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Todos os filmes de Tim Burton, do pior ao melhor

Aproveitamos a recente estreia de 'Dumbo' para pedir esse ranking a Rubén Romero, crítico de cinema, professor de Comunicação Audiovisual da Universidade Carlos III e especialista no cinema do diretor que gosta de jovens estranhos

O diretor Tim Burton e seu ator fetiche, Johnny Depp, durante a estreia de 'Pesadelo antes de Natal' em 1993.
O diretor Tim Burton e seu ator fetiche, Johnny Depp, durante a estreia de 'Pesadelo antes de Natal' em 1993.Foto: Getty
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No prólogo de Burton on Burton, de Mark Salisbury, Johnny Depp ri das caóticas mechas de cabelo que coroam a cabeça de seu amigo Tim Burton (Califórnia, 1958), a quem descreve como “louco hipersensível”. O cinema de Burton moldou nossa sensibilidade durante as últimas três décadas. Com a estreia de Dumbo chega o momento de olhar para trás e revisar a carreira do santo padroeiro do cinema para jovens estranhos (e dos normais com bom gosto). Aqui estão seus filmes, do pior ao melhor...

20. 'Planeta dos Macacos' (2001)

Planeta dos Macacos é, sem dúvida, o pior filme de Tim Burton. Em algum momento de sua carreira, alguém deve ter convencido o diretor californiano de que seu negócio eram os remakes. Deve ter sido seu pior inimigo. Esse foi o primeiro, versão do clássico de 1968 de Franklin Schaffner, em que é preciso reconhecer a distorcida perversão de Burton de transformar sua companheira à época, Helena Bonham Carter, na peluda símia apaixonada por Mark Wahlberg. Mas fica muito longe de alcançar a inquietante fábula moral do original. O final, com um macaco substituindo Abraham Lincoln em Washington, causou muita polêmica.

19. 'Frankenweenie' (2012)

Burton aumenta aqui o curta-metragem que chamou a atenção do romancista Stephen King e lhe abriu as portas de Hollywood. Mas o personagem não seria um cão real e sim sua animação. Desse modo, em lápis e papel, o cachorro fica mais agradável, fede menos à carne apodrecida e é mais digerível pelo público infantil... Já ficou claro que a versão animada é a cópia piorada da original? Então...

18. 'Grandes Olhos' (2014)

A tentativa mais descarada de Tim Burton para conseguir prestígio em Hollywood (leia ser indicado ao Oscar) foi essa versão alta cultura do brilhante Ed Wood, em que relata a história da pintora dos anos sessenta Margaret Keane. A reflexão sobre o talento, o gênio, o patriarcado heterossexual e a originalidade se perde em prol da exibição de Amy Adams... e os próprios anseios pessoais de Burton. É evidente que a relação do casal Keane é uma projeção da sua com a atriz Helena Bonham Carter, de quem acabaria se divorciando quase simultaneamente à sua estreia.

17. 'Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet’ (2007)

Se durante toda a sua vida foi brilhante filmando as músicas escritas por Danny Elfman, por que não tentar diretamente e sem intermediários com um musical? Porque pode acabar ficando uma porcaria. O sucesso da Broadway de Stephen Sondheim se transforma em uma sucessão de cenas tão espartilhadas quanto as donzelas do filme, que só respiram quando aparecem o defunto Alan Rickman e Sacha Baron Cohen interpretando Pirelli. Levou o Globo de Ouro de melhor filme, e alguns de nós ainda não sabem como isso aconteceu.

16. 'Alice no País das Maravilhas' (2010)

Burton começou 2010 em grande estilo: exposição no MoMA, presidente do júri no Festival de Cannes e outra adaptação, dessa vez de Lewis Carroll. Sua Alice já não é a menina do original e sim uma mulher, com todos os seus atributos desenvolvidíssimos. A truculência de algumas cenas, baseada na Alice do checo Svankmajer, a aproximam mais ao pesadelo do que ao conto. Em meio à febre 3D, o filme inchou seu formato original em 2D para se adaptar à moda. A Disney pensou que isso seria um desastre e, entretanto, funcionou tão bem na bilheteria que se viram obrigados a filmar uma segunda parte.

15. 'O Lar das Crianças Peculiares' (2016)

Baseado em um conto de Ransom Riggs, é a constatação de que, se durante um tempo não era possível entender Burton sem a participação do ator Vincent Price, agora não se pode entender Burton sem a presença de Eva Green, dona e senhora de seu universo particular. Onde ela está, Burton está, sua imaginação desbocada e seu insalubre humor gótico. Essa versão estereotipada e de época dos X-Men é um delírio altamente recomendável.

