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Primeiro cometa interestelar identificado guarda o material mais antigo conhecido

O Borisov pode ser um vestígio intacto de 4,5 bilhões de anos atrás, apontam dois estudos

Uma ilustração do aspecto do cometa 2I/Borisov.
Uma ilustração do aspecto do cometa 2I/Borisov.ESO/M. Kormesser
Nuño Domínguez
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This Hubble Space Telescope image shows several blue, loop-shaped objects that actually are multiple images of the same galaxy. They have been duplicated by the gravitational lens of the cluster of yellow, elliptical and spiral galaxies - called 0024+1654 - near the photograph's center.
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No verão de 2019, um objeto desconhecido procedente de uma estrela não identificada chegou ao nosso Sistema Solar. Era o primeiro cometa interestelar observado até o momento. Ninguém sabia do que era feito ou quanto tempo havia viajado pelo espaço até passar como um raio pelo céu terrestre. Gennady Borisov, um astrônomo amador da Ucrânia, foi o primeiro a observá-lo.

Até então, apenas um objeto vindo de outro sistema solar era conhecido: o asteroide Oumuamua, cuja forma de míssil estilizado alimentou especulações de que se tratava de uma nave espacial.

Estes objetos raros são apaixonantes, pois são como uma cápsula do tempo com informações de outras estrelas inalcançáveis para as naves humanas e, possivelmente, dos planetas que existem ao redor delas. Nosso Sol e os planetas que o rodeiam, incluindo a Terra, viajam pela Via Láctea a 220 quilômetros por segundo, o suficiente para ir de Madri à Cidade do México em 45 segundos. Durante essa viagem é possível que passemos tão perto de outro sistema solar que um cometa ou um asteroide seja absorvido pela gravidade do Sol ou de um dos nossos planetas gigantes como Júpiter ou Saturno. O novo visitante pode ficar preso em seu novo lar para sempre ou atravessá-lo e sair do novo para o espaço interestelar. É o que pensam os astrônomos que estudaram o Oumuamua e o cometa descoberto em 2019, batizado de 2I/Borisov em homenagem ao seu descobridor. É tentador pensar se viajantes como esses podem transportar compostos essenciais à vida de uma estrela para outra e talvez semeá-los em outros planetas.

Nesta semana, duas equipes de astrônomos apresentaram os resultados das observações do Borisov realizadas com dois dos telescópios mais potentes da Terra. O primeiro trabalho tenta entender quando o cometa se formou e quão degradado está depois de sua longa viagem pelo espaço. Os astrônomos observaram o Borisov com o Telescópio Muy Grande, um observatório óptico no deserto do Atacama, no Chile. Compararam as observações com as de outros cometas conhecidos. O único que se parece com ele é o Hale-Bopp, descoberto em 1995 e que era tão brilhante que pôde ser visto a olho nu no céu noturno durante 18 meses seguidos. As observações mostraram que o Hale-Bopp era um objeto bastante antigo, ou seja, conservava praticamente intacto o material original com o qual foi formado.

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Os resultados do estudo atual, publicados nesta terça-feira na Nature Communications, apontam que o Borisov está ainda mais intacto. De fato, os responsáveis pelo trabalho acreditam que é o cometa mais puro que já foi observado. Puro significa antigo, então é possível que sua matéria-prima seja poeira e gás muito semelhante ao que existia ao redor do Sol pouco depois do seu nascimento, antes mesmo de os planetas existirem, há cerca de 4,5 bilhões de anos.

Este cometa “pode ser o primeiro objeto deste tipo totalmente antigo”, explica Stefano Bagnulo, astrônomo do Observatório Armagh, na Irlanda do Norte, e coautor do estudo, em um comunicado à imprensa. Os responsáveis pelo trabalho acreditam que, desde sua formação, o Borisov nunca passou suficientemente perto de uma estrela para que isso o degradasse.

Bin Yang, astrônoma do Observatório Europeu Austral, analisou o Borisov com o radiotelescópio ALMA. Seus resultados, publicados na Nature Astronomy, mostram que o cometa é feito de partículas e seixos de diferentes tamanhos que sugerem que se trata de uma mistura de materiais de diferentes regiões do sistema solar onde se formou. Os pesquisadores especulam que possivelmente existiam planetas gigantes gasosos naquele sistema solar que atraíram o cometa com sua força de gravidade.

Neste momento o Borisov está a 10 unidades astronômicas da Terra, ou seja, cerca de 1,4 bilhão de quilômetros, explica Luisa Lara, pesquisadora do Instituto de Astrofísica da Andaluzia. “Continuará a se afastar de nós e, eventualmente, deixará o sistema solar em cerca de 15.000 anos”, afirma.

A astrônoma fez parte da equipe científica da missão Rosetta, que demonstrou que os cometas possuem oxigênio e compostos orgânicos. Esta astrofísica costuma lembrar que os ingredientes básicos para a vida chegaram à Terra vindos do espaço, provavelmente a bordo de cometas. Nestes corpos foi demonstrada a presença da glicina, um aminoácido que pode ter sido um dos primeiros tijolos para a formação de moléculas vivas como o RNA. Segundo Lara, os dois estudos publicados nesta terça-feira correspondem ao que se espera para um cometa, pois embora este tenha se formado em outro sistema solar, é coerente que sua composição seja semelhante aos que existem no nosso.

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