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Will Smith cogitou matar o próprio pai pela violência que sua mãe sofria

Em sua autobiografia, o ator fala do momento mais traumático que viveu na sua infância e sobre as crises no casamento com Jada Pinkett

Will Smith
O ator Will Smith na estreia do filme ‘Aladdín’, em Londres, 2019.Matt Crossick (GTRES)

Will Smith decidiu revelar ao mundo pela primeira vez os segredos da conflitiva relação que manteve com seus pais, num volume autobiográfico intitulado Will, a ser lançado nos EUA na próxima terça-feira. O autor usa essas memórias para se abrir a respeito de diversos temas pessoais, tendo como um dos pilares principais a sua família de origem, formada por seu pai, William Carroll Smith —que morreu de câncer em 2016—, e sua mãe, Caroline Bright, que o criaram junto a três irmãos em Filadélfia (EUA). A revista People antecipou com exclusividade um trecho em que Smith, de 53 anos, fala de um dos incidentes traumáticos que viveu na infância, no qual chegou a cogitar o assassinato do próprio pai.

Meu pai era violento, mas também esteve em cada peça de teatro ou recital que eu dava. Era alcoólatra, mas estava sóbrio nas estreias de cada um dos meus filmes”, relata nas primeiras páginas do livro. “Escutou cada disco. Visitou todos os estúdios [de gravação]. Graças ao mesmo perfeccionismo intenso com que aterrorizou sua família, ele conseguiu pôr comida na mesa todas as noites da minha vida”, relata o protagonista de trabalhos como Um Maluco no Pedaço e Eu sou a lenda. O momento mais traumático para ele aconteceu durante um episódio violento que ele presenciou, no qual seu pai chegou a atacar fisicamente a sua mãe: “Quando eu tinha nove anos, vi meu pai bater na cabeça da minha mãe com tanta força que ela caiu. Eu a vi cuspir sangue. Esse momento naquele quarto, provavelmente mais do que qualquer outro momento da minha vida, definiu quem eu sou”.

O impacto foi tanto que chegou a influenciar na sua carreira. “Em tudo o que fiz desde então, os prêmios e os elogios, os holofotes e a atenção, os personagens e os risos, havia uma sutil cadeia de desculpas à minha mãe por não ter agido naquele dia. Por faltar naquele momento. Por não enfrentar o meu pai. Por ser um covarde”, admite o ator, reconhecendo que ao longo dos anos essa lembrança amarga não abandonou seus pensamentos. Escreve que “o que se chegou a entender como ‘Will Smith’, o astro maior do cinema, é em grande parte uma construção, um personagem cuidadosamente elaborado e aperfeiçoado”, que ele mesmo desenhou para proteger a si mesmo. “Para me esconder do mundo. Para ocultar o covarde”, diz.

Will Smith e seu pai, Willard Smith, numa premiação em Beverly Hills, Califórnia, em 2002.
Will Smith e seu pai, Willard Smith, numa premiação em Beverly Hills, Califórnia, em 2002. Ron Galella (Ron Galella Collection via Getty)

Os pais de Smith se separaram quando ele era adolescente e terminaram por se divorciar em 2000. Apesar de manter uma relação próxima com seu pai, o ator escreve que a mágoa causada por aquele incidente do passado voltou a aflorar várias vezes décadas depois. Essa ira contida o afligiu durante anos, sobretudo enquanto cuidava de seu pai no período em que teve câncer e os médicos lhe deram seis semanas de vida, como declarou em 2016. “Uma noite, enquanto o levava com cuidado do seu quarto para o banheiro, aquilo surgiu dentro de mim. O caminho entre esses dois cômodos passa pelo topo das escadas. Quando era criança, sempre disse a mim mesmo que algum dia vingaria a minha mãe. Que quando fosse grande o suficiente, quando fosse forte o suficiente, quando já não fosse um covarde, o mataria”, confessou, demonstrando que o rancor pelo que seu pai fez o perseguiu durante anos.

Foi esse o instante em que Will Smith recorda ter tido vontade de matar o seu pai. “Parei no topo da escadaria. Achei que poderia empurrá-lo e me esquivar disso facilmente”, contou o ator. “À medida que as décadas de dor, ira e ressentimento iam desaparecendo, balancei a cabeça e continuei a levá-lo para o banheiro”, relatou.

Depois da morte de seu pai, Smith refletiu sobre a complexa relação que tinham mantido e o que isso o ensinou. “Não há nada que você possa receber do mundo material que lhe gere paz interior ou satisfação”, refletiu no seu livro, depois de finalizar o relato que carregou por tanto tempo sobre os ombros. “Ao final, não importa em nada o quanto os outros amaram você. Só é possível encontrar a felicidade em função de como você tiver amado os outros.”

Will Smith é casado com Jada Pinkett, com quem mantém uma relação aberta há 23 anos e com quem teve dois filhos: Jaden e Willow. Além disso, é pai de Trey, de 29 anos, fruto de um casamento anterior, com quem mantém uma relação difícil. No fim de setembro, ele revelou à revista GQ que em sua autobiografia também falaria das idas e vindas do seu casamento. Concretamente, o livro inclui os detalhes de uma explosiva briga do casal depois que Pinkett completou 40 anos. O motivo foram as divergências no conceito que cada um deles tinha sobre o cônjuge.

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