14. 'A Noiva-Cadáver' (2005)

Doze anos depois de O Estranho Mundo de Jack, o jovem animador da Disney que Burton tem em seu interior voltou a exigir que ele filmasse um longa-metragem. Na filmografia de qualquer outro diretor, A Noiva-Cadáver teria sido uma obra prima. De Tim, entretanto, sempre pedimos mais. Em A Noiva-Cadáver, filme dirigido em conjunto com Mike Johnston, temos a sensação de que esse conto tradicional judeu é muito convencional, clássico demais para o que nos acostumamos. A verdade é que não nos convenceu totalmente.

13. 'A Fantástica Fábrica de Chocolate' (2005)

Nos anos setenta, Mel Stuart já havia levado ao cinema o romance (algum insensato diz que para crianças) de Ronald Dahl, A Fantástica Fábrica de Chocolate. É um grupo de pirralhos insuportáveis à procura de um apetitoso prêmio. Precioso no estético, é bem visível o orgulho de pai de Burton (tem dois, ambos com a atriz Helena Bonham Carter) nessa ode ao fomento da imaginação nos filhos. Os momentos dos umpa lumpas parodiando as coreografias de Busy Berkeley à atriz nadadora Esther Williams são brilhantes.

12. 'Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas' (2003)

No começo do milênio, a vida de Burton está uma bagunça: seu pai morre, deixa sua namorada (a modelo e atriz Lisa Marie pela também atriz Helena Bonham Carter) e, logo depois, espera seu primeiro filho. Compreensível que as mentiras contadas pelos pais aos filhos sejam o material de seu novo filme. Como tem o coraçãozinho sensível, Burton o transforma na versão amável do incrível Monstros, de Todd Browning... ou é isso que parece no começo porque, no final, como sempre em Burton, o inferno são os outros. O filme, entretanto, parece muito luminoso na filmografia de nosso particular Príncipe das Trevas.

11. 'Batman: O Retorno' (1992)

Segundo de seus filmes sobre o Cavaleiro das Trevas em que toda a atenção está na Mulher-Gato, a gatinha enfronhada em vinil interpretada por Michelle Pfeiffer. Se unirmos o lendário gênio ruim da atriz com o fato de à época ter recém-terminado sua relação com Michael Keaton, se compreende melhor o gosto com que mia de prazer em cada ato sadomasoquista. Batman: O Retorno arrecadou 40% a menos do que seu antecessor da saga (Batman, 1989), e a Warner disse que isso aconteceu por ser “muito sombrio”. Burton amava tanto os supervilões que a história do Morcego ficou um pouco esmaecida.

10. 'As Grandes Aventuras de Pee-Wee' (1985)

Hoje Tim Burton é mais conhecido do que Paul Reubens, mas em 1985 Burton era somente um rapazinho que filmava curtas de animação e Reubens uma estrela infantil da televisão por seu personagem Pee-Wee Herman. Felizmente, o escritor Stephen King viu um de seus curtas e ficou tão fascinado que aconselhou seu amigo Reubens de que Burton era o mais indicado para dirigir seu salto ao cinema. A história é naïf: Pee-Wee tem sua bicicleta roubada e deve recuperá-la. O diretor transformou um roteiro tão simples em algo inesquecível, com cenas para a memória, como o momento em que Pee-Wee enfrenta alguns motoqueiros calçando saltos e dançando a música Tequila, da banda The Champs, como se fosse uma rainha do carnaval.

9. 'Sombras da Noite' (2012)

Seu melhor filme da última década. A adaptação da cultuada série televisiva dos anos sessenta de Dan Curtis faz com que o diretor se reencontre com suas grandes paixões: a estética gótica, os amantes intertemporais, a maldade da suposta gente de bem... E duas estranhas garotas que lhe devolvem seus grandes momentos de inspiração, como o são Eva Green e Chloë Moretz. Não é de se estranhar que momentos como a transa quadrimensional entre Eva Green e Johnny Depp estejam entre suas melhores cenas.

8. 'Dumbo' (2019)

Após vários remakes, Tim Burton já tem prática suficiente para reinterpretar as histórias dos demais sem atalhos. Com Dumbo podemos afirmar que o filme está mais longe de ser um remake e mais próximo de um filme autoral, isto é, do que entendemos por um filme de Tim Burton. O diretor trabalha com muitos de seus traumas: o da paternidade, obsessão sempre presente que aumentou desde seu divórcio com a atriz Helena Bonham Carter; e do lugar do diretor na indústria de Hollywood, com um Burton que simboliza na exploração circense do elefante Dumbo a que ele sentiu trabalhando para a Disney. É preciso ter muita coragem para questionar seu patrão quando ele te dá 200 milhões de dólares (780 milhões de reais) para rodar um filme. E por isso adoramos esse ato de rebeldia punk que é a história do paquiderme orelhudo.

