Coronavírus tinge de vermelho as Bolsas latino-americanas pelo quarto dia consecutivo
O medo da epidemia dispara nos pregões regionais ao som das perdas generalizadas na Europa e nos Estados Unidos
O medo inicial do coronavírus por parte do mundo econômico se transformou em pavor e deu o salto definitivo para a América Latina. As principais Bolsas da região já acumularam quatro dias consecutivos de baixa ―cinco no caso do Brasil― pelo medo de que a epidemia atinja com força tanto a economia real quanto os resultados das empresas. Os números são expressivos: na quarta-feira, o pregão brasileiro recuou 7% depois da divulgação do primeiro caso no país e em toda a América Latina e continuou em queda na sessão desta quinta-feira, quando fechou com queda de 2,59%. Além disso, o dólar fechou a 4,47 reais, depois de ultrapassar a marca histórica de 5 reais. Enquanto isso, o principal índice da Bolsa mexicana enfrenta o pior dia da semana e cai mais de 2%, arrastado pelas grandes perdas na Europa e nos Estados Unidos.
O impacto, que começou sendo unicamente asiático, já é global: três trilhões de valorização foram varridos do mapa em poucas sessões em apenas uma semana, com praticamente todos os índices do mundo no vermelho e com os setores da aviação comercial e do turismo como principais prejudicados. Exceto por uma recuperação de última hora nesta sexta-feira, Wall Street encerrará sua pior semana desde 2008 ―o Dow Jones e o S&P500 caíram 4,4% nesta quinta-feira e o Nasdaq, 4,6%, se arrastando para a zona de correção, que ocorre quando o índice marca uma queda de mais de 10% em relação à sua última alta― e as Bolsas europeias se aproximam de seu maior baque desde 2011, em plena crise de dívida e com os bancos do Velho Continente em plena recapitalização. Embora com alguma defasagem, o impacto chegou à América Latina e com força, com uma sensação generalizada de que a tempestade pode durar semanas.
As moedas de referência na região também estão sofrendo o revés da epidemia originada em Wuhan (China). Exatamente quando o panorama começava a ficar claro com o princípio do acordo comercial entre os Estados Unidos e o gigante asiático, que reduzia a tensão, o coronavírus apareceu como um enorme elemento de distorção no mercado de moedas. O real brasileiro aprofundou sua queda na quinta-feira, atingindo a mais baixa cotação da história, em torno de 4,5 unidades por dólar; situação semelhante à que atravessa o peso chileno, também na menor cotação histórica. E, embora partindo de um nível notavelmente mais confortável, tanto o peso mexicano ―a moeda de maior liquidez do bloco emergente― quanto o peso colombiano também acumulam uma longa semana em baixa.
Ainda é muito cedo para ter uma medida real de quanto será o impacto macroeconômico. Na próxima semana, quando a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) atualizar suas previsões, se começará a pisar em terreno um pouco mais firme em termos de dados duros, com um primeiro termômetro da situação. Os investidores, no entanto, já tomaram posições, antecipando um curto-circuito não menos importante na sala de máquinas de uma economia, a mundial, que já vinha claudicando nos últimos trimestres. E a reação foi a esperada nesses casos: uma fuga em debandada dos ativos de risco (Bolsa e moedas emergentes, especialmente), buscando refúgio em títulos (os norte-americanos estão em valores mínimos, pressionados para baixo pelo drástico aumento da incerteza), no ouro (que atingiu sua maior cotação em um ano, perto dos 1.700 dólares a onça) e em moedas como o iene e o dólar, apesar de que muitos investidores já começam a incorporar uma próxima redução da taxa de juros do Federal Reserve.
No caso latino-americano, os mercados incorporam, além de uma pior perspectiva macroeconômica e de resultados das empresas, a queda nos preços das principais matérias-primas: como exportadora de petróleo, cobre, ferro e soja, entre outros, a região acusa a perda de valor dessas commodities ―das quais a China, de longe o país com maior incidência do vírus, é o primeiro cliente―, que atinge sua balança comercial. O caso do cobre é paradigmático: a queda dos últimos dias deixa em posição complicada o Chile, principal produtor mundial, e o Peru, país que o segue.