_
_
_
_

Um telescópio realiza a observação que Einstein considerava impossível

'Hubble' calcula a massa de uma estrela graças a um efeito óptico previsto há mais de 80 anos

Nuño Domínguez
Ferdinand Ellerman, Albert Einstein, Walther Mayer e Edwin Hubble em observatório astronômico
Ferdinand Ellerman, Albert Einstein, Walther Mayer e Edwin Hubble em observatório astronômicoREUTERS
Mais informações
Quando Einstein renegou as ondas gravitacionais
Última grande previsão de Einstein pode estar a ponto de se confirmar
Teoria gravitacional que questiona Einstein supera o primeiro teste experimental
A “mais bela” explicação sobre a Criação, segundo Albert Einstein

Em dezembro de 1936, quase a contragosto, Albert Einstein decidiu escrever à revista Science para publicar “alguns pequenos cálculos” que tinha feito a pedido de um astrônomo amador. Era o tcheco Rudi Mandl, que o havia visitado para lhe contar sua teoria de que as estrelas atuam como lupas que concentram a luz de outras estrelas, e que esse excesso de radiação poderia ter causado a extinção dos dinossauros. Em pouco mais de meia página, o físico alemão descreveu o fundamento físico por trás desse fenômeno. De acordo com a teoria da relatividade, a massa de uma estrela curva o espaço e o tempo a seu redor. Assim, os fótons de outro astro, alinhado exatamente atrás, se desviam e se concentram para formar um vistoso círculo de luz em torno da estrela em primeiro plano. “Naturalmente”, escreveu o ganhador do Nobel de Física em 1921, “não há nenhuma esperança de observar esse fenômeno”.

Em um estudo publicado nesta quarta-feira na Science, um grupo de astrônomos utiliza esse efeito óptico, conhecido como lente gravitacional, para medir pela primeira vez a massa de uma estrela moribunda. Trata-se de uma anã branca que também era objeto de outra polêmica entre astrofísicos sobre a relação entre o raio e a massa das estrelas, cuja descoberta valeu o prêmio Nobel de Física ao indiano Subrahmanyan Chandrasekhar em 1983.

Este fenômeno nunca fora observado fora do Sistema Solar

O novo estudo descreve uma lente gravitacional assimétrica que ocorre quando as duas estrelas não estão alinhadas e que nunca havia sido observado fora do Sistema Solar, segundo a Science. Nestas circunstâncias Einstein previu que a estrela do fundo pareceria desviar-se de sua localização real por causa da deformação do espaço e do tempo causada pela estrela em primeiro plano.

Baseando-se nessa previsão, a equipe de Kailash Sahu, no centro de operações científicas do telescópio espacial Hubble, buscou entre 5.000 estrelas até encontrar dois astros desalinhados. Em 2014, a estrela anã Stein 2051 B se colocou na posição ideal. Tendo como referência o fenômeno descrito por Einstein, a equipe foi capaz de medir a massa dessa estrela, que é dois terços da do sol. O importante é que fizeram isso sem analisar o incremento de luminosidade decorrente dos dois astros ao se alinharem, que é indetectável para o Hubble, mas estudando o deslocamento aparente da estrela do fundo.

Diagrama do efeito óptico observado pelo 'Hubble'.
Diagrama do efeito óptico observado pelo 'Hubble'.

O trabalho não só confirma a previsão de Einstein. Também Chandrasekhar se sai bem, pois a massa da anã branca se encaixa à perfeição com suas previsões teóricas que lhe valeram o Nobel.

Com relação a Mandl, o homem que pressionou Einstein para que publicasse seus cálculos, parece que morreu numa situação bem anônima em Los Angeles (EUA) em 1948, depois de ter ganhado a vida lavando pratos e tentado uma carreira de inventor, explica a ScienceNews. As lentes gravitacionais que discutiu com Einstein há mais de 80 anos são usadas continuamente em astronomia para medir massas, entre outras coisas de matéria obscura, o misterioso componente do universo que pode ter provocado o impacto do asteroide que aniquilou os dinossauros.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_