Grandes canções de Bob Dylan que não viraram clássicos

Aniversário do músico norte-americano, que faz 80 anos, serve como pretexto para revisar composições que figuram no melhor do seu repertório, apesar de não terem alcançado a fama mundial

Bob Dylan completa 80 anos. Conheça oito músicas que marcaram sua carreira.
Fernando Navarro

Bob Dylan completa 80 anos nesta segunda-feira, 24 de maio, e dessas oito décadas passou mais de cinco como músico profissional, desde que em janeiro de 1961 viajou a Nova York para tentar realizar o sonho de ser artista. Um sonho que o levou muito mais longe do que poderia imaginar: antes de completar 30 anos, já era um líder musical indiscutível do seu tempo, uma referência artística e intelectual tão importante que muitos jogaram sobre suas costas o peso de toda a geração dos anos sessenta. Desde então, Bob Dylan não faz outra coisa senão tentar fugir desse mito em vida e lavrar uma impressionante carreira com mais de 40 discos gravados.

Por ocasião deste aniversário, propomos um percurso por algumas das melhores canções de Bob Dylan que não viraram clássicos. São composições com a grande marca de seu autor, mas que não costumam aparecer nas coletâneas de greatest hits (um conceito que não funciona para Dylan e não é tão real como no caso de muitos outros cantores de pop e rock). Dylan, é verdade, nunca foi um músico de grandes sucessos, embora um bom punhado de suas canções faça parte da trilha sonora do seu país, muitas delas transformadas em hinos imperecíveis. Por outro lado, é um dos artistas mais versionados da história. Boa parte desse vasto catálogo sonoro entrou para o acervo cultural norte-americano, com suas canções passando como tochas de geração em geração.

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As canções da lista a seguir nunca tocam no rádio, nem sequer nas emissoras dedicadas a clássicos do rock ou ao flashback apelativo. São faixas menos populares para o grande público do que as conhecidas Blowin’ in the wind, The times they are a-changin’, Like a rolling stone, Just like a woman, Knockin’ on heaven’s door, Hurricane e Mr. tambourine man. E, ainda assim, muitos dylanófilos poderiam dizer que as canções incluídas nesta playlist não têm nada a dever às citadas. São tão boas como seu cancioneiro mais conhecido. E são mesmo. O nível das canções selecionadas é igualmente destacado, mostrando a profundidade da poesia lírica e sonora de um músico que só responde às suas musas, sem ligar para modas ou interesses comerciais.

‘Bootlegs’ e descartes

O percurso vai dos seus primórdios até a última etapa. Das primeiras composições aparece a emotiva Man on the street, um descarte de seu primeiro álbum, mas depois incluído no primeiro de sua série de bootlegs. Uma canção que já mostrava a sensibilidade de Dylan em relação aos desfavorecidos e que conta com sua gaita, essa poderosa companheira de seus primeiros passos. A lista acaba com a esmagadora Cross the green mountain, que tão bem representa o Dylan idoso, obcecado por penetrar na memória dos EUA, rastreando a Guerra da Secessão e a perda da fé com um folk brumoso e uma voz narrativa áspera e profunda. Esta canção foi incluída no filme Deuses e generais.

Estes dois outtakes (descartes), junto com fantástico Blind Willie McTell, são canções que ampliam o perfil escorregadio e fascinante de Dylan. A partir daí, a lista inclui canções editadas em álbuns oficiais. Músicas que traçam sua evolução como a voz política do movimento folk do Greenwich Village até o veterano compositor que traçou seu próprio mapa dos sons de raiz do século XX norte-americano, passando pelo posto avançado do rock, o cirurgião sentimental impressionista, o cristão fundamentalista e a estrela perdida nos anos oitenta. Em todas as etapas, como em todos os Bob Dylans, há sempre a possibilidade de encontrar pérolas. Ouça esta lista. Sem pressa, com os ouvidos atentos, contemplando cada detalhe, fazendo da música algo importante por um momento na sua vida. Só por joias como Corrina, Corrina, Love minus zero, New morning, Simples twist of fate, Is your love in vain?, Jokerman, Ring them bells e Workingman’s blues#2 já dá para notar que esse sujeito arisco e cínico chamado Bob Dylan soube tocar como poucos a profundeza da alma humana.

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