Ministro da Saúde da Bolívia é preso por compra superfaturada de respiradores
Governo interino investiga o escândalo de corrupção desencadeado pela aquisição de 170 ventiladores pulmonares de uma empresa espanhola através de intermediários
O escândalo desencadeado na Bolívia pela compra de respiradores com superfaturamento milionário levou nesta quarta-feira à prisão do ministro da Saúde, Marcelo Navajas. Até ontem o responsável pela política de saúde do Governo interino descartava a existência de irregularidades na aquisição de 170 ventiladores pulmonares de uma empresa espanhola através de intermediários. Além dele foram presos dois consultores da instituição que financiou a operação, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que havia inicialmente apoiado a compra para fazer frente à covid-19. A situação de Navajas, que ainda não foi afastado do cargo, dependerá do curso da investigação policial.
Essas prisões, que se juntam à de um funcionário de nível médio, aconteceram horas depois de a presidenta transitória, Jeanine Áñez, encurralada por investigações jornalísticas, ter manifestado sua intenção de enfrentar o caso com mão dura. “Graças às denúncias nas redes e nos meios de comunicação iniciamos uma investigação sobre uma possível corrupção na compra dos respiradores espanhóis”. “Peço a prisão e ordeno todo o peso da lei contra aqueles que tiverem levado um único peso. Cada centavo de corrupção deve ser devolvido ao Estado”, disse Áñez no Twitter. Na semana passada, em uma cerimônia pública, ela havia anunciado a compra desses respiradores.
A imprensa boliviana determinou que cada um dos ventiladores pulmonares produzidos pela empresa catalã GPA Innova tem um preço de fábrica de 7.194 dólares (cerca de 40.950 reais). Mas o Governo interino pagou ―não à empresa, mas a um ou mais intermediários, um detalhe que ainda não foi esclarecido― mais de 4,7 milhões de dólares por 170 máquinas; isso significa que cada uma custou 28.000 dólares. O Executivo boliviano decidiu fazer a compra diretamente na Espanha, segundo os primeiros dados, por meio de seu cônsul em Barcelona, David Pareja, apesar de uma importadora local ter oferecido ao diplomata enviar os mesmos equipamentos ao país por 12.500 dólares a unidade.
Fontes da GPA Innova explicam em Barcelona que a empresa “vendeu os respiradores a um exportador pelo preço de tabela e a partir daí a responsabilidade é do exportador” e que “não têm conhecimento do preço final de venda”. As mesmas fontes indicam que o produto comercializado “é um respirador de emergência, do qual 100 unidades foram vendidas à Conselheira de Saúde do Governo catalão”, e que aguardam a homologação de um novo respirador, um modelo “advanced”. “Somos fabricantes especializados, não exportadores”, indicam as mesmas fontes.
Esses respiradores também foram contestados pelas associações médicas da Bolívia por uma razão diferente do preço. Em cartas e comunicados públicos os especialistas apontaram que esses aparelhos não eram para terapia intensiva, mas para assistência em emergências e, portanto, eram inadequados para atender pacientes com covid-19. Até ontem a Bolívia registrava 4.263 casos de covid-19 e 174 pessoas tinham morrido. Cerca de 81% dos casos estão nos Departamentos (Estados) orientais de Santa Cruz e de Beni, cujos serviços médicos estão em colapso. Como em outras partes do mundo, a necessidade mais sentida nesses lugares são leitos disponíveis nas poucas ―cerca de 67― unidades de terapia intensiva de que estas regiões dispõem.
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