Falta de oxigênio eleva preocupação com colapso em São Paulo
Pacientes da UPA Ermelino Matarazzo, na zona leste da capital, foram transferidos na noite de sexta por ausência de insumo. Secretário da Saúde fala em falha de fornecimento, mas empresa nega
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Nem mesmo São Paulo, a cidade mais rica do Brasil, está imune à falta de oxigênio nos hospitais que tratam pacientes com covid-19. A prefeitura da capital paulista relatou neste sábado que 10 pacientes tiveram de ser transferidos na noite anterior da UPA Ermelino Matarazzo, na Zona Leste, por causa de falta do insumo. O secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, chegou a declarar ao jornal O Globo que o problema ocorreu por falta de fornecimento por parte da White Martins. Em nota, a empresa rebateu o secretário dizendo que não faltou oxigênio, mas sim “planejamento adequado” de UPA em São Paulo. Tanto o Estado como a Grande São Paulo registram uma ocupação dos leitos de UTI superior a 91% e estão em fase emergencial, com somente serviços essenciais funcionando.
A troca de acusações entre o secretário e a White Martins revelam um descompasso entre a Prefeitura de São Paulo e a principal fornecedora de oxigênio do país no momento mais agudo da pandemia. Aparecido relatou que o consumo de oxigênio na rede municipal de saúde triplicou de janeiro para março, de 55.000 metros cúbicos diários para 178.000. Na tarde deste sábado, a Secretaria da Saúde voltou atrás ao garantir, por meio de uma nota, que o insumo não chegou a acabar. A pasta relatou que sete pacientes foram transferidos da UPA Ermelino Matarazzo para o Hospital Municipal Professor Waldomiro de Paula (Itaquera) e outros três para a AME Luiz Roberto Barradas Barata, para que seguissem normalmente seus tratamentos.
Ainda de acordo com a pasta, a empresa fornecedora fora alertada durante toda a sexta-feira sobre o baixo nível de oxigênio na unidade. “As equipes médicas fizeram o monitoramento do estoque e tomaram decisões rápidas e adequadas ao transferir os pacientes”, explicou. A maior dificuldade no momento é logística, “já que as UPAs passaram a ser abastecidas mais de uma vez ao dia”, ao invés de uma vez por semana, como costumava ser, explica a pasta.
A White Martins se defende ao negar que o problema seja o fornecimento de oxigênio e que não faltou insumo para a UPA Ermelino Matarazzo. A empresa também ressalta que já notificou a UPA sobre a necessidade de informar previamente qualquer incremento de consumo do produto para que seja possível adequar equipamentos. E aponta para a falta de planejamento da Secretaria da Saúde. Por meio de nota, garante que vem alertando “exaustivamente seus clientes sobre os riscos envolvidos na transformação de unidades de pronto atendimento em unidades de internação para pacientes com covid-19 sem um planejamento adequado”.
A empresa fornecedora também afirma que “muitas unidades não possuem redes centralizadas com a dimensão adequada para expansão do consumo, agravando demasiadamente a condição de fornecimento de gás para suportar ventiladores, inaladores e outras práticas terapêuticas”. E explica que essas condições “interferem na pressão necessária para alimentar os ventiladores utilizados em pacientes críticos, o que leva à percepção equivocada de que há falta de gás”. Somente na UPA Ermelino Matarazzo o consumo aumentou exponencialmente de 89 metros cúbicos por dia em dezembro para 1.453 metros cúbicos por dia em 18 de março. Um dia depois, a UPA teria consumido todo seu suprimento primário de oxigênio e o sistema iniciou automaticamente o uso da central reserva de cilindros.
Falta de leitos e de insumos
Seja como for, São Paulo flerta com o quadro que foi vivido em Manaus. A capital do Amazonas assistiu em janeiro ao colapso de sua rede hospitalar pela falta de oxigênio. É um reflexo da piora da pandemia em todo o país, com a maior parte das capitais dos Estados registando saturação em seus hospitais. Um levantamento da Frente Nacional de Prefeitos indica que o oxigênio está prestes a acabar em pelo menos 76 municípios de 15 Estados. O cenário é dramático não só na rede pública. Relatos indicam que os hospitais privados vivem uma “situação de guerra”. Parte das unidades já se encontra no limite de internações em leitos de UTI e filas de pacientes aguardando transferência para outros hospitais privados.
Além da falta de vagas, na última semana o sistema hospitalar se deparou com uma ameaça para o funcionamento dos leitos já existentes: a escassez de medicamentos para a intubação de pacientes com covid-19, sem os quais fica inviável colocá-los em ventilação mecânica invasiva para ajudá-los a respirar. Só há estoques suficientes para os próximos 20 dias no país nos SUS, um problema que governadores alertam em carta ao Ministério da Saúde em que pedem importação emergencial dos remédios.
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