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Margot Frank também escreveu um diário

Doação de duas fotos da irmã de Anne Frank lança um pouco de luz sobre a adolescente, capturada com a família pela Alemanha nazista e que completaria 94 anos

Isabel Ferrer
Margot Frank, à direita, em um clube de remo em 1941.
Margot Frank, à direita, em um clube de remo em 1941.Roos van Gelder (Anne Frank House)

“Sempre ouvimos rádio porque estamos num momento difícil, por termos fronteira com a Alemanha e sermos [os Países Baixos] pequenos; nunca nos sentimos seguros.” Margot Frank, a irmã mais velha de Anne Frank, assim registrou a preocupação da sua família em uma carta escrita em Amsterdã em 27 de abril de 1940 e destinada a Betty Ann Wagner, uma adolescente que vivia em Danville (Estados Unidos) e tinha a mesma idade que ela: 14 anos. É um dos poucos testemunhos de Margot Frank que sobreviveram, porque o diário que manteve durante seus dias em Amsterdã se perdeu, diferentemente do ocorrido com o escrito por sua irmã mais nova. Em julho de 1942, pouco antes de se esconder com sua família e outras quatro pessoas, Anne escreveu em seu diário que sua irmã também tinha um, e a descreve com admiração: “Se houvesse uma menção cum laude, teriam dado a ela. De tão inteligente que é”.

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As duas irmãs tiveram o mesmo fim trágico, com poucos dias de diferença, em fevereiro de 1945, no campo de concentração nazista de Bergen-Belsen. Mas a força (e a sobrevivência) do relato elaborado por Anne durante seu isolamento eclipsou a figura de Margot, quase uma desconhecida. A recente doação de duas fotografias nas quais aparece sorridente, antes da irreversível reviravolta, fornece alguns detalhes sobre sua vida.

Margot Frank nasceu em 1926 em Frankfurt e emigrou com seus pais, Otto e Edith, para os Países Baixos em 1933, quando começaram as medidas contra os judeus na Alemanha. Adolf Hitler foi eleito chanceler (primeiro-ministro) naquele ano, e Otto Frank abriu em Amsterdã a filial de uma fábrica de pectina —um espessante alimentar— e especiarias. Margot tinha então sete anos e, apesar de ter chegado à escola sem falar holandês, logo se destacou nos estudos. Depois do primário, frequentou uma escola secundária municipal feminina, com excelente desempenho em ciências e matemática. Uma de suas colegas, Jetteke Frijda, dizia dela que “é a melhor em tudo, mas não se gaba; você pode confiar e aprender com seu exemplo. Fala pouco de si mesma e pouco em geral”, conforme se lê na documentação exposta na Casa de Anne Frank.

Quando os nazistas expulsaram os judeus das escolas públicas, Margot foi para o Liceu Judaico. Pouco depois, a jovem recebeu a ordem de se transferir para um campo de trabalho alemão, e seus pais decidiram se esconder na parte de trás de uma casa. Antes, tinham tentado sem sucesso embarcar para os Estados Unidos.

Margot Frank, no meio do bote de trás, num clube de remo em 1941.
Margot Frank, no meio do bote de trás, num clube de remo em 1941. Roos van Gelder (Anne Frank House)

As imagens doadas, em preto e branco, estão datadas do verão europeu de 1941. Na primeira, Margot, então com 15 anos, aparece à direita, junto com uma amiga do clube de remo. Na outra, está no centro, em um dos botes. As imagens foram tiradas por Roos van Gelder, a instrutora de remo, que trabalhava na Associação para a Promoção dos Esportes Aquáticos de Amsterdã. Um mês mais tarde, tudo mudou: nenhuma das duas irmãs pôde retornar ao clube, por serem judias. As fotos foram cedidas à Casa de Anne Frank por Paul Mesinga, sobrinho da instrutora.

Margot queria ser parteira, e em 1941 aderiu ao clube sionista holandês para jovens que desejavam emigrar para a Palestina e fundar um Estado judaico. No esconderijo, até sua detenção pela Gestapo, em 4 de agosto de 1944, a relação com sua irmã mais nova teve altos e baixos. “Não me dou bem com a Margot […], sua maneira de ser e a da mãe são muito diferentes da minha”, anota Anne no seu diário. Também diz que faz piada sobre como Margot parece ser a “dona Perfeita”, pois assim talvez “lhe ensine a não ser tão boazinha”. Apesar das tensões, a convivência afinal melhorou. Impôs-se o afeto: “Ontem à noite estivemos juntas na minha cama. Não cabíamos, mas justamente por isso foi muito divertido”. No último domingo, 16 de fevereiro, Margot Frank teria completado 94 anos.

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