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“Somos as pretas, os pretos, os índios e as índias que vamos derrubar o Governo Bolsonaro neste ano ou nas urnas”

Indígenas e negros lideram protesto em Brasília. Ato teve cânticos em idiomas nativos. Manifestantes pediam vacina no braço e comida no prato. Não houve estimativa oficial de público

Indígenas durante protesto contra Bolsonaro, em Brasília.
Indígenas durante protesto contra Bolsonaro, em Brasília.SERGIO LIMA (AFP)
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“Olhe para o lado e veja como somos diversos.” A frase dita do alto do carro de som por uma mulher negra durante o ato contra o Governo Jair Bolsonaro em Brasília neste sábado servia para chamar a atenção dos opositores do presidente que quem está na rua pedindo o seu impeachment era a representação de várias caras do Brasil ―enquanto os movimentos em apoio a ele costumam ser monocromáticos e com a intensa participação de homens. Organizado por mulheres do movimento negro, o protesto contou com a participação e discursos de dezenas de lideranças indígenas de diversas etnias. Algumas das falas e vários dos cânticos foram feitos em idiomas nativos.

Representantes da comunidade LGBT, simpatizantes de partidos de esquerda, além de membros de movimentos estudantis, de torcidas organizadas antifascistas, movimentos sociais da periferia, punks e de sindicatos estiveram na manifestação. Usando máscaras, todos se queixaram da má condução da pandemia de coronavírus pelo Governo Federal. Neste sábado, o Brasil superou a marca de 500.000 mortos pela doença.

“Somos nós, as pretas, os pretos, os índios e as índias que vamos derrubar este Governo neste ano ou no ano que vem, nas urnas”, afirmou Margarete Coelho, uma das representantes do movimento negro presente no ato. Em determinado momento, os manifestantes prestaram homenagens ao estudante Thiago da Conceição, de 16 anos, morto nesta semana com um tiro de cabeça dentro de casa na comunidade da Penha, no Rio de Janeiro, enquanto ocorria uma operação policial.

Durante as quase cinco horas de manifestação, os opositores entoavam gritos de “Bolsonaro genocida”, pediam a saída dos militares do poder civil, cobravam a demissão do ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) e pediam pela aceleração na vacinação contra o coronavírus por novas medidas para reduzir o número de famélicos no país – cerca de 27% da população têm algum tipo de insegurança alimentar. “Queremos vacina no braço e comida no prato”, diziam os manifestantes.

A vacinação no Brasil ainda anda lentamente, já que o Governo Bolsonaro demorou para adquirir imunizantes e não investe em propagandas massivas de orientação da população. Dados do projeto Our World In Data, da Universidade de Oxford, mostra que apenas 11% da população recebeu as duas doses da vacina. Sexto país mais populoso do mundo, com 220 milhões de habitantes, o Brasil ocupa a 71º posição entre os que mais vacinaram seus cidadãos.

O protesto deste sábado, o segundo contra o presidente em menos de um mês, não teve estimativas oficiais de público em Brasília. Nos discursos, oradores usaram um número claramente superestimado de que havia 40.000 manifestantes. Mas imagens aéreas feitas com o uso de drone deixam claro que o número era menor. Questionadas, a Polícia Militar e a Secretaria da Segurança Pública do Distrito Federal informaram que não estão mais fazendo este levantamento. Informaram apenas que não houve qualquer registro de violência ou crimes durante a manifestação.

Vista aérea da Esplanada dos Ministérios durante protesto contra Bolsonaro.
Vista aérea da Esplanada dos Ministérios durante protesto contra Bolsonaro.SERGIO LIMA (AFP)

Para alguns dos que estiveram no ato, o tamanho do público ou a impossibilidade de que Bolsonaro sofra um impeachment diante de um Congresso Nacional que o apoia, não demonstram uma derrota dos manifestantes. “Ainda que não derrube o Bolsonaro agora, é importante aumentar a força para o derrotarmos no ano que vem”, disse o aposentado Aldino Graef, 70. “Veja, nos Estados Unidos, bastou trocar o Donald Trump pelo Joe Biden que a situação já melhorou. Há mais vacinas e a economia começa a andar”, reforçou a professora Walkíria Lobato, 61.

Entre alguns dos opositores, também havia os que queriam se desvincular das cores vermelhas que no Brasil é praticamente uma marca registrada de partidos de esquerda ―como PT, PCdoB e PSOL― e que ainda predominavam no ato deste sábado. “Estamos aqui para retomar o verde e amarelo, que é de todo o povo brasileiro”, afirmou o estudante Álvaro Julião, 23.

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A tentativa de diversificar as cores também ficou exposta não só nas pinturas nos corpos das centenas de indígenas que participaram da manifestação, mas também nas maquiagens e nas roupas das drag queens que seguravam uma faixa com os dizeres: “O Brasil lascado! Fora Bolsonaro!”. O bordão foi ficou famoso por meio de Gilberto Nogueira, o Gil do Vigor, o economista gay e ex-participante do reality show Big Brother Brasil.

Entre os políticos que discursaram também estiveram o ex-ministro e ex-deputado Ricardo Berzoini, os deputados federais Pedro Uczai, Airton Faleiro e Érika Kokay (todos do PT), além de Talíria Petrone (PSOL). “Estamos nas ruas porque temos um presidente mais letal que o vírus”, disse Petrone. A coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sonia Guajajara, também discursou contra a mineração das terras indígenas, contra o aumento do desmatamento e o projeto de lei 490/2007, apoiado pela bancada ruralista e que inviabilizará a demarcação de terras indígenas. “A luta pela terra é a mãe de todas lutas”, disse Sônia no ato.

Conforme os organizadores, houve protestos em 400 cidades brasileiras. A expectativa deles é que novas manifestações sejam marcadas para as próximas semanas. “Se a vacinação avançar, queremos lotar esse gramado do Congresso Nacional. Aí quero ver dizerem que falta apoio popular pelo impeachment”, disse a enfermeira Mariana Castilho, 46.

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Protesto contra o presidente Bolsonaro, neste sábado, em Brasília.
Protesto contra o presidente Bolsonaro, neste sábado, em Brasília.ADRIANO MACHADO (Reuters)

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