Acusação de abuso sexual contra Biden turva a campanha do democrata contra Trump
Ex-funcionária dele no Senado acusa o presidenciável por fatos ocorridos em 1993 no Capitólio
Um dos primeiros problemas que a possível candidatura do ex-vice-presidente Joe Biden enfrentou na disputa pela indicação democrata foi seu comportamento com as mulheres. Quando ainda havia dúvidas sobre suas chances de assumir a liderança entre os muitos democratas que aspiravam a derrotar Donald Trump em novembro, duas denúncias de tratamento inapropriado a mulheres complicaram sua trajetória. Aquilo faz mais de um ano. Agora, quando já é o candidato consolidado na corrida democrata pela Casa Branca, uma nova acusação criminal irrompe na campanha.
Passou-se mais de um mês desde que Tara Reade, ex-funcionária de Biden quando ele ocupava uma cadeira no Senado, revelou publicamente uma acusação de agressão sexual contra Biden, que foi vice-presidente dos EUA no Governo Obama (2009-2017). Antes desta nova acusação, Reade já havia dito em 2019 que Biden a havia tocado “no pescoço e nos ombros” quando trabalhou para ele, de 1992 a 1993. A acusação de Reade agora chega mais longe. Segundo seu relato, um dia ela precisou levar uma bolsa com roupa de ginástica ao então senador, e ele a empurrou contra a parede quando a recebia, e então colocou uma mão sob sua saia e introduziu os dedos em sua vagina.
“Ele me sussurrava ao mesmo tempo em que tentava me beijar e me perguntava se não preferia ir para outro lugar”, declarou Reade em seu relato à agência Associated Press. “Lembro-me de querer lhe dizer que parasse, mas não sei se cheguei a dizer alto ou só pensei. Fiquei paralisada”, conta a mulher, que, segundo informa o The New York Times, mudou de nome após um casamento abusivo no final dos anos noventa, permanece solteira e tem uma filha. Quando finalmente Biden a deixou ir embora, Reade se recorda de notar surpresa na expressão do senador. “Ele me disse: ‘Puxa, eu tinha ouvido dizer que você gostava!’.”
Em meados deste mês, os jornais The Washington Post e The New York Times divulgaram extensas investigações sobre a suposta agressão sexual de Biden, algo que já tinha feito antes a publicação digital The Intercept, com a campanha de Biden negando os fatos. Nesta ocasião, o candidato democrata ainda não se pronunciou, embora no ano passado tivesse se referido ao assunto. Mas o cenário agora é totalmente diferente. Biden já é, na prática, o candidato democrata à presidência.
O veterano político manejou a crise do ano passado com um vídeo de pouco mais de dois minutos em que declarou, em tom contrito, que tinha recebido o recado. “Entendo, entendi”, afirmava. “As normas sociais estão mudando. Entendo, e ouvi o que essas mulheres estão dizendo”, disse Biden em relação às acusações de Lucy Flores e Amy Lappos. Flores relatou que as aproximações do então senador a haviam deixado “incômoda, repugnada e confusa”. “Não foi nada sexual”, acrescentou por sua vez Lappos, “mas me pegou pela cabeça e esfregou seu nariz no meu”.
Agora não se trata de discutir se o ex-vice-presidente tem ou não consciência da fronteira entre gentileza e assédio. Reade afirma que na época informou ao seu supervisor que havia sofrido assédio, mas não agressão, e que como consequência de sua queixa foi relegada a um segundo plano em seu trabalho até que acabou por deixá-lo. Segundo entrevistas à Associated Press e ao The New York Times, Reade não foi clara ao revelar o nome do responsável a quem se queixou e que lhe aconselhou que virasse a página. Antigos colaboradores de Biden não se recordam de ter lidado em nenhum momento com essa acusação contra o ex-senador.
Campanha de Biden nega as acusações
“Nunca vi nada, ouvi nada nem recebi nenhuma queixa de conduta inapropriada, nem da senhora Reade nem de ninguém”, disse à AP Marianne Baker, ex-assessora-executiva de Biden. Reade não recorda se alguém presenciou o ocorrido dentro do Capitólio (a sede do Congresso), mas várias pessoas rememoram de tê-la ouvido contar o episódio em 1993. Um amigo que pediu no anonimato e o irmão de Reade declararam neste mês a diferentes meios de comunicação que ela lhes narrou o fato naquela época.
Nesta semana, duas novas pessoas declararam ter mantido conversações com Reade sobre o assédio. Trata-se de Lynda LaCasse, vizinha de Reade em meados dos anos noventa, e de Lorraine Sanchez, que trabalhou com Reade entre 1994 e 1996. Segundo Sanchez, Reade lhe disse que tinha sofrido abuso sexual por parte de “seu ex-chefe enquanto estava em Washington” e que por causa disso teria sido “despedida”. Sanchez não se lembra se Reade mencionou especificamente o nome de Biden.
A queixa que Reade afirma ter apresentado quando os fatos ocorreram não pôde ser localizada pelos meios de comunicação que investigam a história. Reade acredita que pode estar guardada com os arquivos do ex-senador na Universidade de Delaware, e estes só serão tornados públicos dois anos depois que Biden deixar a vida pública e política. No começo deste mês, Reade fez um boletim de ocorrência policial no Distrito de Columbia (onde fica Washington) dizendo ter sido agredida em 1993, mas sem citar Biden, como forma de se proteger das ameaças que está recebendo.
A própria Reade quis vir a público antes dos demais e explicar por que só revela agora algo que, segundo ela, aconteceu há mais de um quarto de século. Primeiro, Reade diz que sua motivação não é política, apesar de que ela ter apoiado Elizabeth Warren e Bernie Sanders nas primárias democratas. Segundo, Reade declara que durante o período em que Biden foi vice-presidente ela manteve silêncio porque sua filha era adolescente e também porque gostava de Obama. E, terceiro: o mundo era muito diferente antes da época do #MeToo.
Reade quer que Biden se pronuncie. E quer ser ouvida de maneira “justa e objetiva”, segundo declarações ao site Insider. Isto já não está acontecendo, segundo a implicada. E Biden mantém o silêncio. Só sua equipe de campanha se pronunciou.
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