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Trump declara emergência nacional para frear o coronavírus

Administração norte-americana busca acelerar a produção do exame, enquanto Congresso negocia o plano de resgate econômico

Trump durante entrevista coletiva nesta sexta-feira.
Trump durante entrevista coletiva nesta sexta-feira.Evan Vucci (AP)
Amanda Mars
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Donald Trump declarou emergência nacional para frear a propagação do coronavírus nos Estados Unidos, o que na prática lhe permite mobilizar mais recursos públicos para Estados e municípios, conforme anteciparam fontes da Administração a diferentes veículos de comunicação locais. O presidente anunciou a medida na tarde desta sexta-feira numa entrevista coletiva dos jardins da Casa Branca, em plena escalada da pandemia em todo o mundo e com a vida dos norte-americanos completamente alterada: um grande número de escolas e universidades fechados, competições esportivas suspensas, atividades culturais canceladas e milhões de pessoas trabalhando de casa.

A medida permitirá utilizar 50 bilhões de dólares disponíveis no fundo especial para desastres, deixa a coordenação da reação à crise nas mãos da Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA, na sigla em inglês) e amplia os poderes do secretário de Saúde, Alex Azar. Para Trump, este passo é um novo ponto de inflexão depois do veto às viagens procedentes da Europa ―exceto o Reino Unido― e depois de semanas tratando de minimizar a gravidade da ameaça representada por esta pandemia.

A Administração norte-americana tomou as primeiras medidas com rapidez, dada a expansão do coronavírus na Ásia e Europa, mas Trump se mostrou muito errático em seu discurso, inclusive tratando o problema de forma frívola. Na quarta-feira, durante sua mensagem solene à nação, chegou a provocar uma enorme confusão com erros importantes, como ao declarar que o veto das viagens afetaria também os transportes. Nesta quinta-feira, durante a coletiva para anunciar a declaração de emergência, também surpreendeu apertando as mãos de vários dos presentes, como executivos de laboratórios farmacêuticos, e descumprindo assim uma das normas de precaução mais básicas desta crise para reduzir os riscos de contágio.

O republicano também se gabou da gestão do seu Governo até agora. Recordou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) acaba de declarar a Europa como o novo epicentro da crise, e que os EUA “fecharam essa fronteira faz algum tempo”, medida mal recebida pela União Europeia. “Podem chamar de sorte ou talento”, acrescentou o mandatário. A partir da meia-noite desta sexta, nenhum estrangeiro que tiver passado por algum país do espaço Schengen nos últimos 14 dias pode entrar nos EUA, e os norte-americanos ou residentes permanentes deverão se submeter a uma revisão ao desembarcar e a uma quarentena, conforme recordou o republicano.

Os Estados Unidos ainda são um país pouco afetado em termos relativos ―1.700 casos confirmados e 41 mortes numa população de 327 milhões de pessoas―, mas os especialistas alertam que a cifra crescerá, e a queixa pela falta de exames para pessoas com sintomas se multiplicaram. As cifras oficiais do CDC (órgão público responsável pelo controle de doenças infecciosas) são desanimadoras, pois quantificam em 3.903 os exames realizados pela instituição, e em menos de 10.000 os feitos em laboratórios públicos. Para acelerar sua produção, a agência norte-americana de medicamentos autorizou o laboratório farmacêutico suíço Roche a vender exames aos seus laboratórios, e o Departamento de Saúde injetará recursos para outras empresas (DiaSorin Molecular e Qiagen) para desenvolver análises que proporcionem resultados rápidos (em uma hora).

Trump anunciou que o Google está trabalhando em desenvolver um site que ajude a administrar os controles. Também salientou que o objetivo não é que “todo mundo faça o exame, o que é totalmente desnecessário”, e sim quem tiver sintomas. O presidente não o fez.

A declaração de emergência por motivos de saúde é uma medida excepcional que nos últimos 60 anos só foi aplicada duas vezes devido a um surto infeccioso, a última pelo presidente Bill Clinton em Nova York e em Nova Jersey, em 2000, por causa do vírus do Nilo Ocidental, segundo dados da Bloomberg, que antecipou a notícia.

Enquanto isso, democratas e republicanos concluem seu acordo no Congresso para aprovar um pacote de medidas econômicas que alivie os prejuízos causados por esta crise para milhões de famílias, num país onde a maior parte dos trabalhadores não pode se beneficiar de licenças por doença. Além disso, muitos funcionários do setor serviços ganham por hora, o que, por exemplo, com restaurantes a meio gás ou fechados, pode significar um grave buraco econômico para os trabalhadores.

Ao menos até o começo da tarde desta sexta, os partidos discordavam sobre quantos norte-americanos afetados pela doença deveriam ter direito a licença médica financiada com dinheiro público. A presidenta da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, anunciou nesta sexta-feira que colocaria em votação um projeto de lei que “põe as famílias em primeiro lugar” e cujos três pilares mais importantes são: “testes, testes, testes”, em referência aos exames para diagnosticar o vírus. A legislação, disse Pelosi, “garante exames de coronavírus gratuitos para quem precisar, inclusive para quem não tiver seguro médico” [há 29 milhões de norte-americanos nesta situação]. Também inclui duas semanas de licença médica paga e um seguro-desemprego para quem perde seu trabalho como consequência da desaceleração econômica provocada pela pandemia, acrescentou, sem especificar os detalhes de cada medida.

A Câmara de Representantes, de maioria democrata, pode aprovar este texto sem problemas, mas o respaldo republicano é necessário no Senado, que o ratifica, e é de maioria republicana. A Câmara Alta suspendeu o recesso previsto para a próxima semana a fim de aprovar esta importante legislação.

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