídios coletivos” – que o Ministério de Defesa usou durante vários períodos – em referência às chacinas.
“Não é que voltaram, é que infelizmente esse fatos de homicídios coletivos nunca foram embora”, defendeu o presidente. Entre os indicadores de violência, o das chacinas especificamente pode ter diferentes critérios segundo a fonte, mas a deterioração nos dois anos de mandato de Duque fizeram todos os alarmes dispararem. O escritório de Direitos Humanos da ONU registrou 36 massacres em 2019, maior cifra de sua contagem desde 2014, e neste ano se encaminha para superar amplamente essa cifra. Segundo o Indepaz, uma ONG dedicada ao tema do conflito armado, já houve 60 massacres desde o começo do ano na Colômbia, sendo nove deles no Cauca.
Tanto o Cauca como o vizinho departamento de Nariño, perto do corredor do Pacífico e da fronteira com o Equador, são duas das regiões mais assediadas por grupos paramilitares, pelo Exército de Libertação Nacional (ELN), considerada a última guerrilha ativa na Colômbia, e por dissidentes da extinta guerrilha FARC, grupos que disputam entre si as rotas do narcotráfico e o controle do território.
O aumento dos massacres se soma ao incessante assassinato de líderes sociais e ex-combatentes que assinaram a paz, desenhando assim uma preocupante crise de segurança em muitas regiões retomadas. O acordo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), assinado no final de 2016, pretendia estender a presença do Estado, mas as autoridades não ocuparam o vácuo deixado pela que era a guerrilha mais antiga em atividade na América. A nova etapa de violência armada é mais fragmentada, sem atores dominantes, como foram as FARC e os paramilitares agrupados nas Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC). Um arquipélago de grupos armados se mantém ativo em diferentes regiões, mesmo em meio à pandemia.