O ‘annus horribilis’ de Johnny Depp que não tem fim
O ator se debate entre o apoio de seus fãs e a decadência vertiginosa de sua carreira depois de ter sido apontado como abusador por um tribunal de Londres
O annus horribilis de Johnny Depp, com epicentro em um tribunal londrino do qual saiu apontado como abusador, aparenta que vai se prolongar no próximo ano. Antes que se resolva, nos próximos meses, a nova disputa judicial com sua ex-mulher Amber Heard do outro lado do Atlântico, seu nome foi apagado de uma das megaproduções do ano porque os grandes estúdios o consideram “radioativo”. No entanto, seria prematuro dizer que é o fim de uma carreira que tem títulos como Eduardo Mãos de Tesoura, Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet e a saga Piratas do Caribe. Diante da aparente negativa de Hollywood, uma legião de fãs insiste em apoiar seu ídolo com uma campanha nas redes sociais exigindo seu retorno às telas. Outros colegas famosos conseguiram reabilitar sua imagem depois de chegarem ao fundo do poço. A questão é se as acusações contra Depp permitirão que ele emule os colegas em plena era do MeToo.
Por enquanto, o confronto entre os fãs que pintam Heard como a mentirosa malvada do show e os grupos que exigem não banalizar as denúncias de violência doméstica teve seu palco na campanha comercial de Natal do Reino Unido. É impossível ler a imprensa ou ligar a televisão sem dar de cara (no horário de maior audiência) com o anúncio de uma colônia da Dior que exibe o gancho “selvagem” do astro. A empresa francesa não deu explicações sobre sua decisão de manter Depp como o rosto de sua fragrância depois que o ator perdeu sua ação contra o tabloide britânico The Sun por dar crédito às acusações de que agrediu a ex-mulher uma dúzia de vezes, fazendo-a “temer por sua vida”. As queixas recebidas desde então pelo organismo regulador da publicidade aconteceram paradoxalmente em paralelo a um aumento notável nas vendas do produto.
Essa audiência levou Depp, disposto a limpar seu nome, a uma Londres que em pleno calor de julho ainda se recuperava dos efeitos do primeiro confinamento e das consequentes restrições devido à pandemia. Na ausência de grandes estreias e outros entretenimentos, as três semanas de sessões proporcionaram ao público uma distração durante o julgamento mais acompanhado dos últimos anos. Um circo midiático, segundo os críticos, mais parecido com novelas de televisão do que com um processo em que graves acusações foram feitas.
O ator ganhou de goleada em termos de interesse popular, mas o desenrolar do processo no tribunal foi muito diferente e submeteu ao microscópio um modo de vida desenfreado e a suposta deriva violenta de seus reconhecidos vícios em álcool e drogas. A sentença proferida pelo juiz três meses depois, via Internet, sustentando que o jornal processado “demonstrou que o que publicou era substancialmente verdadeiro”, foi um revés inesperado para Depp. Depois, alguns meios de comunicação afirmam que ele deu um tiro no pé ao enfrentar o Sun por um artigo intitulado “Como pode (a escritora) JK Rowling se sentir sinceramente feliz com o casting do abusador de esposas Johnny Deep no novo filme Animais Fantásticos?”. A consequência foi seu fulminante afastamento da terceira parte dessa franquia sobre criaturas mágicas e sua substituição pelo intérprete dinamarquês Mads Mikkelsen no papel do malvado Grindelwald.
Essa decisão da Warner Bros está relacionada à percepção dos produtores de que o cartaz de Johnny Depp hoje é “radioativo” e “não dá mais para trabalhar com ele”, segundo comentários compilados pela revista The Hollywood Reporter. As opiniões no mundo do cinema divergem, no entanto, entre aqueles que preveem o fim da carreira aos 57 anos e os que, apelando para o talento do ator, acreditam que só é necessário outro sucesso para o astro renascer. Aquele sobre o qual Amber Head disse pouco depois de terem começado seu relacionamento: “É como estar saindo com um rei”.
Eles se conheceram em 2011 durante a rodagem do filme O Diário de um Jornalista Bêbado e quatro anos depois se casaram em uma cerimônia íntima no Caribe. Depp estava separado da cantora e atriz francesa Vanessa Paradis, com quem teve dois filhos (Lily-Rose e Jack) e compartilhou 14 anos de existência descontraída, nos antípodas de anteriores e agitados romances com Winona Ryder e Kate Moss. Seu casamento com a texana Heard, vinte e três anos mais jovem, mal sobreviveu 15 meses antes de um rompimento repleto de acusações mútuas de abusos verbais e físicos. “Amber tinha uma agenda: casar-se comigo para prosperar em sua carreira e se beneficiar financeiramente”, diz o ator sobre o pano de fundo da disputa.
Longe de resolver a questão, o milionário acordo do divórcio foi apenas o primeiro assalto da guerra que está começando. Ambos se encontrarão novamente no duplo processo de difamação que cada um moveu contra o outro (Depp reclama 50 milhões de dólares; Heard, 100 milhões) e cujo desenlace é esperado para meados do ano. O artista conta com depoimentos favoráveis de suas ex-mulheres, e de amigas e colegas como a espanhola Penélope Cruz, mas lamenta que a Justiça britânica tenha aceitado as acusações de sua ex-mulher.
Durante a espera, proliferam rumores de que poderia voltar a trabalhar com o diretor que conseguiu tirar o melhor do ator, Tim Burton, em uma adaptação para a televisão de A Família Addams. E seus seguidores já começaram a divulgar nas redes a imagem do astro com bigode e a roupa característica do personagem Gomez Addams para promover um retorno ainda incerto.
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