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Vídeo mostra Michelle Bolsonaro comemorando e orando após indicação de Mendonça ao STF

Nas imagens, primeira-dama chora, pula e agradece a Deus pela aprovação do novo magistrado “terrivelmente evangélico” da Corte. Entre os processos que ele deverá herdar, está um pedido de investigação da primeira-dama pelos cheques depositados por Queiroz

Michelle Bolsonaro
Michelle Bolsonaro cumprimenta André Mendonça após sua aprovação para o Supremo Tribunal Federal (STF).Reprodução / Instagram
Felipe Betim

Corre nas redes sociais um vídeo da primeira-dama Michelle Bolsonaro celebrando a aprovação de André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal (STF) na última segunda-feira, 29 de novembro. Ao lado de Mendonça e de outras figuras ligadas ao Governo Jair Bolsonaro, Michelle celebra emocionada a confirmação de seu nome. Aos gritos de “glória a Deus” e “aleluia”, a primeira-dama pula, ora, chora ao abraçar o ex-advogado-geral da União e outras pessoas presentes na sala que aguardavam o final da votação no Senado.

Mendonça foi escolhido em julho pelo presidente Jair Bolsonaro para ser seu nome “terrivelmente evangélico” no Supremo. Mas a aprovação do pastor presbiteriano se arrastou por cinco meses no Senado por iniciativa do presidente Comissão de Constituição e Justiça, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que boicotou a indicação. A confirmação de Mendonça por 47 votos a favor a 32 contrários —era preciso a aprovação de no mínimo 41 dos 81 senadores— foi tida como uma vitória da bancada evangélica. Houve uma forte articulação nos bastidores junto aos senadores.

A comemoração de Michelle recebeu críticas nas redes sociais daqueles que consideram como um sintoma da interferência da religião na vida pública brasileira. Alguns também demonstraram seu espanto e sua inconformidade com as imagens. Isso porque, ao ser confirmado para a vaga de Marco Aurélio Mello no STF, o próprio Mendonça resumiu o momento como “um passo para um homem, um salto para os evangélicos”. Em sua etapa como ministro da Justiça, Mendonça utilizou a Lei de Segurança Nacional para perseguir opositores do Governo. Um teste de fogo para ele é esperando em seus primeiros meses na Corte, quando deve dar o voto de desempate no julgamento que analisa se detentas transexuais e travestis podem ter o direito de escolher se querem cumprir pena em presídios masculinos ou femininos. Na sabatina no Senado, ele se comprometeu a defender os direitos conquistados pela comunidade LGBTQIA+ e afirmou que deixaria seus princípios religiosos de lado para, por exemplo, votar a favor da união civil igualitária.

Mas tanto apoiadores de Bolsonaro como religiosos e setores progressistas apontaram que as críticas ao vídeo também evidenciam o preconceito e intolerância religiosa contra os evangélicos —não raro vistos como uma população que pensa e age igual no campo da política e dos costumes. Algumas postagens na internet também ridicularizaram a comemoração da primeira-dama. Uma das autoridades que se pronunciou sobre o assunto foi o prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes (PSD), que não é aliado político do presidente. Ainda assim, ele afirmou: “Lamentável quantos posts, a partir dessa notícia [o vídeo], cuspindo preconceito contra a fé dos outros. São os mesmos que vivem reclamando de discriminação. Minha solidariedade à primeira-dama. Que ela possa manifestar sempre sua fé com liberdade”, afirmou ele.

As imagens também evidenciam que a indicação de Mendonça teve importância para o círculo íntimo do presidente e envolveu seus familiares. A questão ultrapassa o fator religioso, já que Bolsonaro é investigado no âmbito do inquérito das fake news e recentemente foi incluído no relatório do CPI da Pandemia, que atribui nove crimes ao presidente e pede seu indiciamento. Ter um fiel aliado no Supremo é importante para o clã Bolsonaro. Além disso, dos 2.000 processos que Mendonça deverá herdar de Marco Aurélio Mello, algumas pautas são sensíveis ao presidente. Entre elas está um pedido de investigação de Michelle pelos cheques depositados pelo antigo assessor da família presidencial Fabricio Queiroz —apontado pelo Ministério Público do Rio como operador de um esquema de rachadinha do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, hoje senador pelo Rio.

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