Candidato de Bolsonaro e do PT, Rodrigo Pacheco é eleito para a presidência do Senado

Senador contou com o apoio de um grande arco de siglas. Alinhado ao Planalto, sucessor de Alcolumbre disse que vai procurar equipe de Guedes para conciliar teto de gastos e programas sociais

O senador Rodrigo Pacheco conversa com a imprensa em 21 de janeiro.Roque de Sá (Ag. Senado)
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O presidente Jair Bolsonaro conseguiu uma importante vitória na câmara alta do Parlamento nesta segunda-feira, com a eleição do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), 44, para o comando da Casa. Não foi uma grande surpresa: além do mandatário, o vencedor contou com o apoio de seu antecessor e correligionário de partido, Davi Alcolumbre, e até mesmo do PT. Pacheco foi eleito ainda no primeiro turno do pleito, com 57 votos de um total de 78 — dois senadores não compareceram por motivo de saúde e um terceiro está afastado. Pacheco comandará o Senado pelos próximos dois anos. Em segundo lugar no páreo ficou Simone Tebet (MDB-MS), que viu sua candidatura desidratar após ser rifada pelo próprio partido em troca de cargos na mesa diretora e a presidência de comissões de destaque. Jorge Kajuru (Cidadania-GO), Major Olímpio (PSL-SP) e Lasier Martins (Podemos-RS) retiraram suas candidaturas no dia do pleito e declararam apoio a Tebet, mas não foi mais um protesto do que um movimento para mudar o resultado.

Antes da votação Pacheco tentou tranquilizar os colegas, uma vez que tem sido alvo de críticas por ser o candidato apoiado por Bolsonaro. Alguns senadores manifestaram contrariedade com a relação de proximidade entre Pacheco e o Planalto, e existe o receio de que o Senado se torne um “puxadinho” do Executivo. “Asseguro com a força do meu ser o desejo de independência de todos os poderes da República”, disse. De acordo com ele, não haverá nenhuma “influência externa sobre a vontade dos senadores”. Minutos antes, o colega Lasier Martins havia disparado contra Pacheco, alegando que a liberação de emendas por parte do Governo Federal para os parlamentares aliados era “compra de votos”. Tebet também usou este argumento em suas considerações finais antes da abertura das urnas, afirmando não ter “cargos ou emendas extraordinárias a oferecer aos senhores, o que tenho a oferecer é um trabalho conjunto a favor do Brasil”.

A eleição de Pacheco contou com uma forte articulação de Alcolumbre. Após ter seus planos de disputar a reeleição frustrados pelo Supremo Tribunal Federal no final do ano passado —apoiada na Constituição, a Corte barrou um segundo mandato seguido para a presidência do Senado e da Câmara—, o democrata se empenhou em emplacar um sucessor. Costurou apoios buscando ampliar o arco de alianças para viabilizar o nome de Pacheco, atraindo PSD, PDT, PP, Rede, PL e outros. O PSD, por exemplo, embarcou na candidatura de Pacheco após a promessa de que ele não disputaria o Governo de Minas Gerais em 2022 —a sigla tem interesse em um nome próprio para o Estado—, como contou o repórter Afonso Benites.

Se do ponto de vista político a vitória de Pacheco pode ser comemorada pelo Planalto, especialistas apontam que ela simboliza uma cisão entre o presidente Bolsonaro e parte de suas promessas de campanha. A aproximação com o Centrão, o bloco de partidos a quem ele já havia se referido como “o que há de pior na política”, havia começado já em 2020 com o oferecimento de cargos e emendas em troca de apoio no Legislativo. Mas marca uma inflexão na carreira de Bolsonaro em 2021, quando o presidente se encontra acuado por dezenas de pedidos de impeachment, pela pandemia e com uma tropa de choque ruidosa mas pouco numerosa e efetiva dentro do parlamento. Neste cenário o mandatário precisou se render de vez à “velha política” que garantiu governabilidade ao Executivo praticamente desde o início da Nova República ―e que ele sempre criticou abertamente.

De atuação discreta no Senado, Pacheco, que é advogado e já integrou o MDB, foi relator do polêmico projeto de lei de Abuso de Autoridade, considerado pelos lavajatistas como uma desforra do Legislativo contra a operação. Seu parecer, no entanto, foi suavizado após conversar com representantes do Ministério Público. Ele também foi presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados em 2016, quando o então todo-poderoso Eduardo Cunha teve o mandato cassado após mentir durante a CPI da Petrobras sobre ter contas no exterior. Nesta época ele chegou a ser acusado pela oposição de atrasar votações de denúncias contra o então presidente Michel Temer para fazê-lo ganhar tempo.

Já sentado na cadeira da presidência da mesa diretora, Pacheco afirmou que agora “não existem mais candidaturas nem divisões”. Em discurso sem máscara, ele conclamou o país a “lutar contra esta terrível pandemia da covid-19”, e disse que cabe o Senado “propor e sugerir alternativas para geração de emprego no país” em meio à crise. Em um aceno à oposição, ele se propôs a criar o cargo de “liderança da oposição”, para dar voz “aos parlamentares que não se sentem representados pelo Executivo, seja esse ou algum outro”.

Para viabilizar seu nome na disputa o senador fez gestos de aproximação com o Planalto: logo após Bolsonaro dizer que o regime democrático depende do “desejo das Forças Armadas”, o parlamentar fez questão de botar panos quentes, e afirmou que o mandatário não representa risco para as instituições. Ele também sempre evitou falar sobre a viabilidade de um impeachment contra o presidente. Em seu discurso nesta segunda, Pacheco prometeu que, como presidente do Senado, irá procurar a equipe econômica para buscar uma conciliação entre o teto de gastos e a necessidade de manter e ampliar programas sociais em meio à pandemia.

Com uma série de medidas para minimizar aglomerações —dentre elas quatro urnas espalhadas pelo Congresso— a eleição para a presidência do Senado começou às 17h10, e a votação foi encerrada apenas às 18h37. Parte dos senadores optou por votar na área externa da Casa, próximo à chapelaria. Mesmo no plenário, os parlamentares foram convocados um a um para votar, tornando o processo mais lento.

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