7. ' A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça' (1999)

Após algumas decepções criativas, Burton se refugiou na literatura no final dos anos noventa: escreve A Morte Melancólica do Rapaz Ostra e Outras Histórias e adapta o romance de Washington Irving, A Lenda de Sleepy Hollow. E o faz olhando nos olhos pela primeira vez algo que sempre rondou sua filmografia: a literatura gótica de terror. Nessa época, Johnny Depp já estava a caminho de se transformar em uma caricatura de si mesmo e fica bem claro para todos que cria uma afetação misógina nos filmes de Burton. Em sua melhor cena homenageia No Tempo das Diligências, de John Ford, com uma capacidade ao alcance somente dos mestres. Grande filme.

6. 'Marte Ataca!' (1996)

Eternamente preso por uma visão romântica das décadas de 50 e 60, quando era criança, Burton escreve um roteiro baseado no jogo de cartas Marte Ataca!, com o qual passou tantos bons momentos na infância. Com a desculpa dos marcianos que ilustram os naipes despeja todo o seu ódio e ressentimento contra os EUA e essa indústria que recebeu tão mal seu Ed Wood e tão bem a patriotada Independence Day, de Roland Emmerich. Entre brincadeiras deixa clara a mesquinharia política de seu país nos personagens do covarde presidente interpretado por Jack Nicholson. Um fabuloso delírio pop e kitsch ao ritmo de Tom Jones.

5. 'O Estranho Mundo de Jack' (1993)

Ainda que dirigido por Henry Selick, a autoria deve ser dada a Tim Burton, que trabalhou durante 12 anos no filme: o idealizou, escreveu o roteiro, produziu... Danny Elfman escreveu onze músicas e Burton uma história inspirada na melancolia que sentia quando chegavam as férias e ficava sozinho em sua Burbank natal. Seus 109.440 fotogramas o transformaram no filme que melhor reflete seu universo: seus pretos e brancos, a influência do desenhista Edward Gorey, as danças macabras... Genial.

4. 'Os Fantasmas se Divertem' (1988)

Em Os Fantasmas se Divertem Tim Burton descobrirá dois de seus atores fetiche: Winona Ryder, a quintessência da adolescente frágil e incompreendida, e Michael Keaton, o arqueamento de sobrancelhas mais famoso da história de Hollywood. “Eu fiz uma versão grotesca de O Exorcista”, diz Tim Burton sobre Os Fantasmas se Divertem. É a demonstração de que estamos diante de um tipo único, possuidor de uma estética herdeira dos filmes B e um humor macabro no estilo de Ambrose Bierce e Jonathan Swift. Um divertimento excêntrico? Sim, mas também a constatação de que Tim Burton era um diretor, já em 1988, para se levar em consideração.

3. 'Batman' (1989)

O fato de termos o lançamento de um super-herói por semana tem muito a ver com o Sr. Burton. Ele, Jack Nicholson e Prince (compondo a trilha sonora original) realizaram a maior reunião de extravagantes jamais vista. Foi o filme campeão de bilheteria do ano, mas ao finalizá-lo Burton se sentiu mais como o tristonho Batman do que como o agitado Coringa: poucas semanas antes do final da filmagem seu amigo e colaborador Anton Furst se suicidou. Mas o filme é genial.

2. 'Ed Wood' (1994)

Uma maravilha em preto e branco sobre “o melhor pior diretor do mundo”, e sua reflexão mais bem-sucedida sobre um assunto que obceca Burton: o processo de criação, com suas amargas vitórias e doces fracassos. É também uma ode à amizade: a que existia entre Wood e o ator Bela Lugosi, análoga a que existia entre Burton e o falecido Vincent Price. Johnny Depp e Lisa Marie transbordam erotismo e humanidade. Hipnótico, estranho, maravilhoso.

1. 'Edward Mãos de Tesoura' (1990)

A melhor, a grande obra de Tim Burton. O filme que teve o dom (e o elenco) da oportunidade. Burton transforma Johnny Depp e Winona Ryder nos James Dean e Natalie Wood da Geração X em um conto para adultos. Entre eles havia uma tensão sexual (resolvida) que se vê em cada uma das cenas em que estão juntos. Tudo conspira contra seu amor: as vizinhas intrometidas, o namorado bonitão ciumento... Até o ponto em que Kim (Ryder) precisa se sacrificar por Edward (Depp) no último ato de amor. Edward Mãos de Tesoura já é um ícone pop: é tão popular que não há festa de Halloween em que não apareça alguém utilizando uma fantasia imitando-o.

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