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Trump pretende afrouxar as restrições antes de 12 de abril, enquanto casos de Covid-19 disparam nos EUA

Desafiando os especialistas, presidente defende que “se perderá mais gente se o país mergulhar em uma recessão enorme”

O presidente Donald Trump durante entrevista coletiva.
O presidente Donald Trump durante entrevista coletiva.Contacto (Europa Press)
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WASHINGTON, DC - MARCH 17: U.S. Senate Minority Leader Sen. Chuck Schumer (D-NY) speaks as Senate Minority Whip Sen. Richard Durbin (D-IL) and Sen. Debbie Stabenow (D-MI) listen during a news conference at the U.S. Capitol March 17, 2020 in Washington, DC. Senate Majority Leader Sen. Mitch McConnell said the Senate will pass the House coronavirus funding package in response to the outbreak of COVID-19.   Alex Wong/Getty Images/AFP
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A Public Health worker gives a flu vaccine to a man at a drive-through model in Tijuca neighbourhood in Rio de Janeiro, Brazil, on March 24, 2020. - The Rio de Janeiro state government is requesting people not to go to the beach or any other public areas as a measure to contain the coronavirus pandemic. (Photo by Mauro PIMENTEL / AFP)
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Donald Trump quer que os norte-americanos voltem ao trabalho o quanto antes, apesar do coronavírus. Deixou isso claro, em cada oportunidade que teve, desde domingo à noite. Nesta terça-feira, enquanto o número de casos confirmados se multiplica no país, o presidente se aventurou inclusive a marcar uma data para o fim das medidas de confinamento. “Adoraria ter o país aberto para o domingo de Páscoa.” Que cai no dia 12 de abril. Daqui a 19 dias. O domingo de Páscoa será “o dia da ressurreição dos Estados Unidos”, disse no jardim da Casa Branca Bill Hemmer, apresentador do programa da Fox News que substituiu a habitual entrevista coletiva diária.

“Você pode destruir um país se o desligar”, disse Trump. “Perdemos milhares de pessoas todos os anos devido à gripe e nunca fechamos o país. Perdemos muito mais gente em acidentes de automóvel e não o proibimos. Podemos nos distanciar socialmente, podemos deixar de apertar as mãos por um tempo. Morrerá gente. Mas perderemos mais gente se mergulharmos o país em uma recessão ou uma depressão enorme. Milhares de suicídios, instabilidade. Você não pode fechar os Estados Unidos, o país mais bem-sucedido. As pessoas podem voltar ao trabalho e praticar o bom senso.” “O remédio é pior que a doença”, acrescentou, “mais gente morrerá se deixarmos que isto continue”.

Os Estados Unidos entraram em sua segunda semana de contenção da expansão do coronavírus na segunda-feira. Os casos confirmados se multiplicam e se aproximam dos 50.000 nesta terça-feira. Já é o terceiro país mais afetado. A cidade de Nova York, que concentra mais de 60% dos casos do país, tornou-se um dos epicentros globais da pandemia, com uma taxa de contágio que dobra a cada três dias.

Ao mesmo tempo, as medidas decretadas de distanciamento social causaram uma desaceleração sem precedentes na economia. As ações de Wall Street perderam um terço de seu valor em um mês. Os analistas esperam que a economia encolha até 30% no segundo trimestre do ano e que a taxa de desemprego dispare até 13%. No pior momento da recessão de 2008, os Estados Unidos perderam 800.000 empregos por mês. Agora, alertam os especialistas, o país pode estar perdendo vários milhões em uma semana.

Entre governos e autoridades médicas o consenso é que a melhor maneira de deter a propagação do vírus é manter os cidadãos em casa e fechar os estabelecimentos não essenciais. Há evidências empíricas. A China conseguiu achatar a curva com uma estratégia de fechamento máximo. O Reino Unido tentou uma abordagem diferente, mas teve de recuar e ordenar o confinamento. Hong Kong conseguiu conter a disseminação decretando o distanciamento e, depois de afrouxar as medidas rigorosas cedo demais, assistiu a um aumento do número de casos.

