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Bolsonaro pede investimentos no Oriente Médio, enquanto Lula faz giro pela Europa

Presidente condecorou ditadores em viagem oficial a Dubai, enquanto petista foi aplaudido em evento de esquerdistas no Parlamento Europeu

O presidente Jair Bolsonaro em Dubai, nesta segunda-feira.
O presidente Jair Bolsonaro em Dubai, nesta segunda-feira.- (AFP)

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) viajou neste final de semana para o Oriente Médio, onde visita três países — Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Catar. Com o ministro da Economia, Paulo Guedes, Bolsonaro tenta atrair investimentos para o Brasil. O presidente chegou com uma comitiva de ministros no sábado a Dubai, nos Emirados Árabes, onde participou da Expo 2020, e de um encontro com investidores nesta segunda. Ele também entregou uma das principais comendas brasileiras, o Grande Colar da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, ao príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Mohammed bin Zayed. Nesta terça, segue para Bahrein, onde deve inaugurar a Embaixada brasileira na capital Manama.

A viagem de Bolsonaro coincide com o giro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta semana pela Europa, onde se reúne com diversos líderes de esquerda. O petista é a pedra no sapato de Bolsonaro para o ano que vem, como mostram as pesquisas, a um ano da eleição presidencial. Nesta segunda, Lula discursou durante um evento promovido por partidos de esquerda no Parlamento Europeu, onde arrancou aplausos.

Bolsonaro também foi celebrado em Dubai, onde pediu a empresários para aumentarem seus investimentos no Brasil nesta segunda-feira. Mas, foi notícia ao recorrer a dados falsos para apresentar o Brasil. Diante de uma plateia de investidores, afirmou que a Amazônia “por ser uma floresta úmida não pega fogo”, afirmando que os presentes deveriam conhecer a floresta. Na última sexta-feira, dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) mostraram mais um recorde de queimadas para o mês de outubro com 877 quilômetros de focos de desmatamento na Amazônia. Em alguns casos, a desflorestação precede as queimadas.

O ministro Paulo Guedes enalteceu que o Brasil está crescendo acima da média mundial, uma informação incompatível com a realidade. As projeções da Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico são de que em 2021, o Brasil crescerá 5,2%, e o mundo, 5,7%. Já em 2022 as taxas de crescimento do produto interno bruto (PIB) seriam, respectivamente de 2,3% e 4,5%. O otimismo de Guedes contrasta com o pessimismo do mercado brasileiro. Pesquisa semanal do Banco Central do Brasil com mais de 100 instituições financeiras revela uma projeção ainda mais modesta para o PIB brasileiro este ano, de 4,93%, e de 1% para 2022.

A agenda árabe de Bolsonaro segue até quinta-feira, quando ele retornará ao Brasil. Após visitar os Emirados Árabes Unidos ele ainda passará pelo Bahrein e pelo Catar, onde também homenageará autoridades locais. Sua disponibilidade com o mundo árabe contrasta com a reticência apresentada durante os encontros do G20, na Itália, e da COP26, na Escócia. No G20, Bolsonaro teve poucas reuniões bilaterais, e preferiu passear pelas ruas de Roma, após ficar isolado entre outros líderes mundiais. O presidente também não foi à Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021, deixando seu ministro do Meio Ambiente, Jorge Leite, como seu representante.


Já Lula aproveitou da rede de partidos progressistas alinhados ao PT para participar de uma série de encontros com dirigentes sindicais, parlamentares, empresários e acadêmicos na Alemanha, Bélgica, França e Espanha. Lula, que já foi recebido pelo futuro chanceler alemão Olaf Scholz, em Berlim, pelo vice-presidente da União Europeia, Josep Borrell, ainda se encontrará com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, será homenageado no Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po) e terá reuniões com lideranças políticas espanholas.

