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Morre Alan Parker, o cineasta comercial que quis conquistar consciências

Diretor, que alcançou o sucesso com ‘O Expresso da Meia-Noite’, morre aos 76 anos

Elsa Fernández-Santos
O cineasta inglês Alan Parker, em Londres, em 1994.
O cineasta inglês Alan Parker, em Londres, em 1994.Martyn Goodacre (Getty Images)
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Alan Parker (Matlock, Reino Unido), que morreu nesta sexta-feira aos 76 anos depois de uma “longa doença”, segundo um comunicado de sua família, pertencia a uma geração de cineastas britânicos que inclui Ridley Scott e, em menor medida, John Boorman, que conseguiram se tornar magos de bilheteria com um cinema comercial de qualidade, capaz, no caso de Parker, de também abordar temas intensos e espinhosos.

O efeito dissuasório que seu famosíssimo O Expresso da Meia-Noite (1978) teve em mais de uma geração valia e continua valendo mais do que qualquer campanha milionária para impedir que os incautos jovens do primeiro mundo trafiquem drogas em países como Turquia ou Marrocos. Décadas depois, a imagem que perdura no imaginário popular de como é a vida em uma prisão do terceiro mundo deve muito mais a esse filme violento e sórdido do que aos noticiários de televisão.

Os trabalhos de John Hurt, Randy Quaid e da estrela fugaz Brad Davis também marcaram uma época em que se anunciava “o próximo de Alan Parker”. Apesar de ser seu grande marco, O Expresso da Meia-Noite foi seguido por um bom número de sucessos que, entre os anos oitenta e noventa, marcaram toda uma época de filas no cinema. Fama, Pink Floyd – The Wall, Asas da Liberdade, Mississippi em Chamas, Coração Satânico, Commitments – Loucos pela Fama e Evita nem sempre receberam o aplauso da crítica, que geralmente suspeitava de um cinema muito hábil, mas retórico, baseado em uma espetacularização que trapaceava o espectador.

Una imagen de 'El expreso de medianoche'.
Imagem de ‘O Expresso da Meia-Noite’.

Parker começou sua carreira audiovisual filmando comerciais, até que em 1976 lançou Quando as Metralhadoras Cospem, um filme de gângsteres protagonizado por adolescentes, entre eles Jodie Foster. Dois anos depois chegou a encomenda que mudou sua vida: dirigir o roteiro que Oliver Stone havia escrito sobre a história real do cidadão norte-americano Billy Hayes, detido no aeroporto de Istambul com blocos de haxixe presos ao corpo.

O sistema penitenciário retratado em O Expresso da Meia-Noite era tão assustador que se tornou uma mancha na política externa da Turquia. Parker continuou a carreira com um filme oposto: Fama (1980), um verdadeiro fenômeno para a juventude da década que começava, que derivou em série de televisão e com suas danças e sofrimentos selou uma nova maneira de ver Nova York e suas escolas de arte.

Os personagens, as canções, até as malhas e meias de lã que Irene Cara usava foram copiados em meio mundo e até no delírio de Flashdance – Em Ritmo de Embalo, três anos depois. Parker sempre mostrou sua fraqueza pela música. Pink Floyd – The Wall (1982) era um videoclipe animado do disco do grupo de rock progressivo inglês, mas, sobretudo Commitments – Loucos pela Fama, sobre um grupo de músicos de rua de soul, acertava na autenticidade, algo não tão frequente em seus outros filmes. Mais tarde viria Evita (1996), com Antonio Banderas na pele de Che Guevara e Madonna na da grande dama peronista.

Um projétil de ópera de rock com partitura de Andrew Lloyd Webber e roteiro outra vez de Oliver Stone que colocou a grande diva do pop chorando pela Argentina. Mais uma vez Parker entrou em choque com o Governo de turno e Menem se manifestou contra o filme por ser uma afronta ao peronismo.

A polêmica costumava acompanhar muitas de suas estreias. Os thrillers Mississippi em Chamas (1987), com a Ku Klux Klan como pano de fundo, e Coração Satânico (1988), com o próprio demônio, levaram o diretor britânico pela senda do sul dos EUA e, no caso de Mississippi em Chamas, do Oscar. Asas da Liberdade (1984) foi seu drama sentimentaloide anti-Vietnã e seu reconhecimento no Festival de Cannes, onde ganhou o prêmio do júri naquele ano.

Com um pé em cada continente, Parker indicou que havia optado por uma carreira em Hollywood por sua “magnificência, diversidade e até mesmo por suas imperfeições”. Seu último filme, A Vida de David Gale (2003), já não era nem o cadáver de um suposto estilo. Desta vez, nem público nem crítica. Foi destruído.

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