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Combinação de fármacos reduz pela metade a mortalidade por covid-19 nos pacientes mais graves

Ensaio clínico no Reino Unido mostra que o tocilizumabe, remédio contra a artrite, é o segundo tratamento efetivo contra a doença

UTI de covid-19 do Hospital de Bellvitge, em Barcelona.
UTI de covid-19 do Hospital de Bellvitge, em Barcelona.MASSIMILIANO MINOCRI (EL PAÍS)
Nuño Domínguez

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Descoberto o primeiro remédio contra a covid-19 que pode salvar vidas

Um ensaio clínico realizado no Reino Unido detectou o segundo tratamento capaz de salvar vidas de doentes de covid-19. Os autores do estudo Recovery acabam de anunciar que esse fármaco reduz em 4% a mortalidade de pessoas internadas com infecções graves. A efetividade pode parecer pequena, mas, se esse tratamento for administrado junto com a dexametasona (um corticoide que reduz a inflamação), a mortalidade dos pacientes é reduzida em um terço ―e em 50% no caso dos mais graves.

O tocilizumabe é um anticorpo monoclonal aprovado até o momento para tratamento de artrite reumatoide, doença caracterizada pela inflamação das articulações. O remédio havia mostrado resultados pouco claros em doentes com covid-19.

“Agora sabemos que esse medicamento ajuda todos os doentes com níveis baixos de oxigênio e que já têm uma inflamação avançada”, explicou Peter Horby, especialista em doenças emergentes da Universidade Oxford. “O impacto combinado da dexametasona e do tocilizumabe é impressionante e muito bem-vindo”, completou o médico em nota.

Faz tempo que o ensaio Recovery busca novos tratamentos para a doença associada à infecção pelo SARS-CoV-2. Nesta etapa do estudo, foi analisada a progressão de mais de 2.000 pacientes que receberam o remédio, comparada com a de outros tantos que receberam o tratamento habitual. A mortalidade caiu 4% em termos absolutos no grupo que recebeu o anticorpo monoclonal. Isso significa que, para cada 25 pacientes tratados, foi possível salvar uma vida.

O medicamento, fabricado pela europeia Roche com o nome Actemra, também aumenta em 7% a probabilidade de um doente sair com vida do hospital. Esses efeitos são observados tanto nos pacientes menos graves, que só necessitam de oxigênio com máscara, como naqueles que precisam de um respirador mecânico na UTI. A combinação dessa droga com a dexametasona reduz a mortalidade dos pacientes do primeiro grupo em 30% e em quase 50% a dos internados na UTI.

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O novo tratamento é efetivo justamente no ponto de maior necessidade: quando a fase grave da covid-19 já começou e os pacientes podem cair numa espiral inflamatória produzida por seu próprio sistema imune, o que pode levar à morte. Os dois remédios mencionados são os únicos que demonstraram salvar vidas contra o coronavírus, e agora também mostram que podem reduzir o tempo de internação, evitando a necessidade de respiradores.

Os autores ainda não publicaram os dados completos do estudo, mas esperam fazê-lo nos próximos dias, segundo informou a Universidade Oxford. Um ensaio anterior com o mesmo medicamento indicou redução de 8% na mortalidade de pacientes já internados na UTI.

“Até o momento, o tocilizumabe é o anticorpo monoclonal mais efetivo para tratar as tempestades de citocinas [produção descontrolada de proteínas inflamatórias sofrida pelos pacientes graves]”, ressalta Marcos López Hoyos, presidente da Sociedade Espanhola de Imunologia. “O benefício é modesto, mas, considerando as poucas ferramentas terapêuticas que temos, este é um fármaco que devemos usar nesse contexto.”

O tocilizumabe em si não evita a tempestade de citocinas. O que ele faz é se ligar às células usando a mesma porta de entrada utilizada por uma das citocinas responsáveis pela doença grave: a interleucina 6, uma das proteínas inflamatórias mais abundantes nos quadros graves. Dessa forma, embora um paciente produza muita proteína, seu efeito é bloqueado pelo remédio. A interleucina não pode se ligar às células do sistema imune inato, a primeira linha de defesa do organismo contra as infecções, para fomentar a inflamação.

“Uma redução da mortalidade associada a qualquer fármaco é muito boa notícia porque não temos praticamente nada”, afirma Jesús Sierra, coordenador do registro da Sociedade Espanhola de Farmácia Hospitalar (SEFH), uma base de dados de 16.000 pacientes para identificar medicamentos associados à menor mortalidade por covid-19.

Os anticorpos monoclonais são os fármacos mais caros do mundo, mas o tratamento com tocilizumabe tem um preço relativamente baixo, de 850 a 1.200 euros (cerca de 5.500 a 7.800 reais) dependendo do paciente, explica Sierra. Se todos os doentes graves começarem a receber o remédio, cada vida salva custaria cerca de 28.000 euros (183.000 reais).

A dexametasona, até hoje o único tratamento que havia demonstrado salvar vidas de pacientes de covid-19, é um corticoide muito barato que, por si só, pode evitar uma de cada oito mortes entre os pacientes mais graves e uma vida de cada 25 entre aqueles que recebem oxigênio, segundo os dados do próprio estudo Recovery.

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