_
_
_
_

Índia executa quatro condenados pelo estupro que fez país despertar contra a violência machista

Brutal agressão em grupo de 2012 em Nova Déli contra uma jovem, que morreu dias depois, provocou onda de protestos

Asha Devi, mãe de Nirbhaya, comemora a execução dos estupradores e assassinos de sua filha na sexta-feira em Nova Délhi.
Asha Devi, mãe de Nirbhaya, comemora a execução dos estupradores e assassinos de sua filha na sexta-feira em Nova Délhi.AFP

A Índia enforcou ao amanhecer de sexta-feira os quatro condenados pela brutal tortura e estupro coletivo de uma jovem estudante em 2012. A jovem acabou morrendo dias depois. Após vários adiamentos da sentença, o desenlace do chamado caso Nirbhaya (“a valente”, em hindi) é a primeira execução de uma pena de morte no país desde 2015, e encerra o processo por um crime que chocou o mundo, mostrou os níveis de violência contra a mulher na Índia e fez sua sociedade reagir ao alarmante histórico de crimes machistas no país asiático.

Mais informações
23 anos de prisão para Harvey Weinstein
Activistas participan en una protesta en Nueva Delhi (India), el 7 de diciembre.
‘Um estuprador em seu caminho’, o grito feminista chileno chega à Índia
Petita Albarracín, mãe de Paola Guzmán, vítima de violação sexual em um colégio no Equador.
O estupro de uma menina como autópsia do patriarcado

“Hoje foi feita justiça depois de sete anos”, disse Asha Devi, a mãe da vítima, aos jornalistas reunidos na prisão de Tihar, na periferia de Nova Déli, na qual os condenados foram enforcados. “Parabenizo a Justiça indiana e agradeço a Deus por ouvir nossas preces. A alma da minha filha já pode descansar em paz.” Nos arredores da penitenciária, centenas de policiais controlavam manifestantes que se reuniram para a execução. Com cartazes dizendo “Justiça para a mulher” e “Forca para os culpados”, a multidão esperava o cumprimento de uma sentença ditada em 2013. A execução estava prevista para janeiro deste ano, mas foi adiada após várias apelações dos condenados.

A crueldade do crime, ocorrido em 16 de dezembro de 2012, quando um grupo de seis homens estuprou e torturou uma fisioterapeuta de 23 anos em um ônibus da capital, mobilizou as autoridades da Índia. Estas resolveram o caso e emitiram o veredicto com uma rapidez e um rigor sem precedentes. A polícia identificou os seis culpados em poucos dias e, em apenas nove meses, quatro deles −outro morreu em sua cela e o sexto, menor de idade, foi enviado a uma instituição correcional− foram condenados à morte. Os protestos massivos de amplos setores da sociedade indiana colocaram a segurança das mulheres, relegada anteriormente ao âmbito privado e familiar, no topo da agenda política e midiática, contribuindo para dar visibilidade à violência machista e ao nascimento de movimentos feministas como o Me Too indiano, cinco anos depois.

O caso Nirbhaya também provocou mudanças no campo legislativo, levando à criação de uma comissão governamental que impulsionou a reforma das leis sobre crimes sexuais e ao estabelecimento de tribunais especiais, juntamente com o Fundo Nirbhaya para a indenização de sobreviventes e famílias. No entanto, as ativistas criticam o cumprimento apenas parcial das recomendações do Comitê de Justiça Verma, criado após esse crime —que incluíam o amparo às sobreviventes nos âmbitos administrativo, policial e judicial. Do ponto de vista penal, a Índia tipificou crimes como o voyeurismo e o assédio sexual, além de incluir, em 2018, a pena de morte para estupradores de menores de 12 anos, devido ao caso de uma menina muçulmana na Caxemira.

As estatísticas relativas à violência machista na Índia continuam sendo desanimadoras e fazem com que o país seja considerado um dos piores do mundo para a mulher. Segundo dados publicados há um mês pelo Governo, em 2018 uma mulher era estuprada a cada 15 minutos no país. Os 34.000 estupros registrados naquele ano não variaram muito em relação aos casos denunciados no anterior. O que é pior é que apenas 85% desses casos foram considerados crimes, e só 27% acabaram em condenações. Esse é um dos principais motivos pelos quais grupos de defesa dos direitos humanos denunciam a falta de eficácia do endurecimento das penas se estas não forem acompanhadas pelo cumprimento rigoroso da legislação já existente.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_