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Achado morto em Lisboa o gestor financeiro da mulher mais rica da África, investigada por corrupção

Nuno Ribeiro da Cunha havia sido acusado formalmente pelo Ministério Público de Angola

Isabel Dos Santos, em 2018, na sede da Efacec, empresa que comprou com um financiamento do Estado angolano.
Isabel Dos Santos, em 2018, na sede da Efacec, empresa que comprou com um financiamento do Estado angolano.MIGUEL RIOPA (AFP)
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O caso de corrupção contra Isabel dos Santos, considerada a mulher mais rica da África, está ficando mais intrincado. Nuno Ribeiro da Cunha, diretor do banco privado português Eurobic, 45% de propriedade da filha do ex-presidente angolano José Eduardo Dos Santos, foi encontrado morto na noite de quarta-feira na garagem da sua casa em Lisboa. Fontes policiais indicam a hipótese de que Ribeiro da Cunha cometeu suicídio.

Ribeiro da Cunha é um dos quatro portugueses acusados ​​formalmente pelo Ministério Público de Angola por crimes de lavagem de dinheiro atribuídos a Isabel dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos, que foi presidente de Angola durante 37 anos. As autoridades angolanas a acusam de causar prejuízos aos cofres públicos equivalentes a 9,2 bilhões de reais, principalmente por meio da Sonangol, a companhia estatal de petróleo que ela presidiu por designação de seu pai, no poder até 2017.

Ribeiro da Cunha se tornou a primeira fatalidade no caso após a publicação dos esquemas financeiros da família Santos. Além disso, o braço direito de Isabel dos Santos, Mário Leite da Silva, renunciou ao cargo de presidente do Banco de Fomento de Angola ―52% de participação de Isabel Dos Santos―, embora em sua demissão ele ressalte que a decisão não tem nada a ver com o caso Luanda Leaks, a investigação jornalística internacional que analisou mais de 7.000 arquivos relacionados ao império da mulher considerada a mais rica da África.

O Ministério Público angolano acusou outros três portugueses, incluindo Sarju Roikundalia, de origem indiana, administrador financeiro da Sonangol, que supostamente colaborou na transferência de dinheiro dessa empresa para outras. Após a destituição de Isabel dos Santos pelo novo presidente do país, João Lourenço, a transferência de dinheiro da estatal para empresas privadas da primogênita do ex-presidente foi acelerada. Paula Oliveira também é acusada por essas operações. Segundo os documentos do Luanda Leaks, ela se encarregou da transferência do equivalente a 460 milhões de reais para uma empresa de Santos em Dubai, justificada por várias consultorias.

O escândalo financeiro começa a envolver cada vez mais advogados e banqueiros de Portugal, porque, depois de Angola, é o principal país onde a chamada rainha da África desenvolveu suas atividades, com mais de cem empresas. O efeito dominó já chegou à principal operadora de comunicações, a Nos, em que empresas de Santos têm metade da participação. O presidente não executivo, o advogado Jorge Brito Pereira, foi chamado a depor pelo comitê de ética da empresa, além de outros dois executivos de Santos, Leite da Silva e Paula Oliveira.

Antes de o Banco de Portugal tomar qualquer decisão sobre o Eurobic, que é o centro de todo o esquema financeiro de Santos no país, este pequeno banco pôs à venda de 45% de suas ações.

A suposta permissividade ou falta de controle das autoridades portuguesas ante as transações financeiras da acusada ameaça também afetar o Governo. Na sede parlamentar, o ministro das Relações Exteriores, Augusto Santos Silva, referiu-se ao duvidoso cumprimento da lei pelas empresas de Isabel dos Santos. Após acusações de Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, o primeiro-ministro António Costa reafirmou que nunca houve tratamento favorável pelo Governo. “Não houve tratamento especial, nem de favor nem de desfavor”, disse ele. “O que nos interessa é colaborar plenamente com as autoridades angolanas”, acrescentou.

Após a formalização das acusações em Angola, os procuradores gerais daquele país e de Portugal se reuniram nesta quinta-feira em Lisboa para acelerar a investigação. Os acusados ​​têm suas contas embargadas em Angola desde o final do ano passado, mas se espera que o Ministério Público angolano peça o mesmo também em Portugal.

O escândalo também agitou as águas socialistas. O flagelo de Isabel dos Santos, a ex-eurodeputada socialista Ana Gomes, que denunciou seus investimentos por muitos anos ―em 2015 ela já havia proposto ao Parlamento Europeu uma investigação sobre sua fortuna―, está sendo promovida a uma candidatura à presidência da República pela ala mais crítica do Partido Socialista. Ela a rejeitou porque quer continuar lutando contra a corrupção e, além disso, não tem apoio no aparato do partido, liderado por António Costa.

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