Direita de Netanyahu lidera resultado das eleições de Israel
Com 90% dos votos apurados, primeiro-ministro comemora guinada eleitoral. Israel registra alta participação nas terceiras eleições em menos de um ano
Nas terceiras eleições realizadas em Israel em menos de um ano, a direita de Benjamin Netanyahu lidera os resultados, com 59 das 120 cadeiras em disputa em uma inesperada guinada eleitoral. Nesta terça-feira, 90% dos votos já foram apurados e o primeiro-ministro comemorou os resultados preliminares. “É a vitória mais importante da minha vida”, disse ele. A lenta contagem oficial, devido a um novo sistema de verificação que atrasa a publicação dos resultados, atribui 36 deputados ao Likud de Netanyahu, contra 32 da aliança centrista Azul e Branco, liderada pelo ex-general Benny Gantz. O aumento da participação nas eleições, que chegou a 71% no fechamento das urnas, parece ter sido fundamental para colocar fim ao bloqueio político.
Enquanto os resultados das forças ultraortodoxas e de extrema-direita aliadas de Netanyahu mantiveram seus números em relação às eleições de setembro, o bloco de oposição, a esquerda trabalhista e pacifista se diluiu e retrocedeu entre quatro e cinco cadeiras em relação às onze que tinha. A alta mobilização do eleitorado de origem palestina, um quinto da população israelense, permitiu que a Lista Conjunta árabe atingisse uma destacada representação de 14 a 15 parlamentares, que a ratifica como terceira força do Kneset (Parlamento).
Nem mesmo a apatia reinante durante a campanha após dois processos eleitorais que deram resultados não concludentes e o temor pelo contágio do coronavírus parecem ter desanimado os eleitores israelenses. Nas duas últimas legislativas, a participação se aproximou de 70%, na média habitual de abstenção em Israel. A duas horas do fechamento dos colégios (20h hora local, 15h de Brasília), haviam votado 1,2 pontos a mais do que nas eleições de setembro, de acordo com a informação divulgada pela Comissão Eleitoral Central.
A imprensa israelense destacou que esse aumento na taxa de afluência aos colégios eleitorais é o maior em 20 anos, quando o trabalhista Ehud Barak derrotou nas urnas o à época primeiro-ministro Netanyahu após seu primeiro mandato (1996-1999). O analista político Daniel Kupervaser acredita que o forte aumento do índice de votação entre a minoria árabe, e a ida às urnas de muitos eleitores ultraortodoxos e colonos dos assentamentos, estão na origem mais plausível dessa guinada na tendência eleitoral favorável a Netanyahu.
De acordo com as últimas pesquisas autorizadas na campanha publicadas na sexta-feira, as eleições poderiam reeditar o bloqueio político. Mas as previsões sobre um aumento da abstenção pelo medo do coronavírus refletidas em várias pesquisas não se cumpriram. As televisões israelenses mostravam imagens de longas filas de pessoas em quarentena voluntária em suas casas diante de colégios especiais de votação. Um deles, megafone nas mãos, pediu para não ser tratado como “um leproso”. Mais de 4.000 dos 5.000 eleitores submetidos a isolamento pelo risco de estarem contaminados pelo coronavírus foram depositar seu voto com luvas e máscaras em alguns dos 18 centros de voto feitos em tendas de campanha sob a supervisão de responsáveis de saúde.
A aliança conservadora com radicais religiosos e nacionalistas de extrema-direita que apoia o primeiro-ministro Netanyahu – de 70 anos, chefe de Governo desde 2009 de maneira ininterrupta –, já havia se recuperado nas pesquisas anteriores, marcando uma tendência à ruptura do empate.
O bloco de centro-esquerda que respalda seu rival, o centrista Benny Gantz, de 60 anos, também procurou o apoio de trabalhistas e pacifistas para superar o bloqueio, previsivelmente com apoio parlamentar externo dos partidos árabes.
Ao depositar seu voto em Jerusalém, Netanyahu pediu para vencer o temor ao coronavírus. “Está totalmente controlado pelos responsáveis de saúde”, afirmou, “todos podem ir às urnas e votar com confiança”. O primeiro-ministro aumentou sua presença pública na reta final da campanha para mobilizar seus partidários, aparentemente com bons resultados.
Chegar a uma maioria de pelo menos 61 das 120 cadeiras do Kneset (Parlamento) é o objetivo da atual coalizão conservadora, do qual se aproxima segundo as pesquisas de boca de urna, junto com as cadeiras dos dois grandes partidos ultraortodoxos judeus – União pela Torá e o Judaísmo (ashkenazi) e Shas (oriental ou sefardita) – e os da extrema-direita nacionalista da aliança Yamina – liderada pelo ministro da Defesa, Neftali Bennet –. O Likud ficou às portas do poder.
O empate técnico entre blocos que forçou a sucessiva repetição das eleições após as legislativas de abril e setembro de 2019 também pairou sobre seus rivais da centro-esquerda, o partido Azul e Branco e seus prováveis aliados em uma eventual votação de investidura de Gantz. Agora os números não os acompanham em suas expectativas.
Após as eleições anteriores, os partidos árabes já garantiram a Gantz apoio parlamentar externo para tirar Netanyahu do poder, o chefe de Governo que há mais tempo ocupou o cargo na história do Estado hebreu, mais de 13 anos, acima dos mandatos do fundador de Israel David Ben Gurion.
A chave da governabilidade pode, afinal, continuar nas mãos do ex-ministro de Defesa Avigdor Lieberman, cujo partido conservador laico Israel Nossa Casa será o único capaz de romper o empate com seus votos se decidir por um dos blocos, se os apertados resultados das pesquisas de boca de urna se confirmarem.
O primeiro-ministro israelense se comprometeu em campanha a acelerar a anexação dos assentamentos judeus na Cisjordânia e do vale do Jordão, localizados em território palestino ocupado. O anúncio do plano de paz do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, efetuado em janeiro na presença de Benjamin Netanyahu, contribuiu para deter a queda do líder do Likud nas pesquisas após ter sido incriminado pelo promotor-geral em três casos de corrupção. No próximo dia 17 está marcada uma ida ao tribunal que julga seu caso.
Na oposição, o centrista Benny Gantz convidou os israelenses a “virar a página” após a longa década de poder de Netanyahu. “Vamos empreender uma mudança para colocar fim aos abusos e às mentiras”, anunciou o ex-general.
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