Nesta segunda, o petista participou de uma entrevista coletiva em Bruxelas, sucedida por um discurso no evento “Juntos durante a crise para uma nova agenda progressista”. Na ocasião, o petista criticou Bolsonaro por ter acabado com o Bolsa Família, reclamou que os pobres continuam pagando muitos impostos, prometeu aumentar a cobrança para os mais ricos e empenho em reduzir o desastre ambiental brasileiro que tem devastado a floresta amazônica.

Ao pedir que haja uma maior colaboração com os países em desenvolvimento, ele criticou o governo norte-americano. “É preciso lembrar também que os Estados Unidos gastaram oito trilhões de dólares nas guerras pós-11 de setembro. Quantia suficiente para eliminar a fome no mundo e preparar o planeta para lidar melhor com as mudanças climáticas. E que, no entanto, foi usada para causar a morte direta de mais de 900.000 pessoas em países como Iraque, Afeganistão, Síria, Iêmen e Paquistão”.

Quando perguntado duas vezes por jornalistas sobre os protestos contra o Governo de Cuba, do qual é um apoiador, e sobre a cassação de credenciais de repórteres da Agência EFE pela gestão de Miguel Díaz-Canel, Lula saiu pela tangente. Primeiro cobrou o fim do embargo dos EUA à economia cubana. Depois disse que não tinha se inteirado sobre as notícias locais e que, se necessário, mais tarde seu assessor daria uma resposta aos repórteres. Lula também encarou uma saia justa na semana passada, quando dirigentes de sua legenda celebraram a fraudada eleição da Nicarágua. O ex-presidente manteve o silêncio, e o PT retirou a nota apoiando a eleição nicaraguense.

O ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva durante discurso no Parlamento Europeu.
O ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva durante discurso no Parlamento Europeu.Ricardo Stuckert/Divulgação

Bolsonaro sem PL e Alckmin como vice de Lula

Mesmo fora do país, Bolsonaro e Lula precisaram responder a perguntas relacionadas às candidaturas deles. O presidente disse, por exemplo, que ainda não definiu se irá se filiar ao Partido Liberal, como havia sido anunciado pelas lideranças da legenda na semana passada. Em 2019, o presidente abandonou o partido que o elegeu, o PSL, tentou criar a sua Aliança pelo Brasil, mas não conseguiu. Promete que até março de 2021 ele teria um novo partido, mas ainda não encontrou uma que o abrigue.

No domingo, Bolsonaro e o presidente do PL, o ex-deputado Valdemar Costa Neto, se desentenderam em função de alianças que o partido já tem e que o presidente rejeita. O centro da celeuma é a eleição para o Governo de São Paulo. Costa Neto tem um acordo para apoiar um candidato do PSDB para a sucessão e João Doria (PSDB), e Bolsonaro diz que quer ter um nome próprio na disputa, além de que seu filho Eduardo Bolsonaro, deputado pelo PSL, comande a sigla no Estado mais rico e populoso do país. “Não vou aceitar em São Paulo o partido apoiar alguém do PSDB. Não tenho candidato em São Paulo, ainda. Talvez o Tarcísio [Freitas, ministro da Infraestrutura] aceite esse desafio.” O ingresso no PL será decidido dentro de três semanas, disse o presidente.

Já Lula precisou responder às especulações sobre a união com o ex-governador tucano Geraldo Alckmin, que poderia ser vice na sua chapa em 2022. “O meu partido vai ter candidato à presidência da República. “Eu tenho 22 vices, oito ministros da Economia quando eu nem decidi ser candidato”, disse ao ser questionado, garantindo que somente entre fevereiro e março ele vai decidir se será candidato. Em 2006, Lula e Alckmin se enfrentaram em uma dura disputa pelo Palácio do Planalto. “Não há nada que aconteceu entre mim e o Alckmin que não pode ser reconciliado. Política é como jogo de futebol, você dá uma ‘botinada’ no cara, depois vai tomar uma cerveja e se acertam”, declarou o ex-presidente.

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