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Novos medicamentos para a covid-19 reforçam luta contra a pandemia em países sem vacina

Antivirais orais de Pfizer e MSD devem permitir evitar de forma simples o desenvolvimento de quadros graves sem precisar de hospitalização. No Brasil, laboratório prepara pedido de uso emergencial de medicamento

Laboratório em Friburgo (Alemanha) onde a Pfizer fabrica o seu antiviral contra a covid-19.
Laboratório em Friburgo (Alemanha) onde a Pfizer fabrica o seu antiviral contra a covid-19.HANDOUT (AFP)
Oriol Güell

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Os tratamentos e as vacinas vêm se alternando como grandes esperanças contra à pandemia do coronavírus. Há cerca de um ano e meio, nas primeiras fases da crise, o entusiasmo se voltava para medicamentos que, esperava-se, curariam a doença. Um deles era a hidroxicloroquina, que ensaios clínicos acabaram demonstrando ser inócua para o vírus SARS-CoV-2. Outro, o remdesivir, despertou enormes expectativas, mas terminou tendo um papel muito secundário na luta contra o coronavírus (reduz apenas de 15 para 11 dias a hospitalização de alguns pacientes).

Com a entrada de 2021, chegou o momento das vacinas, e os países mais desenvolvidos começaram as maiores campanhas da história para proteger sua população. Centenas de milhares de vidas foram salvas, mas também algumas limitações se tornaram evidentes: os países pobres receberam pouquíssimas doses, enquanto nos ricos há parcelas mais ou menos importantes da população que as rejeitam, ao passo que em alguns casos, como nos pacientes imunossuprimidos, as vacinas não conseguem provocar a resposta imunológica desejada.

Nestes momentos, quando o mundo se prepara para entrar no terceiro ano da pandemia, os tratamentos voltam a dominar todos os olhares. A grande diferença em relação a meados de 2020 é que agora são realmente eficazes, e também mais fáceis de tomar. “Que os medicamentos da Pfizer e Merck Sharp & Dhome (MSD) sejam de administração oral é uma novidade substancial, porque facilita muitíssimo seu uso. Freiam a progressão da doença no seu início, quando o paciente ainda não está grave, e isto costuma ocorrer fora do âmbito hospitalar”, diz Juan Pablo Horcajada, diretor do serviço de doenças infecciosas e coordenador-geral para a covid-19 do Hospital do Mar (Barcelona).

A farmacêutica Pfizer anunciou ter desenvolvido um antiviral que, segundo seus dados, reduz as hospitalizações e mortes em 89%. O Paxlovid é um tratamento de 30 comprimidos a tomar em cinco dias, sendo 10 delas de ritonavir, um antigo antiviral já usado contra o HIV, que ajuda a nova molécula a permanecer mais tempo ativa no organismo. A Agência Europeia do Medicamento (EMA) anunciou na última sexta-feira que começaria a analisar os dados da Pfizer com o objetivo de “dar apoio aos países que queiram utilizá-lo contra o coronavírus pela via do uso emergencial, previamente à autorização de comercialização”.

É um aval que, à espera da autorização definitiva —uma avaliação que a agência também já iniciou—, a EMA também concedeu na sexta-feira ao molnupiravir (comercializado como Lagevrio), outro antiviral desenvolvido pelo laboratório MSD em parceria com a empresa Ridgeback Biotherapeutics. Nesse caso, segundo os dados fornecidos pelos dois laboratórios, o tratamento de 40 comprimidos, também a serem consumidos em cinco dias, consegue reduzir pela metade as internações e mortes. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se reuniu na sexta-feira com os fabricantes para discutir a possibilidade de um pedido de uso emergencial para o medicamento no país. Segundo a agência, a MSD indicou que o pedido será apresentado em breve, mas não há previsão de data. Além disso, o Governo também iniciou as negociações para a compra dos fármacos da Pfizer e da AstraZeneca, segundo informações do jornal Folha de S.Paulo.

“Estes dois medicamentos [da MSD e da Pfizer] devem ocupar um nicho importante para o qual até agora não tínhamos nada. São esses pacientes diagnosticados em atendimento primário, que não atendem a critérios para serem hospitalizados, mas que, por seu perfil, teme-se que o curso da doença possa progredir posteriormente para formas muito graves e inclusive o óbito. Era algo especialmente frustrante para nós”, diz Santiago Moreno, chefe de doenças infecciosas do Hospital Ramón y Cajal (Madri).

Os especialistas se mostram convencidos de que a fácil administração oral contribuirá para que estes tratamentos cheguem a mais gente e, sobretudo, mais precocemente —os primeiros cinco dias de sintomas são decisivos—, o que seria uma grande vantagem com relação a outros fármacos desenvolvidos recentemente, que também demonstraram uma elevada eficácia, como alguns anticorpos monoclonais. “Estes anticorpos são proteínas desenhadas de forma artificial para atacar uma parte do vírus muito específica e nada mais, o que os torna enormemente seguros, além de eficazes”, diz Horcajada.

Um dos tratamentos mais promissores nesta categoria é o Evusheld, uma combinação de tixagevimab e cilgavimab, da AstraZeneca, que a EMA avalia desde 14 de outubro e ao qual o laboratório atribui uma eficácia de 88%. O outro é o Ronapreve (casirivimab e imdevima), desenvolvido por Regeneron e Roche e já autorizado pela agência. Este deve preencher outro nicho: o de pacientes já internados em estado grave, que carecem de defesas próprias frente ao vírus.

Jesús Sierra, porta-voz da Sociedade Espanhola de Farmácia Hospitalar (SEFH), destaca que os anticorpos monoclonais “são também muito importantes e efetivos se forem aplicados nos primeiros cinco dias, mas têm duas condições: a primeira é que precisam ser administrados por via intravenosa no hospital. A segunda é que são fármacos que devem substituir os anticorpos de uma pessoa vacinada. Portanto, foram testados em população não vacinada maior de 50 anos. E este grupo populacional é muito pequeno na Espanha”, prossegue Serra.

Ao todo, a EMA já autorizou, está avaliando ou informou aos Estados membros sobre mais de uma dezena de tratamentos contra o coronavírus. Entre eles, além dos antivirais e anticorpos monoclonais, há imunossupressores como a dexametasona e o tocilizumabe, entre outros. “Estes fármacos o que fazem é conter a reação imunitária do organismo quando é excessiva. A partir de um momento, que ocorre entre o quinto e o sétimo dia da infecção, o problema que põe em risco a vida do paciente é a excessiva reação de seu sistema imunológico, e estes medicamentos tratam de contê-lo”, explica Horcajada.

Os Estados Unidos já encomendaram à Pfizer e MSD milhões de tratamentos para seus cidadãos, algo que recorda o estoque abusivo do remdesivir pela Administração de Donald Trump. A de Joe Biden adquiriu agora 10 milhões de tratamentos do Paxlovid, da Pfizer, por cerca de 28 bilhões de reais, e outros 3,1 milhões do Lagevrio, do laboratório MSD, por cerca de 12 bilhões.

Nesta ocasião, entretanto, as últimas fases do desenvolvimento desses dois medicamentos vieram acompanhadas de um passo sem precedentes no setor. No final de outubro, a MSD anunciou que permitiria a produção de seu novo medicamento como genérico nos 105 países de mais baixa renda. A Pfizer fez o mesmo para o seu antiviral na passada semana.

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