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Monica de Bolle é a nova colunista do EL PAÍS

Embora seja PhD em economia, a professora não se considera economista, e pretende abordar em sua coluna a junção de várias temáticas, da geopolítica à saúde pública

A economista Monica de Bolle, professora da Universidade Johns Hopkins e pesquisadora do Instituto Peterson
A economista Monica de Bolle, professora da Universidade Johns Hopkins e pesquisadora do Instituto Peterson

Pelo hobby de ler bula de remédios desde os oito anos, descobriu cedo que queria ser médica, mas a realidade do país e da família inviabilizou o sonho de criança. Em 1990, a morte do pai, vítima de um câncer, a obrigou a mudar de planos. Para conseguir estudar e trabalhar, a fim de ajudar a mãe com as contas de casa diante da crise deflagrada pelo confisco do Plano Collor, desistiu da medicina e cursou economia. Foi estudar fora, virou PhD, professora e pesquisadora. Mas não abandonou sua paixão pela área da saúde. “Nunca deixei de estudar medicina. Sempre foi minha vocação”, conta Monica de Bolle, que estreia nesta segunda-feira sua coluna no EL PAÍS.

Leia a coluna
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Nascida no Rio de Janeiro, Monica Baumgarten de Bolle tem 48 anos e vive em Washington, nos Estados Unidos, onde é professora da Johns Hopkins University e pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics. Pela identificação com a área da saúde, também tem cursado especializações na Harvard Med School. “Era autodidata em medicina e agora mergulhei de vez nesse campo de estudo. Estou montando um novo curso que é uma interseção de economia, ciência política, medicina e saúde pública. Nessa mistureba aí, uma coisa que sobressai, ainda mais nesses tempos de pandemia, é o tema da desigualdade social”, explica.

Leia entrevistas de Monica de Bolle
A economista Monica de Bolle, professora da Universidade Johns Hopkins e pesquisadora do Instituto Peterson
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“Apesar das boas intenções, o Governo Temer é muito frágil”

O combate às desigualdades acompanha os estudos e pesquisas de Monica desde a época em que optou por se especializar na London School of Economics, pelo fato de abordar economia sob uma perspectiva multidisciplinar. A formação contribuiu para sua experiência no FMI, trabalhando com relações multilaterais, e a moldagem de suas convicções liberais. “Usando uma expressão arendtiana, o liberal no Brasil não consegue pensar sem corrimão. Mas o próprio exercício de pensar exige que se largue o corrimão”, afirma a colunista. “O liberalismo à brasileira é dogmático, a deturpação do que é ser liberal. Um liberal nos termos clássicos abraça todo tipo possível de pauta progressista. Um liberal clássico, antes de tudo, é uma pessoa que luta contra as desigualdades. Na cabeça de um liberal à brasileira, o John Stuart Mill [filósofo e economista britânico] seria considerado um supercomunista por defender o papel ativo do Estado para reduzir desigualdades.”

Apesar dos títulos acadêmicos, Monica de Bolle não se considera economista, tampouco pretende escrever uma coluna sobre economia. “Quem fala só de economia, fala só das mesmas coisas. Por isso, não conheço pessoas que leiam coluna de economia. Geralmente, é chato e monotemático”, brinca, antes de exemplificar, de acordo com sua visão, como as relações econômicas vão muito além dos números. “Na pandemia, as pessoas mais atingidas e suscetíveis ao vírus são as de condições financeiras mais baixas. Uma prova de como a desigualdade torna as camadas socioeconômicas inferiores mais vulneráveis a doenças que os ricos. Combinar diferentes disciplinas é fundamental para se repensar as desigualdades ou prever como as campanhas de vacinação podem refleti-las. Não existe economia sem interação com as outras ciências sociais.”

O pai de Monica era economista. Antes de morrer, tentou demovê-la da ideia de se enveredar pela medicina. “Ele pediu para a filha de um amigo, que trabalhava no hospital Pedro Ernesto [mantido pela UERJ], para me levar um dia e mostrar a dura rotina de um médico. Eu vi até cirurgia cardíaca. E achei aquilo uma coisa fabulosa. Meu pai ficou desesperado”, recorda. A incursão tardia na área da saúde lhe apresentou um ambiente mais acolhedor, com mulheres em maior proporção. “A interlocução é mais fácil e natural, já que a economia continua sendo uma área muito ingrata com as mulheres. A maneira de se pensar e elaborar o raciocínio é masculina. Um ambiente predominantemente machista. Como mulher, eu me reposicionei de uma forma que facilita minha voz chegar a alguns lugares.”

Entusiasmada com a nova coluna, Monica de Bolle promete aos leitores a abordagem de diversos temas, sobretudo no que diz respeito aos desafios impostos pela pandemia de covid-19. “Eu adoro o EL PAÍS. É o único jornal que consigo ler no Brasil”, diz. “Encaro como um privilégio estar nesse local. Quero mostrar a visão que eu tenho sobre como as coisas vão se desdobrar daqui pra frente, como o ineditismo do que estamos vivendo demanda políticas públicas para sustentar as pessoas e a economia. E, consequentemente, dar minha contribuição sobre como podemos passar por tudo isso de uma forma mais suave.”

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