Mas nos últimos dias a convicção de que o impacto na economia poderia ser mais grave para o país do que o coronavírus ganhou força entre certas vozes conservadoras e do mundo empresarial nos Estados Unidos. A Administração Trump estuda abrir setores da economia, isolar populações vulneráveis e permitir que os jovens trabalhem. Na próxima segunda-feira expira o período de 15 dias de vigência das diretrizes publicadas pelo Governo federal. Nesse dia, explicou o vice-presidente Mike Pence: “vamos reavaliar como podemos começar a abrir o país de maneira responsável nas próximas semanas”.

A postura encontra eco nos círculos empresariais. “As medidas extremas para achatar a curva do vírus são razoáveis, durante um tempo, para aliviar a pressão na infraestrutura de saúde. Mas destruir a economia, o emprego e o moral também é uma questão de saúde e mais do que isso. Em muito poucas semanas, deixemos aqueles com menor risco voltar ao trabalho”, disse no Twitter Lloyd Blankfein, ex-CEO do Goldman Sachs.

A urgência de voltar ao trabalho também é manifestada por políticos de todas as tendências. Alguns vão muito longe, como o vice-governador do Texas, Dan Patrick, de 70 anos. “Ninguém me perguntou se, como pessoa idosa, eu estaria disposto a arriscar minha sobrevivência para manter os Estados Unidos que amamos para meus netos e bisnetos. Se esse é o trato, eu aceito”, disse. Outros, como o democrata Andrew Cuomo, governador de Nova York, reconhecem que “não se pode paralisar a economia para sempre”. “Devemos começar a pensar sobre se todo mundo deve ficar sem trabalhar? Os jovens deveriam voltar a trabalhar antes?”, perguntou na segunda-feira.

A ideia também é levantada por acadêmicos de prestígio, como David L. Katz, especialista em saúde pública e medicina preventiva da Universidade de Yale, que defende um trânsito da “proibição horizontal” que é a norma para uma “mais vertical” ou “cirúrgica”, focada em concentrar os recursos na população mais vulnerável e colocar o resto na rua com as recomendações próprias de uma temporada de gripe. “Estou profundamente preocupado que as consequências sociais, econômicas e de saúde pública desse colapso quase total da vida normal possam ser duradouras e calamitosas, possivelmente mais graves do que o preço direto do próprio vírus”, escreveu Katz em um artigo publicado pelo The New York Times na sexta-feira.

Mas entre as autoridades sanitárias continua imperando a defesa de manter as restrições. Entre aqueles que não compartilham uma mudança brusca nas prioridades está o prestigioso epidemiologista Anthony Fauci, um homem-chave na estratégia contra o coronavírus na Casa Branca, que reiterou em várias ocasiões que é preciso que passem “ao menos” várias semanas para que as pessoas possam retomar sua vida normal. Trump reconheceu suas diferenças nesse ponto. “Não estamos de acordo”, admitiu o presidente na segunda-feira. Trump insistiu na terça-feira que sua relação com Fauci permanece boa. Mas o especialista, que acompanhava o presidente até recentemente em quase todas as entrevistas coletivas sobre o coronavírus, não esteve presente nas duas últimas dadas pela da equipe de trabalho. “Se dependesse dos médicos”, disse Trump, “diriam que parássemos o mundo inteiro”.

Durante seus três anos de presidência, agitada em muitos campos, Donald Trump cavalgou por um período extraordinariamente longo de expansão econômica. O presidente construiu sua campanha à reeleição com base no argumento do vigor da economia e se recusa a ver como tudo vai pelos ares a menos de oito meses das eleições nas quais se decidirá se ele entra na história como um presidente de um único mandato ou de dois.

Adotar as medidas de restrição por causa do coronavírus, disse Trump na terça-feira, foi “uma das decisões mais difíceis” que tomou. “Vieram e me disseram praticamente que era preciso fechar o país”, explicou. “Estão falando sério? Com pleno emprego? Do que estamos falando? Falam de perder 25 pontos de PIB. Já tivemos conflitos antes. Há 36.000 mortes por ano devido à gripe. Pensem nisso. Mas nunca fechamos o país por causa da gripe. Isso nunca foi feito. Dei a eles duas semanas. Agora eu avaliarei, daremos um pouco mais de tempo se for necessário. Mas é preciso abrir o país.”

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